Balas no Cinema (miniconto)

“Primo Antonio você vai ao cinema? Você pode me levar, também?” Um filme sobre a pirataria programado no cinema da cidade coloca a jovem em êxtase, afinal, durante o seu tempo disponível lê tudo e assiste tudo sobre os facínoras do mar. A bandeira negra contendo o esqueleto do crânio e as duas tíbias cruzadas sempre a impressiona. Têm predileção pela história de Edward Teach. Sua bandeira assusta a quem navega pelo seu caminho. No alto do mastro, o diabo pintado de branco aponta a lança para um coração escarlate esvaindo em sangue. Conhece toda a crueldade imposta por Barba Negra aos seus abordados. Sua habilidade na luta com um alfanque impressiona até mesmo sua tripulação. Barba Negra com uma pistola em cada mão atira. O navio coberto dos corpos dos espanhóis forma um tapete de carne rubro de sangue aos seus pés. Intervalo! “Nossa! Agora na hora mais emocionante do filme acontece o intervalo?” Antonio levanta, se espreguiça. ”Vou comprar balas”. O filme recomeça e Antonio lhe entrega um pacote de bala Chita, sabor hortelã. Barba Negra decepa a cabeça de um espanhol e a bala é desembrulhada. Ardida! O fogo sob pelos convéns do galeão. Outra bala. Uma hora de filme. “Prima fique com o resto das minhas balas”. O ataque corpo a corpo impressiona pela coragem e determinação. Outra bala é devorada. No mastro corpos enforcados. Terror. Outra bala. Final do filme. Duas dezenas de balas consumidas. Sente sua boca amortecida pelo gosto adocicado da bala do papel verde. O símio em suas mãos ri para ela! Primo Antonio sai apressado! Foi ao banheiro. E, ao seu lado o bonitão da bala Chita levanta e lhe dá uma piscada.