O HOMEM QUE POR TODA A VIDA   
                           ADOROU  UMA ESTRELINHA
 
 
     Existiu em nosso meio um homem que, ao logo de toda a sua vida, foi fascinado por um pontinho de luz que ainda hoje pode ser visto no infinito a milhões de anos luz da terra firme.

     Gostava tanto daquele minúsculo pontinho luminoso, que adorá-lo tornou-se uma idéia fixa. Ele imaginava que era de lá que lhe vinham energias positivas sem as quais não poderia viver. Entendia que seus impulsos de amor e solidariedade para com todos provinham daqueles brilhos tão distantes em termos físicos. E ele era um homem bom, amoroso, sonhador, criativo, capaz de se desfazer de todos os seus bens em benefício daqueles que a ele acorriam em necessidades. Tinha um dom especial que lhe emprestava o poder de se expressar em contos de amor. Amava aos seus semelhantes guardando deles apenas as recordações que os edificavam. Mas em sua alma, seu único e verdadeiro amor era dedicado à estrelinha unicamente.

     Sua dedicação que perdurava por muitos anos não passou despercebida em sua família, a quem pareceu tão perturbadora que alguém resolveu submetê-lo aos préstimos de especialistas.

     Assim surgiram as mais diferentes observações a respeito.

     Alguém lembrou que não é de hoje que as estrelas fascinam pessoas de todas as partes do mundo. Afinal, quem não se emociona tendo olhos para ver o manto noturno bordado de estrelas cintilantes? As estrelas proporcionam aos apaixonados um cenário irresistível de bem querer e estimulam suspiros de amor. As estrelas enfeitam as noites de vigília de humildes pastores, tão carentes de companhia. As estrelas inspiram os cantores, os poetas, os escritores, muitos de renome, que ao expressarem seus sentimentos criam peças  literárias de raríssima beleza.

     Apareceram também aqueles que lembraram a importância das estrelas no desenvolvimento da astrologia ao longo de muitos milênios. Para os astrólogos, todos os seres que vivem na terra recebem influências provindas do infinito. Acreditam mesmo que as pessoas nascem para cumprir uma jornada que pré-existe e está integralmente escrita nas estrelas.

     E vieram aqueles que disseram sobre a importância das estrelas para objetivos humanos, como, por exemplo, as estrelinhas que servem de ponto de referência aos navegantes de alto mar e aos que viajam percorrendo as rotas de terra firme. Alguém lembrou, nessa linha, que estudando as estrelas os cientistas desenvolvem elaboradas teorias que poderão um dia chegar às explicações dos fenômenos que originaram não apenas o planeta em que vivemos, mas o próprio universo em toda a sua grandiosidade. Conhecendo a trajetória dos destinos das estrelas, podemos vir a conhecer o destino do universo.

     Pessoas de conhecimento bastante elevado trouxeram informações sobre estrelas de todas as dimensões, desde as gigantes às relativamente pequenas. Neste preciso instante há estrelas nascendo e há estrelas maduras vivendo na plenitude de seu fulgor, fornecendo raios de luz e energias de calor ao gigantesco milagre divino ao qual chamamos de universo. Há estrelinhas por nascer e há velhas e desgastadas estrelas em vias de perecer para sempre, mortas para a eternidade, mas permanecendo em forma de energias legadas a um mundo que há por vir trazendo benefícios e encantamentos a seres de um futuro tão belo e tão perfeito que nem temos como imaginar.

     Uma opinião bastante estimulante apareceu na palavra de um espírita, para quem o fascínio do homem pela estrelinha era sinal de que a luz refletia sua alma gêmea, a alma que deveria estar animando o corpo de uma mulher vivendo algures. Um laço de amor une pessoas por inúmeras encarnações. E unidas por esse laço invisível, duas pessoas não conseguem viver emocionalmente separadas e instintivamente empreendem buscas incessantes de uma pela outra.

     Depois de muitas opiniões, todas elas tendentes a dar razão e crédito ao homem que adorava a estrelinha, apareceu um sábio oferecendo um contra ponto.

     Para tal sábio o homem não passava de um tolo. Tão tolo que não sabia distinguir os pontos luminosos existentes no infinito. Aquele pontinho de luz que ele adorava não era e nunca fora uma estrela. Não era nem mesmo um engenho humano lançado ao espaço. Não era nada. Era apenas o reflexo de luzes estelares e como tal não tinha energia alguma. Era uma mancha, apenas.

     Diante de tal afirmativa cientificamente comprovada, era de se esperar que o homem reagisse em profunda depressão, envergonhado por haver passado a vida inteira adorando uma insignificante manchinha existente no céu de seu amor.

     Mas ele não se abalou. A qualquer momento em suas noites, podia levantar os olhos e ver aqueles brilhos tão fascinantes. 

     A qualquer momento podia sentir em seu coração o quanto aquele pequenino pingo de luz era importante ao bem estar de sua alma.
 
Lucas Menck
Enviado por Lucas Menck em 02/04/2010
Reeditado em 03/04/2010
Código do texto: T2173117
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