QUAL O PREÇO A PAGAR?

Um pecador perguntou a seu líder espiritual se após a morte todos iriam para o céu.

– Claro que sim, filho! Mas, lá chegando, poucos permanecem. Os que desejarem permanecer, antes, devem pagar um tributo aqui na Terra – respondeu-lhe o homem que, à cada instante, a distância o separava do interrogador.

– Mas, Mestre, qual é o tributo? – perguntou, ainda assustado e insistentemente, o seguidor.

Só que as suas palavras foram levadas com o vento; o homem não mais lhe deu ouvidos.

Triste, cansado e desiludido, o homem sentou-se em uma pedra à beira do caminho a mirar aquele homem que desaparecia na longa estrada.

– Qual o tributo, meu Deus?

Interrogava-se. Sentia-se perdido e assustado. Seria em relação à religião? Teria ele errado na escolha do seu Deus? Não. Isso certamente que não! Deus é ecumênico – pensou.

– Meu Deus, o que eu devo dar?

De ímpeto lembrou-se que deveria dividir os seus bens, mas como dividir, se nada possuía além das suas velhas vestes?!

Continuou a andar em busca do citado tributo e encontrou várias religiões e vários líderes que lhes pediam o pouco do nada que possuía.

Fora bom filho, bom amigo, bom esposo e bom pai. Um exemplo de honestidade, dignidade, enfim, tudo! O que faltava-lhe? Faltava-lhe, apenas, saber qual o tributo mencionado por seu líder.

Andou pelos quatro cantos do mundo, perdido à procura do que buscava. Nos seus momentos de tristeza não teve interesse em distribuir a sua frustração com seus semelhantes; continuou sim, fazendo o bem.

Com a velhice chegou a morte, que o pegou pelas mãos e o transportou a outra dimensão.

Chegou em um lugar não muito escuro; local que seria feita a distribuição. Alguns, no seu pretensionismo já imaginavam-se na luz; enquanto julgavam, em seus pensamentos, que os outros iriam para a escuridão.

E aquele homem que andava em busca da verdade que lhe falara seu mestre, para onde iria?! Assim que viu um dos seus ex-líderes, correu ao seu encontro.

– Mestre, Mestre, me ajude! Estou perdido. Andei durante a minha vida em busca de algo que não consegui descobrir. Não foi possível encontrar o que andei a procurar.

– Azar seu. Agora é tarde!

Foi a resposta.

Triste, desiludido e cabisbaixo o homem encostou-se num canto e começou a rezar. Não que tivesse antes deixado de rezar e pedir orientação Divina a fim de encontrar a verdade; não obtendo respostas, continuou com as suas orações e pediu perdão a Deus por não ter encontrado o que andava a procurar.

Ao levantar a cabeça deparou-se com um ex-líder, que fingiu não reconhecê-lo.

– Você não me conhece? Sou teu seguidor, lembra-se?

– Não. Eu não te conheço! – Falou, meneando a cabeça, afastando-se.

O homem voltou para o canto onde estivera e avistou outros líderes e tentou segui-los, mas, quando estes o viram, viraram o rosto alegando que ele os havia abandonado...

– Meu Deus, o que eu fiz que não me dediquei mais a sua procura?

Quando olhou para o lado, encontrou um velho que à distância o observava e ele pode reconhecê-lo. Correu em direção do mesmo, mas, imaginando ser repudiado, parou e sentou mais uma vez e começou a chorar; suas lágrimas escorriam dos olhos molhando sua face. O velho então seguiu em sua direção.

Assim que tocou-lhe a cabeça o ex-seguidor, espontaneamente falou:

– Mestre, me desculpe se eu te decepcionei. Pode repudiar-me, mereço teu repúdio! Não fui capaz de encontrar o que me mandastes.

– Filho, quem sou Eu para repudiar-te?! Quem sou eu para julgar-te?! Quem sou eu para...

Antes mesmo que o seu ex-líder espiritual continuasse a frase, ele falou:

– Mas Mestre, eu não consegui cumprir a tarefa; não consegui acertar o caminho em busca do tributo.

– Filho, você cumpriu a sua tarefa! Quando me chamaste a perguntar qual o tributo, fingi não ouvir-te, de propósito; o tributo que você estava a buscar, você o encontrou naquele mesmo instante em que começou a procurá-lo, pois o mesmo estava em você! O tributo era a busca da verdade; da fé, do amor e compreensão. Lembre-se: a salvação dos homens está nos gestos, atos e não nas palavras vagas e esnobes que comumente ouvimos.

Falando aquelas palavras, segurou a mão do homem que se deixou levar ao encontro de uma luz que, mesmo forte, não chegava a ofuscar-lhe os olhos e fazia com que a sua face brilhasse e, mesmo sem ter ouvido qualquer pronuncia, ele sabia que estava seguindo ao encontro da Vida Eterna, estava SEGUINDO EM DIREÇÃO AO CÉU!!!

Este trabalho está registrado na Biblioteca Nacional-RJ

carlos Carregoza
Enviado por carlos Carregoza em 27/11/2006
Código do texto: T302952