Lenda dos Lírios

Vou contar uma história almejando alcançar as dos tempos dos meus ancestrais, antiga e envolvente daquelas que não se faz mais.

Era uma vez um reino de donzelas imortais, coroado por flores e reinado pela paz. Não havia tristeza, morte, solidão e nem as maldades dos homens. As donzelas voavam livres conversando com os animais, banhavam-se nas cachoeiras e se alimentava de luz. Nesse reino encantando existia uma pequena flor branca, cuja pureza, perfume e beleza eram admirados por todos.

Era inadmissível tamanha beleza presa e imóvel, por isso rainha das donzelas, uma fada de beleza imensurável, decidiu dar liberdade à flor, que vivia num feio charco. Com sua magia mais poderosa, através de um ritual antigo e misterioso, a rainha transformou a flor numa linda e delicada fada, que ficou conhecida com fada do lírio. Sua pele era de um branco jamais visto que reluzia os raios do sol e da lua, os cabelos loiros com fios de ouro e os olhos negros como se guardasse os mistérios do universo. A alma tão pura como a flor, precisava ser lapidada para crescer com todo esplendor.

A recém criada fada voava pelo reino vendo as belezas jamais exploradas por ela. A cada descoberta a fada apaixonava-se mais e mais pela recente liberdade conquistada. Via dos pássaros, as borboletas, as árvores, os coelhos, via toda a natureza com uma admiração e felicidade jamais vista antes por aqueles pequenos seres mágicos.

A rainha da fada sentia-se feliz por ter podido propiciar alegria a tão lindo ser, e escutava os relatos da fadinha com espanto e emoção, nunca tinha pensando em quanto era lindo o reino, a naturalização de sempre ter visto tudo não permitia o encantamento com as maravilhas daquele mundo.

Certo dia a rainha das fadas chamou a fadinha do lírio e disse preocupada:

- Andas voando muito, indo muito longe. Tomas cuidado com o mundo dos homens, lá a maldade impera. Não deves nunca ultrapassar os muros do arco-íres.

A fadinha ingênua e crédula perguntou curiosa:

- O que é maldade? Por existe um mundo diferente do nosso? Porque esse mundo é pior? O que podemos fazer para ajudar os habitantes de tal mundo?

- Existem coisas que são como devem ser. Não há explicações para tudo. Você vive na beleza e na paz, não deves ter curiosidade pelas coisas que não interessam a sua vida. Não és feliz aqui?

- Sou muito, mas preocupa-me saber que existem outros seres que não o são. A felicidade deveria ser para todos.

- Não... Felicidade é para aqueles que a merecem. Os homens cultivam a maldade, não querem ser felizes.

- Eles não querem ou não sabem como o ser? Eu era uma flor presa e na minha condição de flor me sentia feliz, até que a senhora me deu a verdadeira felicidade...

A rainha pensou na indagação da pequenina fada e enxergando somente ignorância resolveu leva-la até o mundo dos homens para que pudesse ver com seus próprios olhos.

Iniciou-se então a jornada mais longa da vida da fadinha, longa e árdua. Voaram durante dias. Chuvas, raios e escuridão separavam os dois mundos. Com muita dor e sofrimento a fadinha e a rainha chegaram ao terrível mundo dos homens... O ar era pesado, sentia-se ódio emanado de tudo, as cores era foscas e as pessoas tristes e maltrapilhas. A pobre fada observava tudo com horror e lagrimas de luz caiam dos olhos dela... Sentia-se impotente vendo a triste realidade que assolava os homens.

A rainha penalizada pelo estado da fada falou:

- Já foi o bastante, tenho certeza que nunca mais ira sentir curiosidade de vir a esse mundo feio e triste. Vamos para casa.

- Não minha rainha, eu fico.

- Como? Você está doida? Ficar nesse inferno?

- Uma vez fui flor e vivia num mundo limitado. Outra vez fui fada e vivia num mundo encantado. Hoje quero ajudar esses seres tão pobres de espírito, não poderia viver feliz sabendo que existe seres tão infelizes. Tenho certeza que de alguma forma posso dar-lhe alegria e paz.

Admirada com tamanha abnegação, a rainha concedeu a fada que ficasse e juntas decidiram que a melhor forma de ajudar os homens era mostrar que existiam beleza e pureza. Para isso, a fadinha ganhou o dom de chorar sementes de luz que plantariam lírios na terra e nos corações dos homens da guerra...

Alíria Branca
Enviado por Alíria Branca em 22/05/2007
Reeditado em 22/05/2007
Código do texto: T496116