Missão (im)possível**~~

Deus estava a ver o filme da vida de uma de suas filhas... e interessou-se por um de seus dias.

Foi um dia em que um ponto minúsculo da Terra (dividido por mil outros pontos), chamou atenção de Deus, e este, tanto se comoveu que chamou a um anjo querubim para que observasse a triste cena que metralhava a sala do mestre de sofrimento e dor, choros e gritos abafados.

Logo após o querubim observar o filme que o mestre lhe mostrara, já antes de seu término o anjo chorava e soluçava, e perguntava a Deus indagações irrespondíveis.

A ordem era que o anjo descesse (em forma humana) no tempo em que esta cena fosse ocorrer, e tratasse de transformar aquilo tudo que sangraria o coração da moça e que havia já sangrado o do anjo.

Anjos, são muito sensíveis, algum de nós, se tivesse presenciado tal cena, e após dez minutos chegássemos a sofrer a indagação do que havíamos visto há exatos dez minutos atrás, nem se quer, talvez, nos lembraríamos, ao menos que alguns fossem anjos disfarçados de humanos...

Chegou o tempo, e o anjo desceu.

Sim, mas deve estar se perguntando: que danado de cena é essa que tanto emocionou ao Deus e ao querubim? Querido(a), a cena era uma moça, passara esta por seu platônico e inesquecível amor, e como os seres humanos têm livre arbítrio e o destino tem que acontecer, então, quando algum ser humano por sua razão e vontade foge da vontade de Deus, sofre as conseqüências do destino. E esta moça, encontrou e viveu o seu grande amor, e este por atitudes passadas teve que se desfazer da moça. Ao olhar do moço, aquilo era mais ético, e eu não sei se Deus aceitaria a outra opção que restava ao moço, mas, a moça, correu pra que esta segunda opção ocorresse, mas o moço... deve ter pensado muito, esquentado suas pestanas... sofrido, mas decidiu-se pela primeira opção, e ainda disse que era por amor.

Bem, o anjo foi enviado. Deus lhe disse (sei porque ele – o anjo- me contou): “Você é meu querubim em que mais depositei fidelidade, tem capacidade suficiente para dar a esta moça nova vida, mostrar-lhes como a mesma segue em frente, e segue bela. Vais aparecer em sua vida como um “raio cortando a escuridão” e não podes se apaixonar por ela. Entendeste querubim?”. O querubim me disse que respondeu assim: “Sim mestre, vou cuidar de sua filha, sei que estima por suas ‘crias’ e sei também que és ciumento!” Brincando respondeu, confiando em todos os dons que Deus havia lhe dado. Mas, Deus ratificou: “Não é por ciúme querubim, bem sabes de tua função, e quem és.” O querubim saiu tomado de verdades e foi.

Chegando, como raio, porém, foi visto discretamente como mais um frequentante da Terra. O querubim se chegou e conquistou a amizade da moça, e ficaram amigos, muito amigos.

Tenho que ressaltar de alguma forma a maneira inédita de como o querubim ganhou a confiança da moça (que havia se trancado para tudo e para todos). A moça tinha características do tipo: calada, monótona, arredia... Realmente era espantoso para o anjo (que já sabia do freqüente e normal comportamento da moça), como conseguira chegar a ser tão... bem, é indescritível dizer o que o anjo se tornou para a moça. E também, para a moça, tornava-se bastante intrigante pensar no elo que os dois acabaram construindo, tornava-se intrigante para ela... a confiança, o amor, carinho, cuidado... que já depositara no tal amigo.

Sei que, o anjo entendia a moça, de uma forma, que nem tudo ele perguntava, pois via em seus olhos. Sei que a moça passou a falar a língua do seu amigo, e mal ela sabia que aprendera a se comunicar com anjos.

Tudo os amigos faziam juntos, e nos momentos de dor, ali estavam, um para o outro, sei que nos momentos de alegria, ali estavam, um para o outro, sei que nos momentos de tensão, ali estavam, um para o outro, nos momentos de sorte, nos momentos de rebeldia, de deselegância, de estímulo, de baixa auto-estima... nos momentos de dúvidas, de insegurança... ali estavam, um para o outro, com amor.

E o anjo foi devagar, mostrando para a moça que o ser humano tem livre arbítrio e isso atrapalha o destino, e que isso era normal, restava a ela saber lhe dar com isso, porque talvez ocorresse novamente. E a moça foi se “entregando sem saber”, e o anjo... “abrindo portas sem sair”.

Sei que muito foi o tempo que Deus teve que destinar para o anjo deixar a moça curada, e depois quis trazê-lo, porém, o querubim pediu mais tempo com a moça, alegando que a mesma ainda não estava curada, que ficaria, agora, de mais distante, em observação para qualquer coisa cuidar da protegida. A moça sofreu a distância, mas era necessário.

Mal percebendo o anjo que estava completamente apaixonado, permaneceu, como havia dito ao seu Senhor: distante, em observação.

Deus percebendo que as atitudes do anjo caracterizavam-se apaixonadas, enviou à moça um homem, um homem que passou a lhe amar muito... e a moça parecia tentar resistir, mas Deus havia dado forma humana ao anjo e agora este tomava-se da vantagem do “livre arbítrio”, e Deus decidiu (talvez), apressar o destino da moça.

A moça acabou por querer viver esse novo amor, talvez sofrendo muito, sem entender o motivo, mas pensando que amigos são amigos, e somente amigos.

Enfim, o anjo por vontade própria solicitou a Deus que lhe levasse de volta para as alturas, e para a sua condição de anjo querubim, e Deus o ouviu.

Antes do anjo partir, alguém falava com a moça, e então o anjo tomou o corpo de quem estava a lhe falar e disse à moça: “vem a minha procura, estou por ir-me, preciso antes olhar-te os olhos, meus espelhos.”

A moça reconheceu a voz do estimado amigo e buscou notícias. Tomando ciência de onde estava, partiu. O anjo encontrava-se em uma cama, sem diagnósticos, médicos confundidos, pertubados... A moça aproximou-se, e o anjo de olhos fechados sentiu seu cheiro e solfejou seu nome. Emocionaram-se. Entreolharam-se. Cheiraram-se. E então, o anjo disse: “Somente tu saberás quem sou de verdade, somente a ti vou revelar minha presença neste planeta - a moça olhava confundida -, eu sou um anjo, um querubim, vim para cuidar de ti, Deus já tomava conhecimento do que passarias após perder aquele teu companheiro a quem tanto amas ainda. E era tão grande o amor que grande foi a tua dor e a compaixão de Deus, teu pai, para contigo, por isso vim. Mas, em minha missão, falhei, me apaixonei por ti e isto não poderia acontecer. Mas querida, me entrelacei dentre teu corpo e teu coração, passei a tê-lo, parte, em mim. Agora, se ainda não sabes, te digo: nós somos um só, mas tenho que te/me deixar, minha missão foi cumprida, mas nula, porque vais continuar a sofrer, e meu Senhor não mais confiará em mim. Mas saiba uma frase que sempre quis que ouvisse olhando em meus olhos e percebendo o balbuciar de minha boca: “Te amo ainda mais meu amor, quando olho nos teus olhos”, jamais se esqueça de mim, e igualmente ocorrerá comigo. E um dia, quando Deus te chamar para onde já tenho que ir, grite por mim, pelo meu nome, e irei até ti, por mais longe que estejas, sentirei tua presença e ao me chamares saberei que ainda me queres. Na casa de meu pai, há muitas moradas, ele certamente que deixará eu te amar e ser amado.” O anjo, citava essas palavras, e parava de vez em quando, já estava na hora dele ir, mas sua alma por insistir cansava o corpo, sabe? Uma cena triste mesmo de se ver. E a moça? Ah, a moça se debruçou em lágrimas, e também confessou seu amor pelo anjo dizendo: “Se tens que me deixar, que seja então assim. Saiba que muito é o amor que tenho por ti, jamais te esquecerei, gravado está nosso monograma em meu coração. Serás sempre parte de mim, e minhas lágrimas serão prova de minha intensa e dolorosa saudade todas as vezes que eu lembrar de teus olhos nos meus, de teus abraços, de teus beijos, de tua inocência... sim, e agora posso ver o porque de tanta inocência, jamais tinha visto nivelado olhar. E isso em ti amor, foi o que mais me apaixonei em ti, e assim eternizar-se-á. E a frase que sempre quis dizer, olhando em teus olhos, digo: ‘Agora posso ser seu anjo, seus segredos sei de cor, pro bem, pro mal, você me tem não vai se sentir só, meu amor.’” Findou a moça sua réplica, e olharam-se pela última vez. O corpo cerrou os olhos e o anjo partiu.

Todos estavam ali, todos os que desde quando o anjo ainda pequeno, cuidava de suas quedas, de sua educação... o anjo tornara-se um verdadeiro ser humano.

[[ RECONSTITUIÇÃO:"(...) E o anjo foi devagar, mostrando para a moça que o ser humano tem livre arbítrio e isso atrapalha o destino, e que isso era normal, restava a ela saber lhe dar com isso, porque talvez ocorresse novamente." ]] O anjo ensinou a moça como se reerguer deste tipo de situação. Foi descansado, guardando à memória os olhos, os olhos da moça.

A sala tomou-se de gritos chorados.

O anjo seguiu seu caminho e a moça... a moça continua seguindo o seu, continua sabendo como falar a língua dos anjos, e é bem capaz mesmo, que ao “morrer”, chegue aos céus gritando por seu nome.

Anjos como estes, existem muitos e sempre deixam reminiscências memoráveis, carregadas de saudades...

Nathanaela Honório
Enviado por Nathanaela Honório em 01/06/2007
Reeditado em 01/06/2007
Código do texto: T509927
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