O Recanto

O bosque se tornava mais denso a cada hora de caminhada, as árvores mais altas escondiam a luz da lua, e por instantes me forçava a parar para acostumar os olhos a penumbra. Levava às costas uma mochila leve de lona amarela, de uma alça só, com alguns itens de andarilho; um lápis , um bloco de anotações, água, canivete, fósforos, duas laranjas, pão e castanhas. Toby ( o cão), me seguia curioso, abanando o rabo, parecia saber , os cães sempre sabem.

A beira do lago um grande chalé ,e quando me aproximei percebi que estava abandonado, teias de aranhas nas portas e varanda, e muitas folhas pelo chão, então senti um arrepio pelos braços, e achei melhor entrar e ver se havia uma lareira para me aquecer. Havia, então me aninhei no calor , sentado no assoalho, e Toby deitou-se ao meu lado cochilando sobre as patas dianteiras.

No andar de cima ,subindo pela escada de peroba ,bem acabada, vi que haviam várias habitações, como alcovas, algumas escuras ,estranhamente sem janelas e tristes , outras claras e ventiladas, onde o sol parecia morar, em outra me senti tão bem que resolvi me deitar no chão e olhar o teto por um longo tempo, enquanto os pensamentos saltavam água à fora, feito golfinhos. Pensei ; " Que lugar singular... que magia envolvente, parece que todas as emoções estão concentradas, quanta energia junta, é difícil de entender...".

No fim do corredor um quarto grande, com apenas uma mesa de carvalho , e uma estante de vidro com muitas folhas de papel, bem alinhadas em resmas, e quando peguei uma, notei que estavam adornadas em filigranas douradas, não resisti ao impulso de escrever, e escrever sem sentir o tempo passar, até que o Toby me chamou com a pata na minha perna, certamente estava com fome. Ao sair li escrito na porta , " sala da vida".

Em outra sala, nomes escritos nas paredes, o que me chamou a atenção, pareciam assinaturas que chegavam ao teto, então li; Clarice Lispector, Dumas, Dickens, Hemingway, Fernando Pessoa, Drummond, Machado de Assis, Camus, Julio Verne , Balzac, V.Hugo, Cervantes..." Meu Deus, eles estiveram aqui...", fiquei de queixo caído, mal podia acreditar , era real.

Antes de partir, me achei na obrigação de retribuir todo aquele encantamento, então tirei o pó, varri todo o chão, juntei uma medida de lenha na lareira, e quando varria as folhas caídas , encontrei uma placa que em letras vermelhas dizia : " Recanto das letras".

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 21/01/2016
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