Lenda da Vitória Régia

Há uma lenda indígena muito bonita sobre a Vitória Régia, que a meu ver todos deveriam conhecer. Mas armada da liberdade literária vou criar uma nova lenda, vinda da entranhas do meu ser. Com a licença da Deusa Flor, conto aqui uma nova origem para ela, não mais será o amor pela lua que a criará.

Num tempo remoto para essa sociedade, quando essas terras eram plenamente florestas e a natureza viviam com harmonia com os homens, havia um povo muito pacifico e feliz que vivia nas margens de um esplendoroso rio (que chamamos hoje de rio Amazonas).

Esse povo caçava e colhia somente o que precisava para sobreviver, cultivavam um respeito enorme pela natureza e via nela seus deuses.

Certa vez, o grande pajé da aldeia fez um pressagio estranho e que por muito tempo não foi compreendido:

- Nascerá uma flor do ventre de uma mulher, a flor menina surgirá como um sonho e será a Deusa Flor que nos trará proteção e fartura.

Nenhum integrante da aldeia teve coragem de questionar o pressagio, embora muitos tenham tido vontade. “Como uma flor poderia nascer de uma mulher?” Por muitos anos essa pergunta vagou nas mentes daquele povo e muitas foram as mulheres que tiveram filhas e julgavam serem a tal flor que o Pajé havia anunciado.

Numa noite de luar era comemorado o casamento de uma doce menina, não era das mais bonitas e não tinha nenhum dom que a ajudasse a compensar a falta da beleza. Nessa noite de luar enquanto todos dançavam e cantavam, a jovem noiva permanecia imóvel e olhando para a Deusa Lua, no momento exato em que a lua apareceu mais alta no céu uma ventania assustou todos que correram para suas ocas, a noiva permaneceu imóvel. De dentro das ocas todos gritavam seu nome e suplicavam para que entrasse, mas ela ignorava tudo e todos. O sábio Pajé disse em tom severo:

- Deixem que a concepção da flor aconteça. Calem-se todos e vejam o poder dos nossos deuses.

As vozes calaram-se e os olhares permaneceram fixos na jovem, esperando o espetáculo que se iniciava. O vento parou subitamente e a luz da lua intensificou-se, banhando a jovem com raios jamais vistos nas noites da floresta. A lua fez-se sol para iluminar a concepção da menina flor.

Uma nuvem de borboletas multicoloridas surgiu da mata e atraídas pela forte luz, que nesse instante se concentrava num grande feixe iluminando o ventre da jovem. Como magia todas as borboletas pousaram na indiazinha e a elevaram ao ar, seguindo o feixe de luz em direção a lua.

Os índios saíram das ocas e olham pro céu só puderam ver a jovem sumir em meio a luz. O noivo preocupado perguntou ao Pajé:

- Levaram minha noiva embora? Ela volta?

- Meu filho, ela volta, mas não mais será sua noiva. A jovem que partiu com as borboletas já não era sua noiva. Tua noiva morreu no vendaval e renascerá ao amanhecer. Agora todos vão dormi, não há mais nada pra ver.

A ordem foi obedecida por todos, mas dormi naquela noite seria um grande desafio. Por vez ou outra se via olhos curiosos espiando por entra a palha das ocas e nada do sol nascer. A lua foi embora e a noite ficou negra como jamais foi visto antes. O amanhecer tardou, o equivalente a três dias e três noites.

O sol surgiu quanto todos haviam desistido de sua volta e dormiam desanimados. Quando os primeiros raios de sol ultrapassaram as barreiras de palhas ou índios despertaram e correram ao centro da aldeia. Lá encontrava-se a jovem, banhada por uma beleza mágica e trazendo um semblante de paz e felicidade. Uma enxurrada de perguntas foram realizadas e ela apenas sorria e acariciava a barriga, que misteriosamente já se encontrava crescida. O Pajé mais uma vez pronuncio suas sabias palavras:

- A Mãe da Flor não tem nada a dizer, o que viu e viveu é só dela. Vamos todos caçar e preparar um banquete em homenagem a ela.

Assim fizeram todos e a jovem dirigiu-se ao rio e lá ficou. Não foi a festa e passou dia após dia no rio. Muitos eram os que iam chamá-la e tentar convencê-la de ir para aldeia, mas a Mãe da Flor não se movia e nem pronunciava palavra alguma. Apenas sorria e permanecia no rio. As mulheres da tribo preocupadas foram falar com o Pajé:

- Velho Sábio, a menina quer ser peixe, só vive na água. A criança vai nascer no rio? Como vai ser isso? Estamos preocupadas, traga ela para aldeia.

- Minha sabedoria é pouco perto da dela. Ele viu os deuses e conversou com eles. Esta fazendo a vontade deles.

Todos os dias os índios iam visitar a Mãe da Flor, até que numa manhã especialmente linda, eles não a encontraram e no exato lugar onde havia feito seu ninho brotaram uma pequena planta. As índias que fizeram a intrigante descoberta correm até o Pajé e contaram o acontecido, ele sorriu e disse:

- Ela pariu a Deusa Flor e voltou pros braços do seu marido sol, que hoje despertou tão contente e radiante de felicidade pela recém nascida e pela volta de sua amada esposa.

Uma mulher invejosa, indagou rapidamente:

- Esposa do sol? Pajé, temos tantas jovens lindas na aldeia, porque o Deus Sol ia querer casar-se logo com aquela jovenzinha? Nós todos sabemos que ela só se casou naquele dia por pena que tivemos dela ficar velha e sozinha, nenhum rapaz da aldeia queria casar com ela.

- Cale-se mulher tola, não ofenda a esposa do sol. Há belezas que seus cegos olhos não são capazes de ver.

O Pajé foi até o rio e viu a magnífica Vitória Régia, que preparava-se para desabrochar. Foi assim que surgiu a bela flor, que ama as enchentes e suas sementes são alimentos para homens e animais.

Alíria Branca
Enviado por Alíria Branca em 20/07/2007
Código do texto: T573165