Perigo! Perigo!

Roupas coloridas verdes, amarelas, laranjas e marrons. Cenário inóspito e rochoso. Criaturas bizarras, mulheres fatais, ilusionistas. Uma nave espacial perdida no espaço e presa a um planeta estranho.

O robô chega e avisa:

- Perigo! Perigo!

Todos olham para o velho bobo que se aproxima, o palhaço espacial, burro que nem uma pedra, falso como um perfume paraguaio, covarde como um rato que viu o gato e presunçoso como um canastrão.

- Ainda vou ser presidente - avisa o velho. Já possuo contatos para tal.

Assim que termina de falar, o monstro branco o agarra pela grade. Ele treme de cima a baixo e, em pavor, grita:

- Socooorroooo!

O ilusionista faz um gesto com a mão e o monstro o solta.

- Ainda quer ser presidente?

- Mas claro! Sou o maior líder das galáxias - responde o velho, com a convicção que só os ignorantes carregam.

- Tem certeza?

- A mais absoluta.

- Então responda: qual a principal força de uma estrela?

- A loira que a acompanha, oras. A estrela, obviamente, sou eu.

As bolinhas coloridas brilham na tela do televisor, ante tamanho disparate. Todavia, o povo, tomado de fascínio pelo óbvio ululante, acha tudo isso estiloso e alimenta o mostro da insensatez. E não é que ele vira mesmo presidente?

O robô alerta, mais uma vez:

- Perigo! Perigo!

Mas agora já é tarde. O ilusionista já não controla mais o monstro branco e o monstro da insensatez está à solta, propondo a imunização do rebanho sem nenhum critério. Então o Tribunal das Galáxias chama os culpados e ativa a máquina de memória. Que não funciona, eis que as consciências estão vazias e mais preocupadas com seus cifrões. Enfado, o juiz pega o paletó e vai embora.

- Perigo! Perigo! - alerta o robô pela terceira e última vez, avisa.

O povo percebe que algo está errado e começa a coçar a cabeça, sentindo a corda no pescoço. Com isso, o velho bobo vê-se obrigado a sentar na cadeira do Tribunal e, perante a máquina da memória, mente descaradamente, mas seu passado o trai, aparecendo na tela do televisor.

- Porque mentes? - pergunta a máquina.

- Eu sou o presidente, oras!

- Resposta errada.

- Resposta certa.

Ao dizer isso, passa por baixo da cerca e foge para os Estados Unidos, flagrado que foi em seu falso testemunho. Morrerá negando tudo, todavia, pois sempre existirão os que nele hão de acreditar e defender.

E a nave permanece emperrada no planeta estranho, perdida no espaço.

Antônio Bacamarte
Enviado por Antônio Bacamarte em 13/05/2020
Reeditado em 23/05/2020
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