O Espelho Veneziano

Josué cerrou os olhos muito antes de sentir o pesado manto da noite dobrar-lhe o corpo. Seu pai, Sizenando, não tolerava ser incomodado durante a sesta rotineira que seguia ao almoço. Relaxar naqueles tempos de amargura já era bastante difícil. O acidente de Avelar ainda se fazia presente na memória. Os gritos pueris do menino serviram para o fizer acordar assustado por mais uma vez. Foi quando aquele homem idoso, de mãos calejadas, arfou e se levantou da cadeira com um vigor que as palpitações de seu coração acusaram inadequado. Não era a primeira vez que Sizenando acreditava ouvir gritos vindos da roda d’água. Até se dar conta de que tudo não passava de uma falsa impressão, já estava parado, atônito, frente à porta do sobrado. Sizenando odiava aquela sensação. Estava cada vez mais exaurido e, talvez por isso, não tardou a decidir quem deveria pagar por sua angústia.

O pobre menino subiu os largos degraus de mogno apoiado em suas pernas finas e impulsionado pela força da velha bengala de osso de boi. Mal tivera chance de explicar que Jorge, naquele exato instante, corria endiabrado rumo ao solário com o pequeno Boió envolto nos braços. O frágil animal talvez já estivesse caindo ao tempo em que o coronel gritava com a mucama exigindo as chaves do quarto. Para Josué, que de cabeça curvada apenas possuía coragem para olhar os próprios pés, as lágrimas que escorriam de seu rosto aparentavam demorar mais e mais para alcançar o assoalho. Quando o estalar da chave na velha fechadura selou seu desespero, o garoto correu até a cama e mergulhou nos lençóis bordados com suas iniciais desejando que estes lhe trouxessem a noite e o sono antes que pudesse voltar a abrir os olhos.

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A porta abriu ruidosamente permitindo que a luz rompesse traquina pelo quarto até se chocar contra as colunas da cama. Sem demonstrar hesitação, uma voz rouca e mal tratada chamou por Josué. Em resposta, porém com lentidão, o garoto ergueu a cabeça. A claridade fez seus olhos arderem e o vestido branco usado pela velha escrava dificultava seu reconhecimento. Antes que os contornos da negra se tornassem nítidos, Josué escutou novamente sua voz mal acabada. Embora as palavras não soassem com a confiança de outrora, foi-lhe repetida a mensagem de que o coronel o esperava no salão. A negra então se virou e deixou o quarto, desobstruindo a imagem de um velho santo cujo nome era compartilhado com a fazenda fazia várias gerações. Josué, que detestava aquele santo, olhou em direção ao cortinado, entretendo-se alguns instantes com os pequenos grãos de poeira que despencavam suavemente pelo ar até se acomodarem sobre o criado-mudo ao lado de sua cama. Fungou, levantou-se doído e olhou para a roupa amarrotada, enquanto, a seu modo, tentava recordar se o dia anterior realmente acontecera. Após reunir forças e descer a escada, entre as grades do corrimão, viu o coronel Sizenando sentado na cadeira de balanço, de testa franzida, soltando fumaça do cachimbo enquanto passava a vista num dos jornais que recebia da capital. Josué, que não ansiava descobrir o motivo pelo qual havia sido chamado, resolveu permanecer de pé ao fim da escada, esperando que fosse seu pai que notasse sua presença.

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A pequena Letícia levantou com rapidez para trancar a porta A mucama descera para pegar um pouco de leite e a porta trancada daria algum tempo à menina. Havia duas semanas que não via Boió. Seu pai lhe dissera que o médico da cidade a havia proibido de brincar com o pequeno felino alertando este poderia lhe prejudicar. Letícia não acreditou nas palavras do médico. Não imaginava como o pequeno Boió poderia lhe fazer mal. Era sua única companhia, o único contato com a mãe. Provavelmente o médico houvesse enganado seu pai para levar o gato consigo. Já não se continha de saudades. Ao fazer perguntas às mucamas, sempre ouviu que o animal estava bem, mas nunca se contentara com as respostas. Afinal, seu pai insistia em repetir que era a preguiça dos negros que estava levando a fazenda à ruína, bem como o sono que acometera seu primo Avelar fora igualmente culpa deles. Talvez estivessem enganado seu pai por mais uma ocasião, só que desta vez, maculados com o médico da cidade. Ofegante, porém decidida, a pequena Letícia arrastou a pesada cadeira da penteadeira em direção à janela. Levantou a saia da camisola para não se enganchar e, com esforço, subiu sobre o assento. A cadeira cambaleou, mas a menina, embora assustada, prosseguiu em seu objetivo e se pôs na ponta dos pés para abrir a janela trancada por um pesado ferrolho. De um gemido combalido e do estalar do ferro enferrujado, seguiu-se uma fria passagem de ar quarto adentro, o que fez a garganta da menina arder. A luz forte machucou seus olhos. Letícia teve dificuldades para reconhecer os contornos da moenda, a fumaça sibilante que saia de sua chaminé e a grande quantidade de toras de madeira empilhada ao redor da construção. Ainda um tanto desorientada, inclinou-se para procurar seu gato. Antes que sua visão fosse tomada por uma torpe névoa negra, pôde apenas ver Jorge correndo pelo gramado. Foi quando sentiu suas pernas se curvarem e seu corpo enfraquecer. Nada mais...

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Josué gritou por cinco longos minutos. Toda a fúria do pequeno mundo que conhecia aparentou despencar de uma só vez sobre suas costas durante o que lhe fora a primeira sensação corpórea acerca da eternidade. Até que seus gritos finalmente cessassem, um incomum e incômodo silêncio imperou na cozinha. Lá, espremendo-se uma nas outras, as escravas se observavam, pedindo com os olhos aquilo que não podiam expressar com a boca. Intimamente, oravam para que o sombrio homem pegasse seu chapéu de palha e fosse visitar a moenda, como em nenhuma outra manhã havia deixado de fazer.

A negra Isabel já não agüentava de tanta angústia quando finalmente houve um breve hiato entre os gritos do menino e o eco dos passos do Coronel sobre o antigo assoalho de madeira. Era o último murmúrio de uma tortura que insistia em não acabar. Após o tão esperado bater da porta, a escrava enfim desfrutou de um alívio talvez apenas equiparado àquele sentido por seus irmãos de cor ao se encerrar o castigo no tronco. Sem vacilar, largou a vasilha de barro na qual separava feijão e disparou rumo à sala. Com ambas as mãos ocupadas em erguer a saia encardida, encontrou Josué em pé, rijo, mudo, como se hipnotizado por sua imagem distorcida refletida no antigo espelho veneziano fixado na parede. Incomodada, gritando o nome do menino, a negra correu para puxá-lo daquele estranho sono lúgubre. Era a esse tempo que chegava ao pé da escada a mucama de Letícia, que não pôde conter uma exclamação de espanto ao observar a face paralisada de Josué, regada por lágrimas, encostada com vigor entre os seios da negra Isabel.

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Ao ver o coronel caminhando na varanda e esmurrando o interior de seu chapéu de palha, Jorge, que estava à considerável distância do sobrado, avançou em disparada rumo à velha carroça de boi abandonada na margem da estradinha. De tão rápido que ia, mal conseguiu agachar-se, quase se chocando contra as antigas armações de madeira do carro, este já bastante danificado pelo tempo e uso de outrora. Apesar das fortes dores que sentia nas pernas recém esfoladas pelo barro seco, as quais passaram a lhe incomodar mais do que os arranhões ainda rubros causados por Boió, o garoto não pestanejou em empregar seu vigor juvenil para se ocultar ao máximo, deixando à mostra apenas, segundo assim julgou, os grandes olhos castanhos que sua mãe lhe dissera haver herdado de seu pai.

Jorge manteve-se concentrado em observar os movimentos do coronel, que, embora perceptivelmente entorpecido pelas circunstâncias de anos cuja soma o garoto sequer imaginara ser possível existir, ainda era dotado de um certo porte esguio e sedutor que lhe chamava a atenção. Viu Sizenando descer a seqüência de degraus que conduziam ao varandão com relativa desenvoltura e se por a caminhar em direção à moenda. Em uma das mãos, segurava a bengala de osso de boi que herdara de seus ascendentes, sendo que a outra, livre de qualquer objeto, seguia de punho hermeticamente fechado, como se necessitasse, a cada balanceio, desferir um golpe contra o ar para exigir que o mesmo lhe abrisse passagem. Mantendo-se distante, Jorge observou o Coronel parar em frente ao antigo engenho e gritar por dois dos negros que ali se aglomeravam. Sem nenhuma possibilidade de escutar o que era dito, o menino espiou o coronel apontar sua bengala para além das pilhas de madeira armadas próximas dali.

A conversa entre Sizenando e os escravos foi rápida. E os poucos minutos que se seguiram aparentaram ser o suficiente para se dizer o que era necessário. Não muito depois, o Coronel retornou ao sobrado munido do mesmo vigor com o qual partira. Sem compreender a origem de um repentino impulso que lhe invadiu a mente, Jorge sentiu-se compelido a seguir os dois escravos pelo resto do dia. Em outra ocasião procuraria o bichano de Letícia que lhe fugira dos braços no dia anterior.

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Beatriz estava trancada em seu quarto desde o acidente que vitimara o primo Avelar. Havia duas semanas que não ouvia noticias de Pedro e a oportunidade de o encontrar ao cair da noite a encheu de ânimo e vontade de viver. Sua barriga crescera bastante desde o último encontro com o vaqueiro. A depender das vestes utilizadas pela moça, uma pequena saliência já podia ser observada. Mal podia conter-se de ansiedade para exibir os contornos da pequena vida que carregava no ventre. O gesto inesperado de Isabel havia lhe causado bastante admiração. A negra arriscara a própria vida no dia anterior quando foi ao quarto da jovem sem o conhecimento do Coronel. O velho Sizenando havia impedido que qualquer pessoa mantivesse contato com sua filha. Em verdade, chegou ao extremo de levar e recolher pessoalmente suas roupas e refeições Não fosse pela coragem da mucama, Beatriz jamais saberia que, naquela noite, Pedro a estaria esperando no casebre próximo à estrebaria, pronto para fugir consigo.

Conforme combinado, Isabel colocaria uma cópia da chave do quarto no miolo de um dos pães que o Coronel levaria junto com o resto do jantar. Bastaria apenas esperar pelo silêncio da madrugada para que a jovem pudesse escapar de sua clausura. Tudo estava arranjado. E assim Beatriz aguardou...

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Sentado na cadeira de balanço, Sizenando sentiu-se ansioso. Seu coração pressionava-lhe o peito. Tentou conter os pensamentos insurgentes volvendo a atenção para o simples gesto de mexer o café que há pouco lhe fora servido por uma das mucamas. Tão logo degustou o amargo sabor, no entanto, mais uma vez deixou-se dominar pelas insistentes lembranças que o assolavam naqueles parcos momentos de quietude.

Na visão embaçada que possuía daquele dia, lembrou-se de um amanhecer frio. Seus ossos doíam. Quando alguém correu ao quarto onde dormia clamando por seu nome, demorou mais do que costumava para deixar a cama e abrir a porta. Um vulto amedrontado, cuja feição não conseguia recordar, narrou-lhe que Avelar fora chamado para ir à roda d´água durante a madrugada. Conforme contou, disseram ao rapaz que a chuva que se precipitara durante a noite anterior havia aumentado a vazão do rio drasticamente, sendo que a força da correnteza estava causando sérias avarias à estrutura ainda em construção.

Foi dito ao Coronel que o jovem, claramente preocupado com a resistência do empreendimento, deixou o sobrado em disparada, correndo até a moenda sem sequer trocar as vestes de dormir. Apenas se permitiu colocar o chapéu de palha que seu pai lhe dera pouco antes de deixar sua terra natal.

Pelo que Sizenando sabia, Avelar considerava a construção da roda d´água um compromisso pessoal irretratável. O jovem engenheiro não cansava de reiterar ao coronel que, durante os tempos de cheia, tal empreitada proporcionaria substituir a queima de madeira enquanto fonte de energia necessária para movimentar o maquinário a vapor pela força da vazão do rio. Horas de trabalho árduo e exaustivo seriam poupadas durante o período de moenda. Este era o presente que acreditava ser capaz de evidenciar todo o respeito, gratidão e lealdade que o rapaz nunca escondeu desejar retribuir a Sizenando em virtude de o mesmo haver abençoado sua união com Beatriz.

Embora Sizenando sempre soubesse que o afeto sentido pelo jovem Avelar não era retribuído por sua filha, não lhe restava alternativa. Aliás, não fosse pelo que acreditava ser o mais ímpio dos fardos rogados pelos escravos, jamais consentiria com aquela união. Ao longo dos anos, a família de Avelar notória e inversamente perdera as terras e fortuna que seu nome havia conquistado em tradição e prestigio. Outra não foi a origem da surpresa que se espalhou pelas redondezas assim que o Coronel visitou o patriarca do engenho contíguo. Em uma conversa, conforme consta, a portas fechadas entre os dois pais-de-família e o jovem rapaz, toda a verdade foi exposta e exaurida num acordo que o próprio tempo encarregar-se-ia de sepultar. Com poucas horas, Sizenando retornou ao sobrado trazendo um sobrenome para o ventre de Beatriz. Jamais poderia esperar, entretanto, no destino que lhe seria revelado pelos primeiros raios de sol daquela fatídica manhã.

O que realmente aconteceu junto à roda d´água nunca foi esclarecido. Vários foram os relatos, sendo que as declarações daqueles que presenciaram o trágico acontecimento distinguiam-se de acordo com as fragilidades de cada interlocutor. Sabe-se apenas que, em dado momento, as vestes de dormir usadas por Avelar engancharam-se nas armações de madeira da roda d´água. Quando as cordas que a impediam de girar, não agüentando a força da correnteza, romperam-se, o jovem foi puxado para as entranhas escuras do rio sem a chance de esboçar qualquer reação. Somente após horas de infindáveis esforços é que o corpo encharcado foi trazido para a sala do sobrado carregado por cinco escravos. Lá permaneceu durante o resto do dia, aguardando pela chegada do pai.

No final da tarde, durante o rápido encontro entre os dois patriarcas, poucas palavras foram compartilhadas. As lágrimas do velho genitor de Avelar coibiram o rígido Sizenando. O Coronel, num de seus poucos instantes de sincera humanidade, sentiu-se constrangido, talvez chegando intimamente a se culpar pela morte do rapaz. Sentimento perdido tão logo observou Beatriz adentrar no recinto ansiosa por descobrir o que acontecia. A visão de sua filha trouxe mais uma vez à baila seus temores mais particulares. A possibilidade de esconder a vergonha que se abatera sobre família havia irremediavelmente se esvaído de suas mãos horas antes. Ensandecido, Sizenando arrastou a jovem para o quarto. Sua reação desmedida assustou a todos os presentes na sala. E o Coronel não percebeu que, enquanto o corpo de Avelar permanecia presente, o pequeno Josué, bastante perplexo com aquelas imagens estranhas a seu mundo, vira uma mancha formar-se vagarosamente no espelho veneziano que a todos refletia.

Foi nesse instante de suas lembranças que Sizenando despertou. Mais um grito, só que, desta vez, era o urro assustado da mucama de Letícia. Por mais uma ocasião, o Coronel olhou a moenda antes de largar a xícara de café e romper rumo ao quarto da filha.

A visão da negra arrastando a menina desacordada pelos braços para deitá-la sobre a cama era estarrecedora. Tomando o lugar da escrava no socorro da menina, o coronel perguntou repetidas vezes o que sucedia enquanto a abraçava contra o peito. A mucama, pressionada pela seqüência de indagações cada vez mais ríspidas, permitiu que o sentimento de compaixão evidenciado em seus olhos perecesse, para então enrijecer sua face com rugas de repudio. Sem pensar nas conseqüências de suas palavras, a negra então afirmou que a menina herdara a fragilidade de sua mãe, a qual mal conseguiu se manter viva após o parto, muito menos tivera sucesso em fecundar uma criança com saúde. Como se não bastasse, irresponsavelmente continuou seu desabafo, bradando que Jorge, seu filho, era o único que portava toda a virilidade do pai, ao contrário dos outros que viviam na casa e que somente traziam desgraça e vergonha para o engenho. Foi quando Sizenando levantou-se e a esbofeteou. A mucama de Letícia deixou o recinto correndo, cobrindo com as mãos os lábios ensangüentados.

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Jorge seguiu os dois escravos durante o decorrer do dia. Próximo ao cair da noite, teve a sensação de que ambos não se recolheriam à senzala. Haviam entrado na estrebaria, sendo que não esboçaram qualquer sinal de que em breve sairiam dali. Temendo ser visto, o menino correu até um casebre de taipa próximo. Lá chegando, logo procurou por um esconderijo, recolhendo-se atrás de um armário repleto de bugigangas. Ao se espremer entre o desgastado móvel e a parede de barro, alegrou-se ao descobrir que era possível observar os acontecimentos externos através de um pequeno buraco, pouco mais largo que a maioria de seus dedos. Quando se sentisse seguro, retornaria para casa. Foi ao menos que assim pensou...

Pois o tempo avançou até a lua alcançar o topo do céu sem que Jorge se sentisse suficientemente seguro para arriscar qualquer movimento. Há muito se arrependera de ter seguido sua curiosidade. Vários pensamentos já lhe tumultuavam a mente, quando então escutou o ranger da porta. Ouviu passos, vozes e risos. Sorrateiramente, o menino espiou entre as prateleiras amontoadas. A luz irrequieta de uma velha lamparina revelou-lhe a imagem de um homem e uma mulher unindo-se com o toque dos lábios. Assustado com a inesperada visita, o menino recuou, mas não tardou a ceder ao desejo de observar aquela estranha dança de abraços e carícias, bastante familiar ao que certa feita ouvira falar. Esse instante, que talvez perdurasse em sua memória por longa data, foi interrompido com a entrada abrupta de mais dois vultos.

Tão logo escutou o violento bater da porta, Jorge voltou a se retrair em seu abrigo. Fechou os olhos por assim acreditar-se mais protegido. Incógnito, assustou-se com gritos, ruídos de luta e os gemidos sufocados que se seguiram. Pouco depois, sem coragem para se mexer, sentiu o ar esquentar. Chorando, já respirando com dificuldade, tornou a abrir os olhos para observar através do buraco dois negros avançando pelo campo e a noite adentro.

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Josué acordou de um sono irrequieto escutando o ruído disforme de estalos de madeira. Com o rosto pesado, desferiu um olhar desorientado à parede oposta a sua cama. A pintura branca que sempre lhe refletira os claros raios do luar agora havia se retraído num opaco tom amarelado. Sem compreender o que acontecia, Josué voltou sua vista para a janela. Viu uma luminosidade intermitente ocupando toda a área das estreitas aberturas de vidro, através das quais sempre se avistara o céu. Ainda sem conseguir discernir, Josué levantou-se e a abriu. Foi quando ouviu gritos. Assustado, ficou a observar a paisagem de tonalidade opaca causada pelo fogo e fumaça que subiam pelo ar. Então compreendeu tratar-se da visão que lhe fora revelada dias atrás. A sombria paisagem que se exibia perante seus olhos repetia a mensagem que não conseguira assimilar e transmitir. A imagem refletida no espelho veneziano da sala havia exposto o interior sombrio de sua família...

André Leite
Enviado por André Leite em 23/08/2006
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