AS DUAS IRMÃS

Aquela miserável casebre, cujas paredes fendidas feito peneira, estava enfestada de percevejos, barbeiros, pulgas; tudo que foce imundice. Não sei como aquelas criaturas conseguiam tirar um cochilo. Alem do mais, a tarimba, cujos ossos descansava-na, desassossegava o sono das infelizes; as varas enterravam-se em suas costelas. O colchão cheio de palha de milho sobre a tarimba, tinha mais utilidade às pulgas, aos percevejos a elas, visto que todos os dias acordavam com o corpo moído

As duas, sentadas a beira da fogueira no meio da casa, bordavam uma peça do enxoval; tinham a consciência de que jamais se casariam, visto que ambas haviam assim determinado seu destino. O silêncio que regia entre as moças, era quebrado de quando em quando por um suspirar melancólico que saía das entranhas da alma. Na cabeça um pensamento:

_Eles não vieram como nos prometeram...

No dia seguinte as duas moças levantaram-se com as galinhas; enquanto uma cuidava do desejum a outra fora ao monturo para sondar se por lá havia algumas pegadas. Durante a madrugada elas haviam ouvido paços rondando a casa. Na primeira hipótese, pensaram que fosse os pais, já falecidos. Na segunda hipótese, quem sabe um mal- "fazejo"; o certo é que ouviram paços rondando a casa, e chegou perto da janela do quarto onde as moças dormiam.

_hem Dala, você viu algum rasto no terreiro?

_Sim!

_Não disse! Bem que'eu falei que tinha alguém lá fora. Desde que eles se foram tenho a impressão que alguém ronda a casa, só queria saber quem é...

_Vai ver que são eles!

_Não! Creio que não...

_Como não? Afinal eles prometeram-nos que voltariam...

_Não pode ser...

_O que diz das pegadas?

_ Se fosse eles não haveria nenhuma pegada, não acha?

_É!! Mas, então?

_Tudo indica que as pegadas é de um homem, pois trata-se de uma pegada grande; só não sei de quem é.

_Os meninos de Olávio andam meio desaparecido!

_É!! Eles não arredavam daqui .

_Os de Tião nem se fala! Retrucou Bazu.

_Os de Faustinos são outros...

_É verdade, faz é "hera" que não aparecem por aqui...

_É por causa da lida Dala! Vai ver que daqui apouco eles aparecem.

_É!!

Concordou Idalina conformada.

Desde que os pais morreram, aquelas duas irmãs ficaram na humilde casa materna; sozinha e Deus! Os doze irmãos que ficaram só os que moravam por perto é que vinham "cuidando" das órfãs. Um sobrinho_ um dos filhos de Olávio, rapaz solteirão, é que costumava vir dormir com as meninas_assim como eram chamadas; quando ele não podia dormir, costumava vir sondar se estaria tudo bem com elas. Pensando que já pudesse está dormindo, ele vinha espiar pela janela do quarto, certificar de que se estavam bem. Vendo que dormisse os sonos dos justos ele retornava sem se fazer notar-si.

As duas moças puseram na cabeça que um casal de pombas que vinham, todos os dias, religiosamente, pousarem na trava do alpendre, ficando por algum tempo, sempre no mesmo horário_quando o sol repousava no horizonte, que eram seus pais já falecidos; as tais pombas ficavam um pouco e depois voavam para o mato, sumindo-se de suas vistas. Elas acreditavam que eram seus pais falecidos; que vinham proteger-las como prometeram fazer em quanto elas não se casassem. Ocorreu que as tais pombas, interrompeu suas visitas rotineiras; vinham agora de quando em quando, apareciam, só que agora não demoravam como antes_quando as moças ainda choravam a partida dos pais. Na medida que o pranto das moças cessavam as visitas das pombas diminuíam até que finalmente elas não choravam mais. Bazu e Idalina (Dala) já se conformavam com a morte dos seus pais e tocava suas vidas na trivialidade; só que, sem aquelas visitas elas entristeciam novamente, estavam acostumadas com aquelas visitas que já duravam anos; mais de três anos... Na terceira semana que as pombas não vinham uma das moças sonhou que seus pais vieram avisar-lhes que não viriam mais; e era para elas não ficarem tristes... Desde então, as tais pombas, nunca mais vieram.

VALDA FOGAÇA
Enviado por VALDA FOGAÇA em 21/01/2014
Reeditado em 15/02/2020
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