O PSICÓLOGO

— Você sabe quem você é?

— Não, eu não sei.

— Desde quando?

— Desde que me perguntei quem eu sou.

— Você tem uma crise existencial.

— Não saber quem eu sou me faz ser quem eu não sou?

— Certamente sim.

— E como eu posso saber quem eu me tornei não sendo eu?

— Um estranho pra si mesmo, você se criou. E é você quem tem que se descobrir.

— E se eu me descobrir e acabar percebendo que eu não sou quem eu gostaria de ser?

— E quem você quer ser?

— Um estranho para mim mesmo.

— Você já é.

— Então eu não tenho uma crise existencial se eu já sou quem gostaria de ser.

— Você é feliz sendo quem você é?

— Seria se eu não fosse tão complicado. A minha felicidade vem em pequenas doses, não consigo me embriagar dela por muito tempo.

— E como você se sente agora?

— Nem triste, nem feliz. Apenas um vazio que me permite tê-lo em si todos os sentimentos do mundo, mas nenhum consegue preenchê-lo por completo.

— Quando foi a última vez que você sentiu que era feliz?

— Minutos antes de perceber que eu sou a felicidade das pessoas, mas elas não são a minha.

— Não se sente feliz vendo alguém feliz por você?

— Sinto pena. Pois sem perceber eu a estou enganando. Mas continuo me mostrando feliz, só para não magoá-la. Parece que eu retenho a tristeza das pessoas para mim, e quando elas vão embora, sou eu quem fica semeando o que roubei delas.

— Então você sente uma certa compaixão pelas pessoas, você não está tão vazio assim.

— Eu não estou vazio, são os meus sentimentos que estão pequenos.

— Do que você tem medo?

— De quase tudo, tenho até medo de sentir medo.

— Qual o maior dos teus medos?

— A morte.

— Por que?

— Porque a ideia de ser imortal me apavora, e a ideia de morrer eternamente me desespera.

— Você acredita em vida após a morte?

— Acredito em morte após a vida.

— Se você morresse hoje, do que se orgulharia?

— De nunca ter estado vivo.

— Qual o seu sonho?

— Domar meus fantasmas. Aceitar a vida como ela é. Entender o sentido da morte, e porque ela é tão cruel. Saber quem eu sou, do que gosto e de quem gosto. E por que amar é tão necessário se sempre é tão sofrido. Por que estamos vivos? Qual a função da nossa existência se somos tão individuais. Por que eu gosto tanto das pessoas, e ao mesmo tempo, me prejudico tanto... Gosto de sofrer por benefícios alheios? Por que a tristeza está sempre pronta para me acolher? Por que o céu é tão infinito e nós somos tão limitados? Ele não foi feito para nós?

Mas e você, sabe quem você é?

— Não, eu também não sei

Ainda Menina Mar
Enviado por Ainda Menina Mar em 29/01/2018
Código do texto: T6239419
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