NA CADEIRA DE BALANÇO

Sentado em sua repousante cadeira, ele estava como se adormecido. Apenas se ouve o tic-tac irritante do relógio de parede que se encontrava a sua frente.

Estava só, todos haviam saído. Naquela apatia física, seus olhos se limitavam a ver as horas passarem lentamente. Parecia ser uma eternidade em que ele se encontrava naquela posição. No entanto, só passara meia hora , desde que ele se encontrava naquela situação de relaxamento total de seu físico.

Naquele pequeno tempo, vasculhou sua mente para fazer uma análise daquele dia. A mente se perdia diante da enormidade de fatos que preenchiam todos os dias.

A mulher e o filho haviam saído para visitar parentes. Ele preferiu ficar em casa por se sentir cansado.

Ainda era considerado jovem. Tinha força e vigor suficiente, no entanto, naquele dia, sentia-se cansado e sem vontade de sair, razão pela qual resolveu ficar em casa.

Sentado naquela posição, achou melhor levantar-se e deitar-se, quando poderia esperar pela família. Mas o excesso de cansaço impediu-lhe que seus movimentos se realizassem. Em razão disso, então, preferiu esperá-los sentado, no lugar onde se encontrava.

O irritante martelar do relógio parecia querer enlouquecê-lo. Lembrou-se de quando o tinha comprado para sua esposa como presente de aniversário.

Ouvia ruídos distantes e além do som dos carros, ouvia os passos das pessoas que transitavam pela rua. Mas, somente o irritante tic-tac do relógio o incomodava. Tentou mais uma vez levantar-se, porém não conseguiu mover-se da posição em que se encontrava e foi obrigado a ficar imóvel.

Procurou acalmar-se e esperar pela família. Ela, iria tirá-lo daquele sonho que já tinha ares de pesadelo.

Como tetraplégico, apenas seus olhos se moviam percorrendo o ambiente em que se encontrava. Os sons e ruídos chegavam aos seus ouvidos e lhe davam a sensação de impotente imobilidade.

Pensamentos passaram e as indagações lhe angustiavam e o tempo, como seu carrasco, passava lentamente.

Depois de muito tempo ouviu o som de um carro que parou em frente a sua casa.

Seria sua família?

Suas esperanças voltaram com a perspectiva de ver a família. Eles poderiam ajudá-lo a sair daquele pesadelo que o atormentava. Quando ouviu o barulho da porta abrir-se e a voz do filho, encheu-se de esperança.

Após entrarem o filho mais velho perguntou:

-Papai, está acordado?

Ele quis responder, porém a boca não obedeceu ao comando do seu pensamento e ficou imóvel sem poder fazer o menor movimento.

Naquele momento, ele apenas via e ouvia.

-Papai, papai, está acordado?

Do jeito em que se encontrava ficou. Sem poder responder, viu o filho aproximar-se e tentar movê-lo. Mas só ouviu dele a voz, que num misto de horror e desespero, gritava:

-Mamãe, mamãe, venha depressa! O papai está morto.

02/11/83- VEM

Vanderleis Maia
Enviado por Vanderleis Maia em 23/02/2006
Reeditado em 07/03/2009
Código do texto: T115503