Parto (Parte I)

"Alô! Reginaldo! Aqui quem fala é Carolina. Será que você está livre segunda-feira para nos levar à São Paulo. Tibério precisa fazer um exame no Hospital das Clínicas, logo pela manhã.”

“Segunda-feira, dia 12, vou estar livre. Passo pegá-los às cinco da manhã.”

O homem faz um bico de motorista, enquanto, procura um emprego. A firma em que ele trabalha como motorista: faliu.

Como tem um fusca, sempre combina com os seus fregueses em dirigir o carro, de quem o contrata. E, assim, as suas indas e vindas como motorista lhe rende um dinheiro para poder ajudar a esposa, que trabalha como diarista.

“Reginaldo. Tive um sonho estranho esta noite. Você me ligou da cadeia pedindo para conseguir um advogado! Fiquei assustada, pois, você é testemunha ocular da veracidade das premonições dos meus sonhos!”

O homem coçou o cavanhaque olha para Elza; enigmático.

“Quase fui preso em São Paulo! Os guardas queriam ver a minha carteira de motorista. Disse que tinha esquecido. Ainda bem, que o Seu Tibério convenceu os guardas da minha honestidade ao comentar os anos que tenho como motorista.”

“Nossa!”

“Já me escrevi na Auto Escola Relâmpago e vou fazer o exame para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação. Primeiro preciso fazer o exames médico e psicotécnico.”

E, assim o fez. Foi aprovado nos exames sem qualquer problema. Com muita dificuldade consegue pagar as quinze aulas práticas. O instrutor marca o exame e orienta sobre tudo que precisa fazer.

“Tenho certeza que você passa na primeira vez.”

Sexta-feira, 13 de Agosto, Reginaldo toma o seu lugar na van da auto-escola. Passou a noite em claro. A caminho do local do exame escuta alguns comentários, isto o deixa mais apreensivo.

“Lembra da Regiane, aquela moça magricela, solteirona, balconista da ótica do Osvaldinho? Pois, veja só, ela conseguiu tomar 14 reprovações.”

Ele tinha a certeza: "Esses fatos não passam de lenda urbana." Um suór frio toma conta de Reginaldo.

No local dos exames espera e, com isso, observa uma jovem pisar no acelerador na hora de pisar nos freios, e por esta desatenção, quase subiu na calçada: reprovada.

Três reprovações seguidas..., e, ele entra no carro e senta ao lado do examinador. Suas pernas tremem. O homem o olha do alto. Reginaldo ouviu falar das excentricidades de Tarigoy. O examinador não perdoa: reprova! Por isso, foi condenado. Na van ele ouviu: "Tarigoy está jurado de morte!"

Tudo está indo bem! De repente, um jovem armado aponta o revólver para o examinador e atira. Reginaldo perde a direção e entra no poste.

Ambulância, paramédicos, polícia, pedestres e muito sangue. O examinador é retirado. Reginaldo atordoado pela batida não sente as pernas.

Acorda no hospital. Corte na cabeça: seis pontos. Corte no rosto: quatro pontos. Três dentes quebrados. Perna esquerda quebrada. Mas, vivo!

“Como está o meu examinador?”

A enfermeira levanta o dedo polegar para o céu e o vira para o chão.

“Morto!”

Novo exame é marcado. Novo examinador. Além de Reginaldo, mais duas jovens vão juntas para serem examinadas. A primeira é aprovada. Reginaldo toma a direção. Tudo bem!

“Aiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiai! Para! Aiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiai!”

“Entre a direita, já!”

Reginaldo dirige na avenida mais movimentada da cidade na contramão. A moça entra em atividade de parto.

“Aiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiai!

Duzentos metros e o carroestaciona no pátio da Santa Casa. O bebe nasce. Um menino! Reginaldo é entrevistado pelos jornais, rádios e o canal de televisão local. É reconhecido como herói. Mas, o examinador não gostou. O herói foi reprovado: entrou na contramão!