A MALDIÇÃO DO FANTASMA - Parte III -

III. O ROMANCE

– É por isto que eu te espero! Depois das aulas ficas dando “trela” para as alunas! E eu fico como idiota te esperando! Andas de namoro com esta aluna, eu sei. Já me disseram. E tu, vagabunda, não tens vergonha na cara? Ele é “meu”!

O professor despediu-se de modo discreto e a ela nada respondeu. Eu fiquei muda. Jamais havia pensado que uma amizade de uma pobre aluna com seu Mestre poderia justificar este tipo de agressão. Ela saiu discutindo com meu professor e ele, cabisbaixo, a acompanhava.

A partir daquele dia eu comecei a fugir do meu professor. Mas, estranhamente comecei a vê-lo de modo diferente. Nas aulas ele já não me olhava e mal me cumprimentava quando me via fora da sala. Alguma coisa mudou dentro de nós, desde aquele dia. Ela havia despertado, com sua agressão, um sentimento adormecido e insuspeitado, submerso, e que, por nossos princípios, jamais viria à tona. Com sua agressão verbal, ela acordou o amor...

Terminei a Faculdade. Fiz Especialização em outra cidade. Mestrado e Doutorado. Fiz concurso para lecionar na Universidade. Fui aprovada. E fui ministrar aulas no Departamento de Filosofia. Para surpresa minha, o Coordenador do Departamento era ele, o meu querido e amado professor... Quando o vi, seus olhos sorridentes brilharam e ele abriu um largo sorriso:

– Bem-vinda, professora!

Fiquei sem fala: quantos anos tinham se passado! Ele era o mesmo, apenas com o cabelo um pouco mais grisalho.

Eu havia me dedicado aos estudos e ao trabalho. Nenhum homem que eu havia conhecido havia me chamado a atenção. Talvez eu tivesse admirado tanto aquele homem que sua lembrança, mesmo inconsciente, fazia com que todos os demais parecessem tolos e desinteressantes. Meus olhos foram rápidos a olhar sua mão: estava sem aliança!

Aos poucos foi ressurgindo o diálogo. O romance abortado, começou...

Eles haviam se separado, mas o orgulho daquela mulher, filha única, herdeira de uma grande fortuna, não admitia que alguém amasse ou valorizasse aquele “incompetente!” Tinha “perdido” com ele os melhores anos de sua juventude e , jurou-lhe, jamais mulher alguma o iria amar! Ela não o queria, mas ninguém o teria e ele não teria ninguém! Ela ainda vigiava seus passos com um ódio terrível, não por amor, mas por “ter perdido com aquele idiota” sua juventude irrecuperável... Ela não se conformava com isso!

Completei cinco anos de docência na Universidade; éramos amigos; sentíamo-nos unidos cada vez mais. Eu o amava e admirava; respeitava-o profundamente! Então, um dia, ele disse que, sem saber como, me amava... Para surpresa de todos e até nossa, resolvemos morar juntos! Foram meses de intensa felicidade e de amor! Jurávamos amor eterno. Às vezes, eu sentia um pressentimento estranho, que não sabia bem definir. Ele me dizia:

– Estamos sempre juntos! Não tenhas medo! Eu estou aqui!...

Então, um dia...

(continua)

[NOTA: Quaisquer semelhanças com fatos ou pessoas, mortas ou vivas, são mera coincidência.]

ESPERANÇA
Enviado por ESPERANÇA em 27/01/2008
Reeditado em 21/09/2009
Código do texto: T834652
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