O caso do Ed. Mirantes

- Socorro! Socorro!

Gritos romperam o silêncio daquela madrugada. Foi lá no edifício Mirantes. Luzes pululavam nas janelas semi-abertas. Era uma noite abafada, e os gritos vinham do apartamento ao lado onde mal dormiam Dorina e Rubens.

“Sai diabo! Dizia o homem. Socorro! Gritava a pobre mulher.”

Móveis eram arrastados e fortes estocadas se ouvia pelo chão e paredes.

Sentado sobre a cama desgrenhada e com os olhos meio pregados de sono, Rubens virou-se para Dorina e perguntou:

- Ouviu?

- Sim!

- É o casal que encontramos ontem no elevador.

- Mas pareciam tão felizes!

- E as aparências não contam?

- Enganam muito!

- Ele vai matá-la assim, chamo a polícia?

- Não sei não!

E os gritos continuavam no meio de uma bateção desenfreada.

Era sem dúvidas, uma batalha desproporcional, pobre mulher.

- Bastardo, covarde! Resmungou Rubens.

Apenas uma questão de minutos, se ele não a matasse, com certeza a transformaria num trapo de gente.

Dava para ouvir tudo com mais nitidez encostando o ouvido na parede. E o frege continuava. Agora, barulho de talheres caindo.

- Acho que pegou uma faca, disse Rubens.

- Credo! Disse a mulher toda trêmula.

Dizem que em briga de casal, não se mete o nasal, mas Rubens e Dorina estavam muito preocupados. Um mau pressentimento pairava ali. Diante da iminência de uma tragédia, que no dia seguinte seria tratada como um simples caso passional. Resolveram tomar uma atitude. Desceriam sem serem notados e ligariam para a polícia.

Mas resolveu o destino, sorte, acaso, chamem como pretenderem, dar-lhes uma mãozinha. Quando se preparavam para descer, o caso foi esclarecido. Todo aquele escarcéu, aquele carnaval, teve como origem, uma pequeno morcego, que aproveitando a janela aberta por causa do calor que fazia, tinha entrado naquele apartamento.

Rubens e Dorina respiraram aliviados e puseram-se a rir, e riram tanto que até perderam o sono. Uma comédia!

Tudo então estava afinal resolvido. O pobre notívago voou para fora e tudo voltou como antes no edifício Mirantes.

Na orla, o mar estava calmo, mas o calor era insuportável. E para piorar ainda mais a situação, o ventilador de Rubens entrara em pane. Enquanto Dorina se dirigia ao banheiro para tomar uma refrescante ducha, ele improvisava um leque, usando uma capa de revista. E empregava as suas habilidades em dobraduras, quando o silêncio da noite, foi novamente quebrado!

- Socorro!

Era Dorina espavorida.

- O que foi?

- Lá. . .

Bem, vou-lhes antecipar o ocorrido.

Acreditem ! Era também um mamífero quiróptero, o popular morcego, e estava pendurado no cano do chuveiro.

Aliás, nos dias quentes de verão, era assim mesmo. Ali entre aqueles prédios a beira-mar, via-se revoadas e revoadas desses mamíferos, quando a noitinha vinha caindo.

E acreditem, a história se repetiu, agora do lado de cá.

Um conto de José Alberto Lopes

SBC-SP. 18/10/09 – Revisado-12/11/09