O ANJO

No arraial de Saquaíra, na aprazível península de Maraú-Ba, um fato inusitado acontecera. Aos cinco anos, o menino Luizinho flutuara e voara como Anjo, em missão de auxílio às almas da Terra.

O pai de Luizinho, Antonio, mais conhecido na redondeza como Tonho Pescador, morrera em alto mar pescando, quando Luizinho ainda se formava no ventre de Joana.

Luizinho ainda estava em seu ventre, quando Joana tivera um sonho que só contara pra sua mãe. No sonho, ela passeava tranquila na praia, pensando como seria bom se Tonho estivesse vivo, pra sentir o prazer de ver o filho nascer, crescer e ser um homem sadio, amoroso com ela e amigo inseparável do pai.

Apesar de a pescaria ser uma atividade arriscada, perigosa, ela não se importava do filho também escolher a profissão do pai: a de pescador! Tonho também queria que o seu primeiro filho fosse um pescador como ele.

Enquanto passeava, absorta em seus pensamentos saudosistas, Joana, sem perceber, deitara-se na areia branca e fina da praia, e ali adormecera. Em seu sono, sonhara que o filho nascera, e feliz flutuava e voava sobre as águas mansas do mar.

Joana, apreensiva, lhe chamava acenando com as mãos. Era inútil, pois quanto mais ela lhe chamava, mais ele se afastava flutuando e voando mais alto.

Então ela, quando vira que o filho cada vez mais se distanciava, começara a respirar com sofreguidão, até que, de súbito, acordara daquele pesadelo. Comentara com a mãe sobre o sonho, e ela lhe dissera que não se preocupasse, afinal, era só um sonho, nada mais que um sonho.

Após a morte de Tonho, Joana sobrevivera fazendo doces e salgados. Vendia-os na feira, na porta de sua casa, na praia, no parque ou no circo, quando estes, de vez em quando apareciam no arraial.

O tempo passara e chegara a hora do filho nascer. As contrações e as dores se intensificaram. A parteira já estava pronta pra aparar o bebê, já que a mãe da parturiente a avisara na véspera, até que, ouvira-se o choro estridente de Luizinho. Ah, quanta alegria no semblante de Joana, quando pudera ver e por o filho querido em seus braços! Desejaria que Tonho estivesse também ali pra compartilhar com ela daquela alegria. Mas com certeza lá do céu, Tonho estava vendo e abençoando aquele momento maravilhoso, uma verdadeira dádiva fruto da união amorosa deles.

Muitos moradores de Saquaíra visitaram Joana. Ela era muito conhecida, pois fazia doces e salgados deliciosos. Recebera tantos presentes, que mesmo tendo feito com muito amor o enxoval de Luizinho, utilizara várias daquelas peças presenteadas com tanto carinho pela gente do pacato arraial.

O quarto de Luizinho ficara abarrotado de roupinhas e outros utensílios próprios para recém-nascidos. Com o tempo, cada vez que nascia um menino ou uma menina no arraial, Joana presenteava com uma daquelas peças, já que as guardara em abundância.

A vida transcorria sem problemas para aquelas duas almas unidas pelo Desígnio do Criador. Joana cuidava de seu bebê com todo o amor e natureza maternal, só comparável com o Amor de Jesus para com a nossa humanidade.

Luizinho estava com cinco anos. A casa possuía um amplo quintal cercado, e, logo após, a praia e o imenso mar. Joana deixava Luizinho brincar no quintal, mas ficava temerosa quanto à possibilidade do menino ir à praia, pois dali pro mar era um pulo.

Pensava assim, porém sabia que Luizinho ainda pequeno, jamais poderia pular sobre a cerca de dois metros de altura. Numa tarde, após a entrega de uma boa quantidade de doces e salgados feitos por encomenda, pra festa de aniversário do filho de um casal de turistas, Joana chegara à sua casa, e, ao dirigir-se ao quintal, pra ver como estava o filho, não o encontrara.

Apavorada, correra pra abrir o portão ( fechado com corrente e cadeado ) que dava acesso à praia. Ao olhar pro mar, ficara extasiada, perplexa com o que vira. Luizinho estava a uns vinte metros mar adentro flutuando sobre as águas mansas do mar.

Joana pensara de imediato: " Meu Deus! O que eu vi no sonho, agora é uma realidade! Ou estou sonhando de novo acordada?! Ah, meu Deus! Não posso crer no que estou vendo. Será que meu filho tem poderes sobrenaturais? Louvado seja, meu Deus! "

Então Luizinho, feliz, viera voando, voando, voando, e pousara à sua frente com um sorriso pueril na face. Joana lhe abraçara com lágrimas nos olhos. Por alguns instantes os dois ficaram ali em silêncio. Um pouco refeita, Joana lhe indagara:

- Luizinho, meu filho, o que está acontecendo? Como é que você faz pra voar? Eu nunca vi ninguém fazer isso. A não ser Jesus, que flutuou e andou sobre as águas... E depois que o seu corpo morreu, o seu espírito ressuscitou e foi pro céu, pra sua sublime e pura morada eterna...

Luizinho então beijara carinhosamente a sua mãe, e, fitando-a com um olhar angelical lhe respondera:

- Minha querida mãe: eu sou um Anjo! Agradeço-lhe por abrigar o meu espírito em seu sagrado ventre. Jesus agora me chama, para mais uma Missão de Amor e Caridade às almas da Terra. Espero que a senhora compreenda. Um dia nos veremos no Reino de Luz onde habito.

E o Anjo Luizinho, em missão sublime, flutuara e voara sobre as águas mansas do mar!...

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 30/08/2014
Reeditado em 25/11/2020
Código do texto: T4942987
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