Utopia
Quando ele nasceu não se notou diferença das outras crianças. Não vieram reis, mesmo porque hoje são poucos os reis. Foi um menino comum, jogou bola, brincou, jogou videogames, chorou e desobedeceu sua mãe.
Nunca disse ser filho de Deus, aliás, nem mesmo falou em Deus. Talvez nem acreditasse Nele. Mas sua voz era tão meiga, suas palavras tão belas e suas mensagens de paz tão contagiantes que, por onde passava, ninguém teve dúvidas de que ele era o messias.
E traficantes abandonaram as armas, assassinos choraram suas vítimas com tanto arrependimento, que as portas das cadeias foram abertas. E não houve mais crimes, e não houve mais roubos, mesmo porque os ricos e até mesmo os que tinham um pouco mais repartiram seu pão, seu dinheiro, suas joias. Só os loucos continuaram loucos.
Nenhuma rede de televisão teve coragem de filmá-lo. Só as notícias de que a paz se espalhava pelo planeta, de que soldados saíam das trincheiras e abraçavam seus inimigos dominavam os telejornais.
E desta vez não houve coroas de espinhos, nem bíblias, nem cruzes, nem quadros, nem imagens. Só a paz foi testemunha de sua passagem pela terra.
Luiz Walter Furtado Sousa