Do telhado da igreja às águas do Cárcere Mamertino

" Temos de ter em consideração ambos, a doutrina e as pessoas. Consideremos um tópico muito problemático, extremamente atual: o tópico dos casais homossexuais. Se encontro um casal homossexual, percebo imediatamente que o seu relacionamento é ilícito: é o que a doutrina diz e reafirmo isso com absoluta certeza. No entanto, se eu bloquear na doutrina, deixo de ver as pessoas. Mas se eu perceber que duas pessoas se amam realmente, dizem que praticam a caridade para com os necessitados… então eu também posso dizer que, apesar da sua relação ser ilícita, surgem elementos positivos nessas duas pessoas. Em vez de fechar meus olhos a esses aspectos positivos, eu prefiro valorizá-los. É uma questão de ser objetivo e reconhecer objetivamente os pontos positivos num determinado relacionamento que é, em si mesmo, ilícito."

(Cardeal D. Francesco Coccopalmerio, in Inside the Vatican, 01/11/2014 - tradução livre)

O telhado da Igreja de São José dos Carpinteiros colapsou em 30 de agosto de 2018: logo abaixo dessa igreja encontram-se os resquícios da prisão mamertina ou tuliana, cuja lenda atribui o local como o cárcere de São Pedro e de São Paulo. A água vem ungida de cima por chuvas, mas também brota das pedras da antiga cisterna nos subterrâneos da prisão. Na origem, o poço da prisão foi reservatório de água. Foi ali, conta a lenda, que os santos Martiniano e Processo, supostamente os guardas da prisão, foram convertidos e batizados por Pedro em um poço de água que este fez brotar por orações no cárcere, antes de serem eles também martirizados no "circo de Nero". Na Roma atual, o circo virou, de matadouro dos primeiros cristãos à centro da fé católica, na famosa praça de São Pedro no Vaticano.

Em 30 de agosto de 2018 colapsou o telhado da Igreja de São José dos Carpinteiros. Dias antes, em 02 de agosto de 2018 , o papa Francisco aprovou uma alteração formal no Catecismo da Igreja Católica, declarando a pena de morte como "inadmissível" sob qualquer circunstância. Por quase dois milênios, a Igreja Católica Apostólica Romana permitiu, apoiou ou praticou a pena de morte. A morte sempre foi louvada na tradição romana. Os romanos antigos vibravam na matança pública. O foro romano fica ao lado do cárcere mamertino, instalado desde o século VII A.C. para a aplicação da justiça do estado romano, entre as quais, estrangulamento ou decapitação. Decapitar era a forma de execução exclusiva aos nascidos como cidadãos romanos. Já o estrangulamento era dedicado aos estrangeiros, não qualquer um, mas os líderes dos povos inimigos de Roma. A prisão não era um destino de longo prazo ao encarcerado. Era uma transição entre a captura, um julgamento e até a sua execução. Enclausurados na antiga cisterna, acessada por um alçapão redondo e vazado, a prisão mamertina é um ambiente sufocante mesmo hoje.

Mal se imaginava que o teto da Igreja de São José dos Carpinteiros desabaria em 30 de agosto de 2018. Por sorte, não havia ninguém no desastre. Muitos casamentos importantes são realizados ali. Quando se realizou a festa do dia 29 de junho, em louvor aos dois mártires São Pedro e São Paulo, os fundadores da Roma cristã, o ambiente estava similar às portentosas celebrações de casamento na igreja de São José dos Carpinteiros. Há quem diga que a data comemorativa surgiu de uma cristianização de celebração pagã que exaltava as figuras de Rômulo e Remo, os dois mitológicos fundadores da Cidade Eterna.

Enfim, o telhado da igreja de São José colapsou em 30 de agosto de 2018, como um sinal vindo de cima na crença dos adversários declarados de Coccopalmerio, o cardeal que valoriza os “aspectos positivos das uniões homossexuais" para estes. Em 18 de fevereiro de 2012, tornou-se uma igreja titular. O cardeal-diácono da diaconia de São José dos Carpinteiros é Dom Francesco Coccopalmerio, o presidente do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, nomeado pelo papa Bento XVI. No noticiário policial consta que, em junho de 2017, a polícia do Vaticano prendeu o Monsenhor Luigi Capozzi, secretário de Coccopalmerio e capelão papal até 2007, por permitir orgia homossexual no interior de um Palácio do Santo Ofício, pertencente ao Vaticano, com uso de cocaína. A orgia foi encontrada nos aposentos do Monsenhor Capozzi no Palácio, onde vivem vários cardeais da Cúria Romana e onde viveu o Papa Bento XVI, antes de ser designado. Naturalmente, tendo em conta o posicionamento na hierarquia do Vaticano, deveria ser o Cardeal Francesco Coccopalmerio a ocupar a habitação, mas o que é certo é que era o seu subordinado que vivia lá. A intervenção da polícia do Vaticano ocorreu depois de queixas dos restantes inquilinos, quase todos cardeais, devido ao barulho excessivo e ao “fluxo constante de jovens homens”. Coccopalmerio havia recomendado que Monsenhor Capozzi fosse elevado a bispo pelo Papa Francisco. Há quem diga que a ocorrência ilícita foi ocultada do próprio Papa Francisco, até que ele se deparou com o assunto nos jornais.

Mais um telhado da igreja colapsou em 30 de agosto de 2018.