O paradigama de Próspero

Fantômas não tinha escrúpulos: agia como um sociopata, que gostava de matar, com todos os requintes de sadismo. Ele é intensamente cruel, não dá misericórdia e nem é leal a ninguém, nem mesmo a seus filhos. É um mestre dos disfarces e aparece usando várias identidades, muitas vezes das pessoas que ele elimina. Fantômas comete seus crimes com técnicas bizarras e improváveis, tais como inúmeros ratos ou cobras gigantes, mas sua preferência é encher quartos de areia com adversários dentro. As origens de Fantômas são vagas. Seus ancestrais podem ser britânicos ou franceses. Sua data de nascimento provável é 1867. Por volta de 1892, o homem que se tornaria o temido Fantômas, chamava-se a si mesmo de Arquiduque Juan North e morava no Principado germânico de Hesse-Weimar. Ele tinha um filho, Vladimir, cuja mãe fora uma nobre não identificada. Por volta de 1895, Fantômas foi para a Índia. Ali, uma mulher europeia não identificada deu à luz uma menina, Hélène, cujo pai pode ser Fantômas ou um príncipe indiano que fora o acólito de Fantômas. A menina cresceu na África do Sul. Em 1897, Fantômas foi para os Estados Unidos e México. Ali, ele levou à ruína, o seu sócio nos negócios, de nome Etienne Rambert. Em 1899, ele lutou na Segunda Guerra Boer na África do Sul com um nome de guerra, Gurn. Ele lutou no Transvaal como sargento da artilharia, sob o comando de Lorde Roberts. Depois foi ajudante de campo de Lorde Edward Beltham de Scottwell Hill e se apaixonou pela sua jovem mulher, Lady Maud Beltham. Em seu retorno à Europa, por volta de 1900, Gurn e Lady Beltham foram surpreendidos pelo marido dela, na alcova da Rue Levert, em Paris. Lorde Beltham estava para atirar em Lady Maud, quando Gurn o atingiu com uma marreta e para depois, o estrangular. A partir daí Gurn assumiu o nome de Etienne Rambert e incriminou o filho deste, Charles Rambert pelo assassinato de Lorde Beltham. Como Etienne, ele convencera Charles a se esconder, mas o jovem foi encontrado pelo detetive da polícia francesa chamado Juve, obcecado em capturar o Fantômas. O inspetor Juve percebeu que Charles era inocente e lhe deu uma nova identidade: a do jornalista Jerôme Fandor, funcionário do jornal La Capitale. Juve mais tarde prendeu Gurn e, durante o julgamento, argumentou convincentemente que o prisioneiro e Fantômas eram a mesma pessoa, o que foi suficiente para condená-lo, apesar das provas serem superficiais para um caso verdadeiro. Antes de ser executado, Gurn, o Fantômas, escapou da prisão, tendo colocado em seu lugar um ator com o rosto modelado com a sua aparência, o qual acabou guillotinado em seu lugar. Lady Beltham permanecia constantemente dividida entre a paixão pelo vilão e o horror que os crimes dele lhe causavam. Ela acaba por se suicidar em 1910. Fandor, anteriormente Charles Rambert, se apaixonou por Hélène e, apesar de Fantômas por várias vezes tentar impedi-lo, ele se casou com ela. O filho malvado de Fantômas, Vladimir, reapareceu em 1911. A namorada dele havia sido assassinada por Fantômas. Vladimir também acabou morto pelo inspetor Juve.

Virgílio Próspero adorava esta figura meio vilã, meio heroica do Fantômas. Desconhecia o cruel no original francês, mas era fã dos quadrinhos mexicanos de Fantômas, desde pequeno lendo “Fantômas, a ameaça elegante", da Editora EBAL. Seu herói, da versão mexicana, não era tão mau, apesar de ser um ladrão que cometia roubos espetaculares, apenas pela emoção que isso lhe proporcionava. É um herói "free-lancer", que escolhe a hora e os inimigos contra quem quer reagir. Isso o diferencia dos demais heróis, pois ele reage aos adversários que escolhe, atuando livremente na ilegalidade e na bandidagem, enquanto outros, como Batman e Spiderman agem como justiceiros ilegais, mas não são bandidos. Usava uma máscara branca e uma variedade de disfarces, sendo que sua verdadeira face nunca foi vista por mortal algum. Era perseguido pelas autoridades, principalmente por um inspetor da polícia francesa chamado Gerard. Em James Bond, se inspirou esse Fantômas equipado com a mais alta tecnologia fornecida por um cientista chamado Professor Semo , ladeado de seu robô C-19. As aventuras ocorriam em todo o mundo, em lutas contra criminosos de alta crueldade. O Fantômas dos quadrinhos era um milionário, amante das artes e proprietário de numerosas corporações que controlava com diferentes identidades. Tinha um quartel-general em Paris e vários agentes mundo afora, inclusive as doze "Garotas do Zodíaco", todas mulheres lindas que atendiam por codinomes nos signos do zodíaco. Tinha afeição por um gato chamado Iago, assim como por amigos como o Doutor Weichmann e o escultor de nome Linsday. Psicologicamente falando, esse Fantômas que Virgílio Próspero admirava manteve seu séquito de inimigos, devido seu caráter misterioso, um tanto quanto ardiloso, ao aparecer quando queria e sob a aparência de qualquer pessoa que queira se transformar ou mesmo, se travestir. Adota concomitantemente, um perfil requintado, numa conduta de pigmaleão. Carrega em suas vestes um arsenal, sem aparentar volumes nas roupas, surpreendendo os opositores que lhe fazem frente. Alguns destes acreditam que é um ser sobrenatural, porém a magia desse Fantômas dos quadrinhos (e de Virgílio Próspero) se resume na ciência que utiliza de maneira espantosa perante todos que se acercam dele.

Após sua prisão, Virgílio Próspero leu o Fantômas original do francês e, surpreso, percebeu que seus atos recentes no presídio, o afastavam do herói dos quadrinhos. Não se via mais como no estereótipo do "Fantômas, a ameaça elegante" e então, meditou:

- Quem era Virgílio Próspero de agora: o herói ou o vilão?