O atentado de Próspero

Nos últimos meses, o Presidente ampliou suas falas contra o crime organizado. Além disso, sempre foi crítico dos direitos humanos. Então, houve um atentado contra sua vida. Houve comoção nacional. A Polícia Federal entrou no presídio para buscar conexões entre a tentativa de homicídio e o comando das organizações criminosas que estava enclausurado. Foram saber de Virgílio Próspero quais eram as conversas dos líderes presos no presídio federal de Rondônia. Aos agentes federais, liderados por um delegado, nem gaguejou:

- Desculpe a sinceridade, mas PCC mandar matar um desafeto com um "Zé Ruela" armado com faca? É sério isso? Seria muito comédia. Já vi membro de facção executar advogado com cinco metralhadoras só por causa de honorários. Se fosse realmente uma execução do Presidente, ele já teria morrido e não seria por um cutucão de facada, que nem arrancou muito sangue na camisa amarela.

- Espera aí, meu caro Próspero, há evidências de que os líderes querem ver morto o Presidente e não é só por causa do que ele diz ou dos que o apoiam. Os mandantes lá fora devem ter avisado algo aos chefes do crime que vieram para cá? Soube que aqui esteve bem agitado. O que me diz? O delegado federal insistia em saber o que ele ouviu.

- Eu particularmente não acredito nesta história de PCC, PSOL ou qualquer outra sigla. É fácil jogar a culpa no aterro sanitário quando some uma sacola no meio do lixo. Ninguém aqui nasceu ontem e muito menos nós somos trouxas. A coisa anda por outros lados e vai aparecer no momento certo. Essa conversa de que "Quem debate com poste é bêbado" é um grande erro contra a Democracia do País. Todos nós sabemos que existe a minha verdade, a sua verdade e a verdade verdadeira, concluiu sabiamente, Próspero.

- Olha os sinais, Próspero. O agressor apresentava uma condição de vida extremamente humilde devido a sua situação, só que, após desferir uma facada contra o Presidente da República, do nada em menos de 48 horas, encontramos um Notebook e quatro aparelhos celulares em sua posse. Todos sabem que 72 Horas após o atentado terrorista aparecem quatro advogados que voaram até onde se encontrava detido a época em jatos particulares para o defenderem. Os quatro advogados cobram muito caro para defender seus clientes e diante da situação do terrorista, jamais teria como pagar. Estão se cobrindo pelo código de ética da OAB para não revelar que os paga. Junte as peças: crime organizado. Quem mais poderia ser?

- Ora Doutor. Nós, policiais vivemos tentando debochar da inteligência das pessoas. Pense em quem iria encomendar um assassinato desse tamanho com uma faquinha? Só quem não queria matar o homem é que faria isso. Não há nenhuma dúvida para todos que isso tudo foi organizado meticulosamente, só que é preciso ver, quem lucrou com um atentado que já nasceu fracassado. É necessário explicar o braço político que colocou o nome do sujeito no livro de visitas da Câmara dos Deputados em Brasília para gerar álibi ou será uma pista falsa? É preciso ver as filmagens, ver o sangue jorrando na camisa, encostar na parede o médico, o hospital etc. Se fosse algum grupo criminoso, esse pessoal não ia arrumar ao menos uma arma capaz para aquele cara fazer o serviço direito?

- Mas repare, disse cordialmente o Delegado. No dia do atentado, uma cena chamou nossa atenção. Mal chegou o agressor na delegacia, após a prisão em flagrante pela facada ainda mal divulgada na mídia, um advogado já se encontrava na unidade. Inicialmente, o criminoso recusou ser atendido pelo advogado que tentou convencer que havia sido enviado pela mãe do autor da facada, sem saber que essa parente dele faleceu em 2012. Depois, segundo testemunhas, os dois se reuniram em separado e, então, o advogado passou a atuar como defensor no caso. Muito esquisito!

- Veja Doutor, isso não diz nada disse o irônico Próspero. Conhece a velha piada dos dois causídicos? Dois advogados no final do expediente: uma pergunta para o outro. Vamos "TOMAR UMA"? E o outro indaga: de QUEM?

Acredito que qualquer advogado busca holofotes e quer um melhor que esse? Não seria mais plausível ter como “estratégia de marketing” desses caras, ou até, em outro extremo, considerou que a chegada do advogado tão rápido junto ao detido em flagrante significa mais uma hipótese de conluio para que o agressor não fale demais o que não pode ser dito?

- Sim, estou entendendo onde quer chegar, meu querido Virgílio Próspero. A conduta do representante da OAB em não revelar o nome do contratante que se dispôs, de forma inequivocamente suspeita, a custear a defesa de um criminoso de reconhecida periculosidade, e que cometeu um delito de ampla repercussão social e política, pode ocultar a real intenção de resguardar quem, eventualmente, pode ser o mentor intelectual, mandante do crime ou cúmplice de um complô, tão meticulosamente orquestrado para um fim que todos nós sabemos. Sei que é teoria de conspiração, mas temos o precedente no "caso do atentado do Riocentro". Concordo com você. A autoria material pode vir até da reserva moral da pátria. Só que não serei eu quem conduzirei esta linha de investigação. Não resisto uma semana no cargo se cogitar a hipótese desse conluio.

- Pois então Doutor, como sou ex-policial e estou detido neste presidio, junto com tanta gente esperta, ainda que com meus benefícios pelos serviços prestados, ninguém será melhor para buscar indícios desse complô, caso exista de verdade. Garanto-lhe que contarei com a ajuda da liderança das organizações criminosas aqui presentes. Alguém em algum lugar vai falar e nós saberemos. Você saberá.

- Muito bem, é disso que eu preciso, de sua colaboração, porém peço que, se for preciso, também me traga nomes e relatos dos integrantes do PCC ou outros comandos, diante de evidências inequívocas de que participaram desse crime. Estamos combinados?

- Sim, senhor. O que eu descobrir daqui de dentro, repassarei imediatamente aos seus cuidados. E tenho dito!

Finda a conversa, dias depois, Virgílio Prospero recebeu a informação da liderança do PCC: existe um sujeito Kauan Ramiro dos Santos, membro do PCC, o “Cauim”, como é chamado pela facção, que sabe de alguma coisa, pois se dava com o terrorista. Os dois se conheceram em Patos de Minas, onde ambos nasceram e cresceram. Até este ano, ainda mantinham contato por meio de redes sociais. “Cauim” já cumpriu pena por homicídio, mas atualmente, vive na cidade de Campinas, em São Paulo, que é o novo centro de comando da facção. Outro detalhe chamou-lhe a atenção: é um ex-militar e informante do Exército quando preso.