OS SEIOS E A CHUPETA, um diálogo.
Por Carlos Sena


 
A chupeta pensando alto teria dito: “detesto peito”, se eu fosse Deus faria as mulheres sem peito para eu reinar todinha diante das crianças! Uma senhora ia passando perto e seus seios ouviram essa chorumela. Não teve papas na língua e disse à chupeta: “Mulher não tem Peito não, tem seios”... Meu nome é seio, estamos entendidos sua chupeta intrometida? – Pois se achar ruim dê um jeito, porque pra mim você não passa de “peito” e é assim que vou te continuar chamando. – Azar o teu, porque as crianças não te querem mais nas suas bocas. – Pois isto é o que veremos, pois as crianças não saem de casa sem me levarem pendurada no pescoço. – Isto só acontece quando eu me descuido, mas estou fazendo uma campanha para acabar com todas vocês. – Pois faça e depois não se arrependa, porque as babás detestam vocês e estão do meu lado. – Babás, quer dizer que essas folgadas estão me traindo? – não só lhe traindo, mas torcendo por vocês secarem por completo. – Eu, secar? E saiu preocupada com a investida da chupeta. Em casa, após o banho, os seios começaram a ficar tristes com sua sina. "Amamentamos os filhos com o melhor nutriente de criança do mundo e, mesmo assim, não temos garantias de vida útil contra as chupetas, retrucaram".
Vendo que os seios estavam tristes, sua dona começou a “conversar” com eles. Ouviu pacientemente a história do diálogo entre eles – chupeta e seios, mas procurou tranquilizar. “Vejam bem, disse a senhora dona dos seios”, vocês me dão muito prazer. Aonde eu chego todos me olham e, quando tem oportunidade exaltam vocês como lindos, firmes etc. Meu ex-marido adorava vocês. Chegou até a dizer que vocês eram quem sustentava o nosso casamento. Confesso que fiquei aborrecida com isto, não por conta de vocês, mas porque eu achava que ele gostava de mim de corpo inteiro. Com isto a gente começou a se desentender e eu disse a ele: ou eu de corpo inteiro ou os seios. Ele disse que preferia os seios, mas os seios sem mim não poderia querer. Insinuou que iria arrumar outra que tivesse seios como vocês, mas corpo mais escultural do que o meu, coisa que não tenho até hoje. Se ele encontrou outra mulher não sei. Mas eu sei que continuo linda e muito apreciada pelos meus namorados que não se cansam de elogiar vocês, como sempre.
Com isto, os seios começaram a ficarem mais calmos. Só que as chupetas, reunidas em um congresso de chupa-chupa decidiram fazer uma campanha publicitária contra os seios. Um belo dia os outdoors estavam estampados cheios de chupetas em seus mais diversos estilos, cores, preferências, sabores. Um dos cartazes dizia assim: “crianças, não chupem peito, chupem a nós que não temos defeitos”. Noutro: “Não chupem peitos, crianças, pois seus pais quando vocês dormem chupam eles também”... Mais um: “peito de mulher seca, chupeta não seca é só substituir por uma nova”...
As mulheres ficaram “P” da vida. Os médicos que também condenam a chupeta logo se encarregaram de fazer uma contrapropaganda em conjunto com as mulheres. Onde tinha um outdoor das chupetas, colocava um dos seios. Um deles dizia assim: “Não às chupetas, elas deixam as crianças dentuças”... Outro: “Senhores pais, não comprem chupetas, pois elas caem no chão sujo, deixam os dentes cangulos, custam caro e a borracha é de procedência duvidosa”... Assim ficaram nessa “guerra” até que as mulheres fizeram uma grande investida: saíram em marcha pelas ruas da cidade todas de seios à mostra e com os filhotes no braço. A cidade ficou congestionada. Não apareceu nenhuma chupeta para contrariar. Do alto de um palanque, a mulher que comandava a marcha pegou o microfome e disse: “vejam nossos seios”. Vejam a felicidade das nossas crianças. Vejam como elas ficam fortes com o nosso leite. Vejam como os nossos maridos nos adoram. Vejam, pois uma criança que é amamentada por nós tem saúde para resto da vida. No meio do ato a oradora fez um minuto de silêncio pela “morte simbólica das chupetas no mundo”... Evidentemente que nenhuma chupeta compareceu ao ato. O detalhe ficou por conta das chupetas que estavam penduradinhas nas roupinhas das crianças presas por uma fralda. Só se pôde ver isto graças às babás que se vingaram das patroas nessa hora. Os seios ficaram só vivos, mas disfarçaram o quanto puderam... A multidão se dispersou e as chupetas seguiram seu caminho de mãos dadas com as empreguetes... Os marmanjos seguiram as mulheres e ficaram revoltados quando elas começaram a colocar a blusa sobre os seios...