O Rato Colado
Por carlos Sena. 

 
 
De repente dona Josefa chega ofegante na casa da vizinha. Nem a campainha tocou. Adentrou a sala e foi logo pedindo socorro. "Me acuda dona Justina, tem um bicho lá em casa que eu não consigo ver. Só ouço a latumia  debaixo da minha cama ao ponto de não conseguir dormir!" Dona Justina ficou apreensiva, mas também não pôde fazer muito. Sozinha, com sérias dificuldades de locomoção, convidou dona Josefa a ficar em sua casa até seu neto chegar da escola para poder ir em sua casa verificar o que estava acontecendo debaixo da cama. Quando o neto chegou já passavam das dezoito horas, mas ele foi à casa da vizinha ver que diabo de bicho incomodava. Ao se aproximar do quarto ouviu logo um barulho esquisito. Subiu sobre a cama e o rinchado aumentou, mas não o suficiente para imaginar o que pudesse estar acontecendo. MIGUEL - esse era o nome do neto de dona Justina, voltou pra casa pra pegar uma lanterna. Em vão, pois a lanterna estava sem pilhas! Mesmo assim Miguel retorna à casa para ver outro jeito. Decidiu, comum pedaço de cabo de vassoura ir passando debaixo da cama de dona Josefa no intuito de ver se topava em algum obstáculo que pudesse lhe dar alguma pista. Como o cabo de vassoura era curtinho, ele teve que adentrar com o braço para ver se conseguia. Levou uma dentada no dedo indicador é saiu gritando pra casa  todo ensanguentado. Foi um deus nos acuda! Lavaram o dedo de MIGUEL com água e sabão mas o corte foi tão profundo que ele foi conduzido a UPA de Paulista. Finalmente dona Josefa ligou pro seu filho que morava num bairro distante. Quando ele chegou foi logo matando a charada: "mãe, disse ele, eu coloquei dois COLA RATOS debaixo da sua cama, pois a senhora só vivia reclamando dos ratos. Eu passei na cidade e vi os camelôs vendendo umas cartelas apropriadas para colar os ratos. Eu coloquei debaixo da sua cama e esqueci de lhe avisar". Foi a casa da sua mãe, acendeu a luz, afastou a cama e... Lá estavam dois guabirus colados pertinho um do outro, mas na mesma lâmina. Essa lâmina era parecida com uma lixa de madeira. Retira-se dela uma película e fica uma cola "a céu aberto" com uma super aderência. Quando o rato passa distraído, por cima, fica preso. Mas, não morto e ai estava outro problema. Os ratos estavam "colados" quase que juntos um do outro, pois a folha só cabe um rato, mas deu azar num dos ratos que passou junto do outro e também ficou. Numa distância de meio metro tinha outra armadilha de "cola rato", mas sem nenhum preso nela. A solução encontrada foi desarmar a cama de casal de dona Josefa para facilitar a matança dos dois guabirus. E a essa altura estavam no quarto, além do filho de dona Josefa, vários outros vizinhos curiosos e afoitos. Os dois bichos ficaram a vista de todos: estrebuchavam, grunhiam, mas não conseguiam forças suficientes para vencer a cola e avançar sobre a "plateia" e, quem sabe fugir. Teve uma hora que eles saíram embolando grudados um no outro como se estivessem dentro de um pacote, mas não  se desvencilhavam. Num passe de magica um deles, finalmente se desgruda e, raivoso, avança sobre os curiosos. Não ficou ninguém no quarto! Um bando de macho frouxo, deve ter pensado o guabiru que se danou portas afora. Mas ficou o outro lá, preso. O filho de dona Josefa, exaurido, chegou com uma panela de água fervendo e jogou em cima do guabiru que não conseguiu se desvencilhar da cola e o matou. O bicho mesmo assim foi morrendo aos poucos e " esbravejando". Foi puxado com uma vassoura e jogado lá fora da casa num terreno baldio. Restou ao filho de dona Josefa, sozinho, lavar o quarto com água sanitária, armar a cama da mãe e depois ir buscar Miguel  - o neto de dona Justina que estava na UPA tomando vacina antirabica, por conta da morrida das ratazanas. Quando dona Josefa, finalmente, entrou no seu quarto para dormir já eram quase meia noite. Deu uma bronca no filho e disse que enquanto vida tivesse não queria essa peste de cola rato em sua casa.