MESA DE BAR

Amigo meu perguntou certo dia em uma mesa de bar.

--Jack! Por que prefere viver sozinho? --Você desse jeito não vai longe. --Toma vida desregrada, assim não dura muito.

Sentindo-se embriagado do outro lado da mesa em plena segunda. Tem semana toda pela frente e teima em procurar por justificativas fúteis para beber.

--Sabe Heitor, aprendi com meus poucos anos de experiência no campo epistêmico da boemia que ralar o salário suado, somente vale a pena quando dele faço meu happy hour! --Uma fase. --Não tome-a como um modo de vida.

--Cara você vai mal nem mulher tem.

--Olha, se diz para eu arrumar rabo to fora. --Prefiro aderir a causa da resistência à rivalidade na relação de trabalho cotidiano.

--Sei como é Jack. --Duras penas. --Mas se entregar desse jeito não melhora as coisas.

Contem-se. Da o rosto. Faz de conta que a conversa pouco interessa insinuando a mudança de assunto. Insiste.

--Não fala nada? --Prejudica-se dessa forma. --Você possuí um futuro para investir, não o jogue fora dessa maneira. --Seria desperdício.

--Sabe o que é Heitor!

--hmm...

--Acho que na real você não existe. --Devo conversar com minha consciência, confere?

--Cara, nos conhecemos desde criança. --O que está acontecendo? --Por que fala assim?

--Estou sendo realista Heitor! --Se bebo aos montes devo ter desenvolvido a capacidade de conversar comigo mesmo, estou certo ou não? --Do contrário porque haveria tantas pessoas com seus olhos arregalados em nossa direção?

--Deve ser porque vc está exaltado de tão bêbado e, por isso chamo sua atenção. --Pare de beber tanto!

--Bem Heitor, responda-me do porque há apenas um copo na mesa?

O homem entorna seu último gole de whisky sem gelo devolvendo-o com força como se houvesse interrompido com diálogo. De um movimento inesperado afasta a cadeira para longe. Balbuciando últimas palavras deixa junto a garrafa vazia a pequena quantia que paga seus onerários. Ajusta seu chapel. Da face a garrafa como se deixasse alguém falando sozinho. Os poucos que restaram no bar estavam perplexos com que viram. Um jovem maduro conversando sozinho de bêbado que estava, como se falasse ao futuro adiante. Dá as costas a sociedade e não demora muito para esgotar sua realidade. Caminhando aos tropeços se perde em meio ao breu da noite. Diz a família da mesa ao lado.

--Tadinho, tão novinho!

Jack, 14,04,2015.

Jack Solares
Enviado por Jack Solares em 14/04/2015
Reeditado em 20/07/2015
Código do texto: T5206190
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