CORDEL À MINHA MANTA DE RETALHOS


Vou contar-lhes a história
de uma manta que está sendo montada
de retalhos que foram guardados
de experiências vividas,
grandes recordações,
que envolveram duas vidas.

Cada pedaço uma história diferente
como diferentes são os tecidos
nela constituídos:
Cetim, linho, seda, algodão,
falar dela é para mim
sempre uma grande emoção.

Construindo essa manta pouco a pouco
misturando lágrimas e alegrias
sem horário definido para nela trabalhar
às vezes de noite, às vezes de dia;
suas lindas cores trazem inspiração,
muito trabalho e também gratidão.

Mergulhada em pensamentos
não posso esquecer os lindos momentos
que a vida nos ensinou a viver
hoje, com ela em minhas mãos
mesmo sem terminar, embrulho com ela
para sentir-me muito mais bela.

Ao escrever este poema desejava dizer:
“Nossa Manta de Retalhos”, mas não posso,
pois agora ela depende dum único esforço.
Ela enriquece e enobrece o meu viver;
cada fio da tecelagem revela minha coragem
de prosseguir nessa viagem.

Ainda não sei quando vou terminá-la;
o tempo vai passando e minha vida levando.
Fui criança feliz, adolescente impaciente;
e mulher muito apaixonada.
Estava no caminho do meu intento,
mas logo começou meu sofrimento.

Cursei faculdade, casei, tive filhos
dedicada à casa, família e ao trabalho;
descuidei dos meus sonhos andando por atalhos;
percebi estava esquecendo-me, anulando-me.
Acordei e dei o grito de liberdade, para ser
dona de minha vida e das minhas vontades.

Foi uma descoberta muito oportuna
que faz parte de um tempo de alegrias
quando avalio os meus erros e acertos,
diante de tantos panos despedaçados,
reorganizo minhas grandes esperanças
para viver num clima de maior confiança.

Se temos perdas, também teremos ganhos
oportunidades valiosas e sem tamanho
melhores condições para ajudar
e renovadas experiências no compartilhar.
Com essa manta tenho prazer de cobrir meus filhos
desejando que nunca percam o seu brilho.

Diante dos desagrados, continuo firme
defendendo a família e a nossa fé
valores que aquecem o coração
e nos fazem permanecer de pé;
preparam para a vida a ser vivida
e libertam da frieza da solidão.

Continuo guardando pequenos retalhos
como lembranças de grandes saudades
que aos poucos vou alinhavando
como se fossem uma linda canção;
não mais molhados de lágrimas
guardadas eternamente em meu coração.