Mar
Foi cabocla faceira,
menina, moça parceira,
canhota, burra, brejeira,
em vêz, de nome apelido,
moleca, besta, cambeta!
Olhava o céu de estrelas,
beijando a flôr da laranjeira,
mas era feliz, a piralha,
desengonçada e feia!
Seguia em frente, á sonhar,
na timidez do olhar,
cabeça baixa, ao falar,
minhoca, lerda no andar!
Era chamada, de sonça,
corcunda, torta, e tonta,
que só servia, pra lida,
comprava um canto, comida!
Se vestia, igual a um homem,
mas tinha pureza, em seu nome,
o mar, que lhe matava a fome,
e a Lucia sua companhia.
Falava consigo, e sabia,
que muito longe, ainda iria,
levando, esperança no peito,
embora só, a coitada!
Não tinha teto, morada,
somente, os sonhos da mente,
A fé, e os anseios da alma!
Triste, cachorro sem dono,
de gente, não teve nada,
agora, o passado esta longe,
e as lembranças, vagueiam seu sono,
a faz lembrar que sofreu,
trabalhou e padeceu, triste sina viveu,
morou em muitas famílias,
e nem uma, o destino lhe deu!
Mas entre as proezas da vida,
a natureza foi terna,
pássaros e flôres do campo,
enfeitaram, os sonhos dela,
teve e o sol e a lua,
em serenata pra ela!
Rezou, em solo vermelho,
plantou a sua herança,
regou o chão, com seu pranto,
e viu brotar a esperança!
no cheiro, das flôres e frutos,
formou seu peito criança,
e assim, viveu nos sonhos da alma,
o seu tempo de criança!