Sou do Tempo
Por Carlos Sena (Da série “Textículos”)


 
Sou do tempo do retrato. Sou do tempo. Do tempo que tem e do tempo que tinha. Sou do tempo do retrato e do retrato fiel ao tempo dos quintais onde havia “galos, noites e eles”... Tempo das serenatas nas janelas das namoradas, retratos fiéis de um tempo que o amar não era moda, mas modo de vida. Amar alguém de verdade dispensava o “ficar” de hoje, o “namoridar” de agora – verdadeiros retratos que não precisavam ser postos no facebook que nem sequer existia. Fotos de fatos recuperados na imaginação fértil e rica contrariando a simplicidade da vida, mas fincando nela a complexidade atrevida do sentir verdadeiro. Sou do tempo temperado pelos amantes a moda antiga. Tempo da carta escrita e perfumada e postada no correio para o ser amado; tempo em que os filhos temiam o olhar severo dos pais e lá fora havia galos noites e muitos ais.