aos corruptos

tanto me dói por dentro,

a alma, o meu coração,

ter que viver o desalento

da corrupção.

não que seja como faca,

mais que faca: corrosão,

feito ácido que come o espírito,

por dentro, a corrupção.

começa pelo povo pequeno,

quando de tudo quer tirar vantagem.

ora, é o mesmo pensamento

e a mesma vadiagem

desse povo que se elege

e vai achando que ter poder

é ato que se exerce

para a si próprio exercer.

quer-se obter o lucro,

se quer é ter capital...

talvez seja esse o fulcro,

a essência desse mal.

talvez se acredite no dinheiro

bem mais que em qualquer religião

e a prece que se faz sem receio

seja esta, sem exceção:

passar a perna, não ter caráter,

roubar do povo, passar a mão;

não pode ser outra coisa

essa tal corrupção.

prefeito eleito, que ganha tanta

regalia em licitação,

que chega a parecer que gosta

de ver ao povo faltar o pão.

governo terceirizando,

tirando direito ao trabalhador,

e deputado apoiando,

roubando o nosso suor.

só pode que, em vez de amar

o trabalho público, são só ladrões,

gente que quer nos matar,

em vez de encontrar soluções

para que nosso povo coma bem,

more digno e vista-se agasalhadamente.

esse político se fosse justo

não mentia como ele mente

e o povo, ouvindo-lhe a mentira,

não votava pra ter vantagem,

por qualquer gasolina

ou cinquenta reais. que bobagem

pra quatro anos de miséria,

vendo-os fazerem malandragem, —

trabalhando sempre em férias,

vivendo de safadagem!

vereador uma vez por semana,

que trabalha em outro emprego,

que só tem tempo de ganhar mais grana,

mas não pro povo, seu tormento.

vereador uma vez por semana,

deputado de vez em quando,

que nem entende bem por que ganha,

apenas sai faturando.

o que me faz ficar amargo

pelo pouco que posso fazer,

quão nojento e desalmado

é esse ato de se vender!

o que me faz ter vergonha

de dar a mão e sorrir como um louco

a umas certas pessoas

que nos causam só desgosto,

vendo puxa-saco dar tapinhas

nas costas de gente ruim,

em suas limpas carinhas

lembrando a judas e a caim,

falando que ajudam o povo

fazendo menos que se devia,

cobrando de nós imposto

sem devolver serventia.

empregando incompetente

por apoio e votação,

trabalha-se firmemente

por sua corrupção.

o que me faz cansar da luta

e com raiva me exaltar:

nós somos filhos da culpa

de pouco nos irritar,

de aceitar o que nos dão

em migalhas qual refeição,

de não jogar esses políticos

em conjunto num lixão,

de não virar-lhes a cara

ou cuspir em suas mentiras,

as quais sabemos que não enganam

nem mais mesmo suas vizinhas;

de não invadirmos a alep,

o senado, toda a construção,

que, pública, não esteja de nosso lado,

mas à nossa contramão!