O acadêmico nas profundas infernais

Primeira parte: chegada ao inferno

De cá vamos embora

Como sempre se dá

Chega uma tal hora

Das canelas esticá

Mesmo com demora

A morte aparecerá

Diferente não seria

Com tal estudioso

De muita sabedoria

Homem tão orgulhoso

O acadêmico seria

Grande gênio famoso

Faleceu de mal agudo

Coisa meio esquisita

O saber lhe custou tudo

“A ignorância me irrita!”

Dizia o ele todo sisudo

Assim o cérebro lhe frita

Uma vez de vez morto

Chegara no seu lugar

De tão metido ia torto

Tudo sempre a avaliar

Viu não haver conforto

No inferno ia morar

Pro céu ele não avoou

Pois trazia carga pesada

De fato ele não largou

Da sua grande papelada

Os velhos livros levou

Arrastando pela estrada

Os portões ele bateu

Veio logo um capeta

Com porteiro pareceu

Disse feito malagueta

“Aqui é pra quem morreu

Neste lugar não se meta!”

O doutor se ofende

Com tamanho destrato

“Abra seu feio duende

Entrar quero de fato

Já vi que não entende

Que sou eu que aí bato”

O infernal porteiro

Seu livrão consultou

“Me diga lá primeiro

Como você se chamou

Aqui não é chiqueiro

A ordem sempre reinou!”

Ele não ficou calado

Apresentar-se era bão

“Sou PhD e doutorado

João Marinho Galalão

Mestre e licenciado

Das ciências o campeão!”

O capeta achou feio

Cada figura apanha!

Ia se valer de todo meio

Usar toda a sua manha

Pra botar um freio

Em soberba tamanha

Disse o funcionário

Sacudindo a caneta

“Escuta bem canário

Sou aqui bom capeta

Ganho meu salário

Ponha na carrasqueta”

“Títulos no inferno

não podem mais valer

Usando pêlo ou terno

Todos hão de arder

Não temos cá inverno

O doutor há de ferver!”

Resposta tão capetiça

Irritou o estudioso

Pois era uma injustiça

Com homem tão brioso

Rebenta-lhe a cortiça

Ficando ele furioso

“Oh, Seu demo imbecil

Assim fica complicado

Faculdades fiz umas mil

Sou homem bem educado!

Douto assim ninguém viu

Diplomas tenho bocado”

O porteiro se invoca

Manda a alma entrar

“Este nem se toca

Uma cilada vai achar

Vai levar muita moca

Aprender o cão respeitar!”

Guilherme Drumond
Enviado por Guilherme Drumond em 25/10/2005
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