Auta de Souza

Auta de Souza
Rita Cruz
1
Ao Grande Deus Soberano
Peço boa inspiração
E aos Seus anjos divinos
Discernimento e emoção
Pra falar de Auta de Souza,
De singelo coração.
2
Nascida em Macaíba
Dia doze de setembro,
De setenta e seis o ano,
Falou Cascudo me lembro,
Grande poetisa mística
Do catolicismo membro.
3
De Elói Castriciano,
E Leopoldina filha,
Que logo órfã deixou
A preciosa menina,
Morreu de tuberculose
Deixando pra filha a sina.

4
No ano seguinte Auta
Que pela mesma doença
Seu querido pai perdeu,
A morte veio sem licença
E sua vozinha materna
Dos netos teve clemencia.

5
Silvina Maria sua vó,
De Dindinha era chamada
Senhora analfabeta
Acolheu em sua morada
Os cincos netos queridos
De sua filha adorada.
6
Auta e seus quatros irmãos
Pra o Recife se mudaram
Na chácara de sua avó
Logo se acomodaram
E em uma boa escola,
As crianças estudaram.

7
Aos onze anos de idade
Auta foi matriculada
No colégio São Vicente
De Paula fora educada,
Por freiras Vicentinas
Francesas era estimada.

8
Aprendeu falar francês
Inglês e literatura
Música e também desenho
Com muita desenvoltura
E lendo no original
Toda obra de cultura.
9
Quando tinha doze anos
Outra tragédia viveu
Seu querido irmão mais novo,
Chamado de Irineu,
Sofreu um grave acidente
E numa explosão morreu.

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Mais tarde aos catorze anos
Foi ficando enfraquecida
Pois a tal tuberculose
Tomou conta de sua vida
No colégio religioso
De estudar foi impedida.
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Começando a escrever
Com aos dezesseis de idade
Apesar de sua doença
Não tinha dificuldade
E no Club do Biscoito
Ia com regularidade.
12
O Club do Biscoito era
Uma boa associação
Eram amigos e poetas
Que promoviam reunião
Onde eram recitados
Poemas com emoção.

13
Auta conheceu Leopoldo
Por quem se enamorou
Namoraram por um ano
Mas o destino os separou
Por causa de sua saúde
O casal se afastou.

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E pouco tempo depois
A doença também levou
Leopoldo seu amor.
Consternada Auta ficou
Sendo o quinto fator
Que a sua obra marcou.
15
Escrevendo poesias
Auta assim continuou
Dhalia seus primeiros versos
Ela logo publicou
Assim por Horto mais tarde,
Este se intitulou.

16
Lá pra Serra da Raiz
Sua família viajava
E era na Paraíba
Que Auta logo melhorava
Escrevendo poesias
Seu espírito alegrava.

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Na época que ela escrevia
Auta pra se proteger
Adotou um pseudônimo
Para poder escrever.
Hilário Neves o nome,
Que veio a esconder.
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Depois por Hilda Salúcia
Ela também escrevia,
Passando porém um ano
Ela logo decidia
Sair do anonimato
Mostrando sua poesia.

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Cada vez mais dedicada
Com perfeita maestria
Auta de Souza brilhava
Enaltecendo a poesia
Versos de puro lirismo
Com destreza ela escrevia.

20
Para prefaciar seu livro,
O Horto intitulado,
Olavo Bilac foi,
O poeta encarregado.
Da poesia Bilac
Era poeta prendado.

21
Auta de Souza querida
Veio logo falecer
No dia sete de setembro
Difícil de esquecer
Este dia tão fatídico,
Que fez o Estado sofrer.

22
Cemitério do Alecrim,
Seu corpo foi sepultado,
Mas em mil novecentos e quatro
Teve os restos mortais retirados
Pra o jazigo da família
Na igreja localizado.

23
A academia de letras
Sua obra reconheceu
Dedicou-lhe uma poltrona
Número vinte lhe deu.
O nome Auta de Souza
A poesia enalteceu.

24
O livro da poetisa
Teve segunda edição
Foi Tristão de Ataíde
Que fez com dedicação
O prefácio da bela obra
Com muita convicção.

25
A poeta de Macaíba
O nordeste enriqueceu
Com sua bela história
De tão nova que morreu,
Mas de grande sabedoria
A poesia resplandeceu.

26
O livro Horto, eu li
Com ardor e emoção
Sentindo em cada verso,
De Auta a dedicação,
Seu lirismo acentuado
Comoveu meu coração.

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No ano de cinquenta e um
Uma lápide foi feita
Tendo como epitáfio
Para não fazer desfeita
De um poema foi extraído
Da sua obra perfeita,

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Os versos assim diziam
Longe da mágoa enfim
No ceu agora repousa
Quem sofreu um triste fim
Mas amou demais na vida
Reconhecemos que sim.

29
“Noite Auta, Ceu Risonho”,
Um documentário escrito
Por uma pesquisadora,
Na televisão foi visto
A vida da poetisa
Que sofreu amando Cristo.

30
Em suas belas poesias
Auta sempre exaltava
Amor a Virgem Maria
E as crianças amava
Seu jardim cheio de flores
A poetisa adorava.

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Catorze de seus poemas
Foram musicalizados
Por artistas regionais
Homens bem conceituados
Mesmo sem a partitura
Dos poemas registrados.

32
Foram transmitidos apenas
Pela tradição oral
“Rezando” foi um poema
Que teve o tutorial
E “Caminhos do Sertão”,
Um poema sensacional.

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Só apenas esses dois
Foram fonograficados.
Modinhas eram cantadas,
Nas escolas relembrados,
Em suas festividades
Seus versos eram exaltados.

34
O poeta Mário de Andrade
Em sua obra ele cita
Esses poemas benditos
Bordados com linda fita,
Numa viajem que fez
Em Natal como turista.

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Hoje estou gosando a vida
Na Redinha de Natal
Chega um choro, clarineta
Violões, ganzá e tal
Uma série deliciosa
De samba sensacional.

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Termino aqui cantando
Uma modinha bonita
De Auta e Itajubá
Que meu coração excita
Para sambar com leveza
Ou eu não me chamo Rita.

37
Diz assim eu entendi
Que a noite abriu a boca
Sem a gente se sentir
E não foi uma coisa pouca
Sambei a noite todinha
Rebolando como louca.
FIM
“As noites de lua-cheia,
O céu parece sonhar...
A lua é como A sereia
Boiando dentro do mar.”
(Auta de Souza)
Ritacruz
Enviado por Ritacruz em 29/03/2021
Código do texto: T7218733
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