A volta

O tempo me trouxe aqui

Para reviver lembranças

Minhas coisas de criança

Que deixei quando parti

Até chorei quando vi

O meu pé de limoeiro

E o pavio do candeeiro

O armador na parede

Onde ficava minha rede

Do meu sono verdadeiro.

O oratório de consagração

Que mãe guardava os Santos

E um quadro bem no canto

Do Sagrado Coração

O livro de oração

A imagem de Santa Luzia

O Rosário de Maria

Um terço e uma cruz

E o menino Jesus

Com a sagrada família

O caderno que eu anotava

Minhas primeiras poesias

Ainda uma velha bacia

Que a gente se banhava

A cuia que mãe botava

Xerém e massa de milho

Para alimentar os filhos

E uma enxada largada

Sem cabo, enferrujada

Sem cunha, cega e sem brilho.

Os silos e o moinho

Que eu chamava de maca

E os chocalhos da vaca

O cochete no caminho

A rodia e o baldinho

Que na cabeça botei

Quando água carreguei

Do poço e do caldeirão

Só há cinzas no fogão

Que um dia me esquentei.

O monturo estava lá

Que meus pequenos irmãos

Brincavam de plantação

Naquele fértil pomar

Só pra’s galinhas ciscar -

Tinha também o poleiro

O curral e o chiqueiro

O cocho dos animais

E o cepo que meu pai

Se sentava no terreiro.

A pedra de amolar

Estava bem desgastada

Enterrada na calçada

Sem ninguém para usar

Meu pai vivia a afiar

A enxada e o Machado

Deixava bem amolado

A faca de capar porco

O cavador de arrancar toco

E a foice do roçado.

O carretel pendurado

Da cacimba do oitão

As cocheiras e no mourão

Uma cabeça de gado

O pote velho rachado

Uma cabaça também

Nenhum dos dois água tem

Só cupumã e poeira

E uma saudade inteira

Que já me deixou refém.

Meus pais estão na cidade

A casa está fechada

As paredes estambocadas

O teto o cupim invade

Ainda chorei de saudade

Vendo ali os meus irmãos

O tempo volta mais não

Cada um segue sua vida

Adeus minha terra querida

Adeus meu lindo sertão.

Lúcia

Oxelucia
Enviado por Oxelucia em 31/03/2022
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