Canto quase que homérico
Afrodite no Pinel,
Vejam só que coisa, gente!
Tinha uns tique furioso
Que a internaram por demente.
Lá que viu o pobre Hefesto
Que de feio dava pena,
De ironia deu-lhe o pomo
Que furtou a Hera e Atena.
Seu Orfeu foi comprar fumo,
Viu Eurídice na venda,
Cuspiu preto e na viola
Fez um som pra sua prenda
Que dançava toda prosa,
Quando entraram as Bacantes,
Maliciando a coisa a moça
Disse ríspida e cortante:
“Vam’embora, Orfeu, seu traste, e
Tira o olho, seu devasso!”
E Orfeu sorrindo disse:
“Por você eu tudo faço.”
Zeus olhou pro crucifixo,
“Ai meu Deus, meu Deus me acuda!”,
Fez três reza ao pobre-diabo
E depois seguiu a luta.
E o pobre Hermafrodito
Foi por Sálmacis violado,
Quis dar parte na polícia
Mas foi preso de atentado
Ao pudor, porque tomava
Banho nu em frente à sócia,
Por ser dúbio sentenciaram
Falsidade ideológica.
Fui mijar em uma árvore
Descuidoso e era Mirra
Que me foi gritando: “Ô porco,
Feche já essa sua braguilha!”
Com o susto me molhei
Todo e as ninfas da floresta
Estouraram-se no riso
Vermelhando até mi’a testa.
Mas Adônis e Afrodite
Foi que mais racharo o bico
Vendo a cena ao passearem
Na floresta a caçar bicho.
As anêmonas floriram
E Perséfone enciumada
Fez o diabo a carpir flores
Na floresta encantada.
Por sua vez, o Jesus Cristo,
Que não via luxo há muito,
Veio entrar no vaticano e
Se pasmou co’aquilo tudo.
Viu a cruz, não se conteve,
Fez tirar o cristo dela
E quis ser crucificado
Outra vez, mas na capela!
E João Paulo, o segundo,
Vendo aquilo estremeceu:
“Valha Deus, que dessa vez
Jesus Cristo enlouqueceu!”
O rei Minos, que vergonha!
Bobeou, levou chifrada, —
Que a mulher, amando um touro,
Fez pro esposo uma galhada.
Mas a esposa desculpou-se:
“Ora o que fiz, meu bem, esqueça,
Isso de chifre é coisa que
Te colocaram na cabeça”.
E a quem estas coisas ouve:
É verdade o que aqui digo,
E se alguém não acredita:
Tanto faz,
Nada lucro eu com isso!