Tempos de hoje

O caboclo nasce pobi

Trabaiano pra daná

Arrastano cobra pros pés

Não ganha nenhum reá

Se ano é bom de chuva

Noutro a seca vem castigá.

Vem um dos fi dele e diz:

-𝑷𝒂𝒊 𝒗𝒐𝒖 𝒑𝒓𝒂 𝒐 𝒔𝒖𝒍 𝒕𝒓𝒂𝒃𝒂𝒊á,

𝑬 𝒈𝒂𝒏𝒉𝒂𝒓 𝒖𝒎 𝒅𝒊𝒏𝒉𝒆𝒊𝒓𝒊𝒏𝒉𝒐

𝑴𝒐𝒅𝒆 𝒑𝒐𝒅𝒆𝒓 𝒍𝒉𝒆 𝒂𝒋𝒖𝒅á

Pega o oimbu, vai embora

E fica um ano por lá.

Trabaiá em terra estranha

Pois a sua falta chuva

Enfrenta o corte de cana

Ou então catano uva

O caminho da maldade

É reto e não tem curva.

Chegou o dia cinco

Pagamento num vem não

-𝑻𝒓𝒂𝒃𝒂𝒍𝒉𝒆𝒎 𝒎𝒂𝒊𝒔 𝒖𝒎 𝒃𝒐𝒄𝒂𝒅𝒐

É 𝒂 𝒐𝒓𝒅𝒆𝒎 𝒅𝒐 𝒑𝒂𝒕𝒓ã𝒐.

Dizia um capanga armado:

-𝑵ã𝒐 𝒒𝒖𝒆𝒓𝒐 𝒓𝒆𝒄𝒍𝒂𝒎𝒂çã𝒐.

E já era quase dia trinta

O dinheiro não chegou

Sem poder dar um recado

Porque o sinal cortou

O caboclo diz aos zoto:

-𝑨𝒈𝒐𝒓𝒂 𝒂 𝒏ó𝒔 𝒔𝒆 noɹɹǝℲ.

Um já chama para fugir

Mais saída não vê não

Tão distante da cidade

No bolso só um tostão

Deram fé que o serviço

Está mais pra exploração.

E o patrão prometendo:

-𝑻𝒆𝒏𝒉𝒂𝒎 𝒄𝒂𝒍𝒎𝒂 𝒄𝒊𝒅𝒂𝒅ã𝒐

𝑨 𝒄𝒖𝒍𝒑𝒂 é 𝒅𝒆 𝒗𝒐𝒄ê𝒔

𝑸𝒖𝒆 𝒗𝒐𝒕𝒂𝒓𝒂𝒎 𝒆𝒎 𝒍𝒂𝒅𝒓ã𝒐.

E na fazenda vinte carros

E mais uns dois avião.

Leitor isso é ficção?

Quem pensa tá enganado

Que essa história aconteceu

Só lá no século passado

Mas agora se repete

Se a gente não tem cuidado.

O pobre ficou com as sobras

De tudo que a vida trouxe

É quem arrasta o arado

Facão, enxada e foice

Sai em busca de melhora

Vem outro ser e o explora

Ganha além da queda, coice.

Lúcia

Oxelucia
Enviado por Oxelucia em 23/03/2023
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