O CREPÚSCULO DE UM POETA.

 

 

 

“Só o amor nesta vida conduz " – Lupicínio Rodrigues

 

                                        

 

 

Mesmo já orbitando uma idade crepuscular e, sabendo das dificuldades que isso acarreta, eu ainda não desisti de procurar a minha alma gêmea, se é que ela existe mesmo.

Pretendo e sonho encontrar a felicidade na felicidade de alguém, só dessa forma, eu poderei para sempre desfrutar de uma vivência pacífica e feliz; claro, se isso ainda for possível!

Não pretendo morrer lentamente, sem antes perceber que aos meus olhos voltaram aquele brilho que denuncia uma nova paixão, e que, mesmo aos tropeços, o meu coração viva resmungando murmúrios novos.

Às vezes, eu me quedo diante de uma evidência que ando percebendo, é que, eu tenho notado com certo desgosto, mesmo não querendo acreditar, que os amores das mulheres hoje em dia parecem raros.

Eu poderia usar as frases bem organizadas, bonitas e feitas para essa ocasião de doÍda decepção, entretanto não vou usá-las aqui, porque infelizmente elas não podem dizer ou traduzir a minha profunda desilusão e o meu padecimento por ter que escrever assim.

Espero também não está sendo ingrato com a minha própria vida, pois obstinadamente muito já ceifei esse amor, inclusive até em trigal alheio.

Mesmo ceifando em trigal alheio, eu não encontrei o verdadeiro amor, percebi sim, que as mulheres, pobres coitadas, têm informações equivocadas sobre esse sentimento.

Elas afirmam descaradamente que preferem ter apenas amantes, coisa efêmera, somente para uma noite ou alguns dias, eu acredito até que os mais longos “casos” durem alguns meses.

Nesses momentos, o da conquista pura e simples, eu me lembrava da composição de Lupicínio Rodrigues em que ele dizia ou cantava na canção “Esses moços”: “Só o amor nesta vida conduz. Saibam que deixam o céu por ser escuro. E vão ao inferno a procura de luz”.

Infelizmente, essa canção do Lupicínio serve muito bem também para “Essas moças”, porque hoje elas querem somente um amor transitório, isto é, para uma noite ou para apenas alguns dias.

Eu gostaria muito de encontrar numa mulher a reciprocidade no amor, e que ela me ofertasse o cálice desse sentimento como se fosse o último troféu ganho no tardio crepúsculo da vida.

Se assim acontecesse, poderíamos estabelecer o último marco de nossas vidas, com os persistentes rumores dos beijos e dos afagos.

Isso feito, esse suposto amor nos limitaria dentro de uma profunda amizade que, se possível, transformaríamos em algo maior ou em eventos que satisfizessem e realizassem as nossas ansiosas almas.

Mas pelo andar da carruagem, é bem provável que eu tenha que daqui para frente, somente me satisfazer com apenas o consolo e a presença da imagem arquetípica da “anima”.

Mesmo admitindo a possibilidade de essa imagem arquetípica estar em mim, eu imploro para que ela saia do meu inconsciente e venha habitar todos os meus dias no mundo real, abandonando assim, essa Matrix incompreensível e particular.

Cantando “Nervos de aço” do nosso saudoso Lupicínio, o poeta encerra este ensaio de crônica: “Você sabe o que é ter um amor, meu senhor. Ter loucura por uma mulher...”

 

 

 

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 27/05/2008
Reeditado em 29/05/2008
Código do texto: T1008068