QUANTO VALE UMA VIDA?

139 – VIOLÊNCIA – Se você for a um bar ou boate, não olhe para os lados; não olhe para ninguém ou algum Pitt Bull pode imaginar que você está olhando a namorada dele e te matar com socos ou tiros. Se você for ao estádio de futebol, por favor, não grite e jamais vista a camisa de seu clube de coração; a torcida adversária pode se sentir ultrajada e te matar com pauladas ou com um rojão no meio da “cara”. Se pretender passear com a família no parque da cidade, olho vivo as confusões; uma bala perdida poderá tirar a vida de seu filho. Por fim, quando você trafegar de carro e avistar uma viatura da polícia, muito cuidado; pode ser que você tenha sorte dela não te perceber, mas se isso não ocorrer, reze, ore, faça qualquer tipo de apelo Divino para você não morrer.

A vida humana perdeu o valor; ninguém mais se importa em afirmar que matou alguém ou que irá fazê-lo em breve; crianças recém-nascidas estão sendo mortas brutalmente por pais, mães e irmãos; o trânsito das grandes cidades já está virando um palco de faroeste; bares e boates não são locais muito aconselhados para a diversão de jovens; até nas escolas, que eram tidas como locais seguros e incentivadas ao convívio mais permanente das crianças, já estão abrigando gangs de matadores e traficantes de drogas!

Será mesmo que já estamos vivendo os dias de juízo final? Seria o final dos tempos? Não bastassem as adversidades climáticas, a poluição, as drogas, a fome, a seca, o desemprego; agora temos que também conviver com os homicídios bárbaros e cada vez mais banais?

Um garoto de 3 anos é morto por policiais no Rio, POR ENGANO; uma jovem de 20 anos é morta por policiais no Paraná, POR ENGANO; uma mãe atira o filho de 8 meses pela janela do 6º andar em Curitiba, POR ESTRESSE; um pai é suspeito de matar a filha de 4 anos, também jogada pela janela do apartamento, supostamente por ciúmes da madrasta. Ninguém mais tem vergonha de assumir a face criminosa da morte e o Estado, insiste em pedir desculpas pelos erros oficiais, os erros de seus agentes, seus representantes legais. Não há um esforço ou uma ação inovadora para restringir estes erros ao passado e é aí que eu reafirmo que tudo isso ou nada disso será possível de mudança, se não houver aplicação de métodos educacionais de base; precisamos encher a barriga dos brasileiros de comida e cultura.

Um amigo me perguntou outro dia em Miami, qual investimento no Brasil o empreendedor teria retorno num menor prazo de tempo? –Eu lhe respondi sem hesitar que eram os cemitérios. Se você possui um terreno inoperante e puder dotá-lo de infra-estrutura mínima como muros, faça dele um cemitério; clientes aos montes não irão lhe faltar. É o metro quadrado mais caro do mundo e o retorno é garantido em menos de um ano!

Uma vida por encomenda pode custar 10 reais e se o serviço for executado por profissionais, no máximo, quem encomenda, desembolsará uns R$ 5 mil, ou seja, a vida humana está pautada entre 10 e 5000 reais e ponto final. Uma surra bem dada, com direito a quebrar uma perna, isso deve estar entre 100 e 500 reais; furar os olhos, uns 200 reais e um susto com tiros para o alto num beco escuro, isso é troco, faz-se por amizade e gentileza. Se alguma bala acertar o sujeito azar o dele...!

Não podemos generalizar, mas as polícias estão passando dos limites. Os governos estaduais são pressionados pelos índices de criminalidade e contratam todos os anos, milhares e milhares de homens, que recebem uma farda cinzenta e um revólver como carga; um distintivo, uma carteira e uma viatura cheia de tremeliques reluzentes para em nome da lei e da ordem, atingirem todo e qualquer cidadão que lhe passar a frente. O lema de alguns policiais é: “todo sujeito é culpado até prova em contrário” ou ainda, “é melhor ser julgado por 9 do que carregado por 6”, então, mãos nas pistolas e sai da frente que a polícia chegou. Os sujeitos empenhados na ajuda social, na ordem e na lei, que por ventura se engajam nas forças policiais, estes estão restritos aos quartéis nos serviços burocráticos. Os policiais de inteligência célebre, estes não usam armas, usam canetas. No meu prédio há um vizinho que é Major PM; homem de cultura lapidada e caráter formado; não usa arma e trabalha num setor importante da corporação, mas não se envolve na ordem social.

Se gasta com viaturas, armas, fardas, construção de novas unidades policiais, aumento de salários dos cargos mais altos, informatização; se faz leis para punir bêbados, armados, mas não se investe quase nada em preparo do material humano policial; não se qualifica o agente da lei para os momentos críticos; os mesmos agentes que são psicopatas anônimos, vestidos de anjos da Lei, que torturam e matam e ficam impunes por que as leis aqui são descartáveis, ou por que não “pegam”, ou por que são desconhecidas, inclusive da própria Justiça.

Estamos diante de um dilema cultural, um espólio de rancor que se perpetua com um comportamento evolutivo, onde todos carregam um pouco de cólera e busca no próximo uma oportunidade de descarregá-la e este “próximo” pode ser eu ou você; os coléricos podem estar do nosso lado, em nossa casa, no nosso trabalho ou numa delegacia de polícia.

Se não abrirmos os olhos urgentemente para esta questão e passarmos a adotar medidas de base, teremos que cada vez mais vivermos como eremitas; ermitões que se infusa numa caverna no meio da Chapada Diamantina, comendo raízes e sem contato com o mundo exterior, correndo ainda assim, o sério risco de uma “mula manca” enfurecida lhe matar com coices e ainda comer-lhe o cérebro. São as desgraças do mundo atual!

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

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