No Rio de Janeiro, 
                        sem balas perdidas
...

    
Estou no Rio de Janeiro, faz alguns dias. Neste exato momento, encontro-me no restaurante Santa Satisfação, na Rua Santa Clara.
      Mandando o regime que me foi imposto pros infernos, enfrento, com tranqüilidade, a segunda cervejinha. Geladíssima! Aliás, nesta gostosa cidade do Rio de Janeiro, a cerveja e o chope são sempre mui gelados.
     Há pouco, passou por aqui um amigo.
     Vendo-me afogado na bebida, numa simplória mesinha deste agradável restaurante de Copacabana, bradou: "E o Amarelinho? Já era?"
     Fiz-lhe ver que, por lá, já estivera duas vezes, reafirmando minha predileção por aquele tradicional restaurante da Cinelândia. O seu filé com fritas e o seu chope são imperdíveis.
     Depois do Amarelinho, faço o seguinte: vou à confeitaria Colomboe beb, pausadamente, um delicioso e caro cappuccino.
     Depois, dou um pulinho na Academia Brasileira de Letras. E por falar na ABL, vale visitá-la, agora, nas comemorações dos cem anos da morte de Machado de Assis. 
     Uma exposição bem montada, com coisas que pertenceram ao Mestre de Helena, pode ser admirada.
    Há, também, inúmeras fotos do Bruxo; como esta que vem ilustrando este texto.
      É quase meio-dia. Continuo no Santa Satisfação. 
      O restaurante, pequenino, com algumas mesas na calçada, está praticamente lotado.  
      Da minha mesa,  escolhida com bastante cuidado, observo o vaivém dos fregueses. Entra e sai gente de todas as idades.
     Desde a velhinha mui bem maquiada, até a carioquinha descontraída que cruza as pernas, esquecida (?) de que alguém poderá ver-lhe a calcinha azul, branca ou rósea... Mas ela não está nem aí!
      E este calejado cronista, dando uma de abelhudo, aproveita-se, discretamente, do descuido (?) da mocinha de pernas cruzadas, para exercitar sua imaginação...
     Na certeza de que, aquele flagrante poderá ajudá-lo a escrever uma crônica carioca. 
     E é o que está acontecendo, agora, aproveitando-me, mais uma vez, de um guardanapo da casa. Assim escrfevi esta crônica!
     Mas vim da Bahia certo de que em cada esquina do Rio de Janeiro, presenciaria um tiroteio ou uma cena de sangue.  É esta a imagem da Cidade Maravilhosa que a televisão leva pro Nordeste.
     Um noticiário tão preocupante, que, no aeroporto de Salvador, um parente entregou-me um santinho, desejando-me um Rio "sem balas perdidas". 
     Estou há dez dias por aqui - andando do Leblon ao Largo da Carioca - e ainda nem um susto tomei.  
     Não quero dizer com isso que  a imprensa mente quando noticia a violência carioca. Ela existe. Principalmente - não é novidade - nos locais onde as circunstâncias (conhecidíssimas) produzem criminosos.
      Salvador, tão canora e cheia de requebros, também já vive assustada. 
     Ao lado da grandeza dos seus trios elétricos e da beleza dos seus famosos blocos carnavalescos, a criminalidade também cresce na bela capital baiana.
      "A Bahia já foi outra..." é o que se ouve nos quatro cantos da terra do Senhor do Bonfim, apesar dos gritos de "Axé! Axé!" que se escuta na cidade alta e na cidade baixa; nos subúrbios e na periferia.
       E porque, pelo menos até agora, não vi as tais balas perdidas, tenho me divertido com a beleza do Pão de Açúcar, com as águas serenas da Lagoa Rodrigo de Freitas e com a imponência do Cristo Redentor. E, neste momento, com mais um copinho de cerveja.      
    Tomo, agora, o último gole e me despeço do Santa Satisfação, lamentando. Mas, no Galeão,  um avião me espera. Não tenho como adiar meu retorno à Bahia.
     Percorro a Santa Clara pedindo a Santa Clara de Assis que, como padroeira da TV, dê aos brasileiros uma televisão de bom nível.

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     Hoje, 11 de agosto, a Igreja lembra os 755 anos de sua morte. É dia de festa nos conventos franciscanos 
     
    
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 11/08/2008
Reeditado em 11/01/2009
Código do texto: T1123414