MISS ITÁPOLIS

Itápolis é a palavra híbrida formada por: Ita – pedra em Tupi-Guarani e Polis – cidade em língua grega, significando assim: “Cidades das Pedras”. Com 40.000 habitantes e um território de 999 quilômetros quadrados no interior paulista, Itápolis é o município que mais produz laranja no mundo.

Bem, mas mudando de “pato prá ganso”, isto é, rodando o assunto, quero escrever sobre “ELA”.

Quem é ELA? Ela vai chegando com o seu andar marcado por passos miúdos e bamboleantes, sem dúvida, bem guardado na sua memória, o passado, de quem na juventude teve a honra de ser, nada mais, nada menos que..., “Miss Itápolis”. Seu sorriso é encantador, ela leva bem a sério, o que Antoine de Saint-Exupéry, escreveu no Pequeno Príncipe: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.

Giselda é uma senhora cativante, com traços clássicos em um rosto emoldurados por cabelos claros e ondulados, mas, é no seu sorriso alegre, e nos seus olhos brilhantes, espelho de uma alma bondosa e amiga, que nós deixamos seduzir por ela. Porém, é dessa maneira, tão sorrateira e enigmática, que ela entra em nossas vidas, e, nem nos damos conta, do quanto fomos cativados pela sua presença.

Ela chega na “Academia Totti”, sempre muito elegante, falando baixinho de algum acontecimento engraçado, ou alguma reivindicação, pra lá de esdrúxula, tirando gargalhadas de quem está ao seu redor, ou fazendo exercícios de hidroginástica, com ela na piscina aquecida.

Em uma segunda-feira à tarde estávamos dentro da piscina fazendo os exercícios, quando ela chegou vestida, com o seu maiô laranja. Isso mesmo, laaaaaranja! Mais parecia um farol de trânsito, ou melhor, travestida de uma garrafa de “fanta laranja”, como o professor costumava exclamar!. Sempre carinhosamente entre um sorriso e outro, também jogava um beijinho ou uma piscadela. Ah!!! Essa Miss Itápolis...

Ela estava visivelmente perturbada naquela tarde, assustada e falava em um tom que superava em tudo aquela voz delicada tão costumeira para todos. Havia sido assaltada, roubaram a sua bolsa dando-lhe um temendo empurrão, fazendo-a estatelar no chão feita uma abóbora madura. Mas, o que mais a indignava era que haviam levado o seu celular, aquele que acabara de ganhar da sua filha!

E por algumas semanas seguidas, à história do assalto e do celular roubado foi contada por dezenas de vezes, por ela, até que algumas aulas após esse acontecimento, o professor Totti veio carregando um embrulho contendo um formato quadrado, luxuosamente envolvido por folhas de papel laminado, dourado; enrolado em enorme laçarote vermelho-alaranjado, e o entregou em suas mãos.

Os olhos brilharam, o sorriso escancarou de orelha a orelha, as mãos tremiam ao desembrulhar o pacote, ela ia dizendo:

_Mas, por que tanta preocupação, não devia gastar tanto comigo. Você é um amor!

Quando tirou a folha dourada encontrou a caixa de um celular, pelo desenho era um dos mais modernos, aqueles afixados nas vitrines das lojas de eletro-eletrônicos, visando tirar suspiros dos futuros compradores e, portanto, devedores das famigeradas prestações, a perder de vista! No entanto, a surpresa maior aconteceu quando ela o retirou do interior da caixa, e, o pegou na mão, o modelo era de brinquedo, e havia sido comprado em uma banca de camelô nas imediações da rodoviária intermunicipal da cidade.

Foi nítida a desilusão, mas Giselda não se abateu e, o colocou na orelha, e fingia que discava, ouvia e depois conversava mostrando aquela alegria habitual, tão característica da sua personalidade.

Contudo, ela não esqueceu o sucedido e iria tirar a revanche em uma ocasião futura. Certo dia, de inverno, após os exercícios na piscina fomos ao vestiário tomar um banho, e, pasmem algo sobrenatural viria a acontecer.

A nossa Miss Itápolis abriu a torneira da primeira ducha e a encontrou entupida, a água saía pelas bordas. Ela saiu resmungando algo como:

_Com esse frio de 10º e tomo essa lambada gelada nas costas!

Todas as meninas presenciavam a cena boquiaberta. Assim, Giselda abriu a segunda ducha, e, já embaixo sentiu a água muito quente que chegava, segundo ela, a despelar as suas costas. Mas, foi quando abriu a última ducha, que o susto foi grande, pois houve um estouro seguido de um curto-circuito, e, uma fumaça mal cheirosa e negra escureceu o ambiente, foi uma correria junto com uma gritaria escandalosa aprontada pelo “muieriu”.

Giselda não deixou por menos depois de se vestir, arrumou uma caneta, e folha de papel, e escreveu o problema de cada ducha, assinou e levou para o professor reivindicando o direito de tomar um banho em segurança.

E, todas nós rimos muito, ao vê-la reivindicar por algo tão veementemente, pois esse acontecimento foi “sui generis”. E ela falava a todos com aquela tranqüilidade, tão peculiar!

_Pois é, a urucubaca aconteceu devido ao meu aparelho celular, isto mesmo aquele que ganhei do Totti, eu o esqueci ligado no banco em frente às duchas, e, com certeza, ouve a emissão de raios gama e laser, e , foi assim, que o forrobodó teve início.

Então recordo da passagem do “Pequeno Príncipe” em que ele dialoga com a raposa:

“E voltou, então, à raposa:

- Adeus, disse ele...

- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.

- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.

- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...

- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.”“.

É dessa maneira invisível aos olhos, mas visível ao coração, que nos deixamos levar pela magia de convivermos lado a lado, envolvidas, como que magnetizadas por pessoas, que dignificam a raça humana, e deixam os nossos dias, mais cheios de magia e alegres!