Ainda continuo gostando dos Beatles e Rolling Stones

Continuo gostando dos Beatles e Rolling Stones. Não por falta de procurar algo melhor. Gosto de novidades. Também acho que a música do Brasil é a melhor – ambas pelas possibilidades que representam, fruto das fusões de culturas – a grande propulsora da roda da história.

O rock pegou a gente que era jovem nos anos 60 e 70 pelo pulsar, foi a trilha sonora de tantos fatos novos, de protesto pela guerra do Vietnã, pela psicodelia, pelas novas cores e imagens, era uma nova embalagem disponível: roupas que diferiam dos ternos e dos cinzas vigentes, e propunham uma nova imagem do mundo ao mundo, visto agora pela perspectiva da rua.

As coisas novas sempre exigem novas embalagens. O papel de embrulho é só a face exterior, mas é também a pele, onde a estética se instala e se faz nela as tatuagens todas. Os dois acordes do rock, as rimas pobres, anti-métricas, as imagens fragmentadas, o descompromisso com o compromissado, caminhando contra o vento, sem lenço sem documentos, sem status, qualificando-se para o futuro, tudo isso me fascinou, sem que eu soubesse bem porquê – era contracultura.

A postura rock&rool reflete ainda a possibilidade aberta antes, de se fazer música sem ter que carregar o piano ou a trompa. Isso, somado a tudo já dito nas linhas acima, foi iniciado lá atrás pelos beatniks – que foram pra vida, como budas desbundados, e pariram os “malditos” hippies, hoje espezinhados pelos amofadas de plantão – é certo que eles radicalizaram na postura paz e amor e paralisaram-se no tempo, pena - vestiram a fantasia e ponto final e não era só isso. Mas tudo não foi em vão, tanto que a música perdura e pulsa nos corações de hoje – acho que mais como resistência à caretice que sempre quer os jovens de volta, mas está provado: indignação não tem idade e o rock também não.

Todo mundo pode tocar um instrumento, mesmo que seja um bongô, era assim, nos trens pro litoral, nas rodas em torno da fogueira, na praia. Fazer poesia uma nova possibilidade que surgia, sem a rigidez de antes dos modernistas de 22, como hoje é ritmo&poesia sem melodia, rap, funk, a música possível - mesmo que isso desgoste a intelectualidade acadêmica ela ta aí e mostra esses nossos brasis, nossas periferias.

Continuo gostando dos Beatles e dos Rolling Stones, e de Bob Dylan, pelas flores plantadas, pelas dores da guerra; pelos sonhos e pela loucura; pelas possibilidades tentadas; pelos que ficaram na estrada; pela utopia; pela alegria; pelas vestes festivas; pela liberação sexual, pela música hindu e todas as misturas ocorridas desde então.

Por isso gosto de Caetano Veloso, divino maravilhoso, do Gilberto Gil e do Brasil, de Jorge Mautner e dos maracatus, da música hindu, de Hendrix, Joplin, dos que se foram vivos, dos livros, da macrobiótica e da poesia, do taoísmo, do zen budismo e do candomblé – tudo a ver com rock, é o que acho e penso.

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• Gracias pelo mote: www.recantodasletras.com.br/pensamentos/1118969