Eu candidato? Bastou-me uma vez!

Estimulado por tantos ois, bom dias e boa tardes, que ganho quando ando pela cidade, fora os abanos de mãos e buzinadas simpáticas dos carros que vão passando, esqueci a máxima que diz: “Jornalista é cordialmente detestado”, e me lancei a uma candidatura a vereador no ano de 2004. Minha nora, professora de música e compositora, fez para mim a mais bonita música de campanha, lá do carro de som montei uma bicicleta falante, a qual meu filho exaustivamente pedalava pelos bairros. Caminhei quase todas as cidades falando das minhas propostas; pensava em ser diferente combatendo a corrupção, isto se os demais vereadores me permitissem faze-lo. Não era promessa de candidato, era propósito de cidadão. O salário recebido na câmara, já havia feito às contas, teria 40% destinados as duas entidades sociais das quais sou voluntário.

Foi uma ótima experiência, afinal “em tudo daí graças”. Subi e desci de palanques na certeza que estava eleito. Nas minhas andanças atrás de votos muitos pedidos de dentaduras, óculos, cestas básicas, dinheiro para viagem, e outros mais imorais ainda. Descartei em atendê-los, uma vez que, na qualidade de jornalista, desço a lenha nessas imoralidades e falta de cidadania. Um caso porém me chamou a atenção.Uma jovem, aluna de canto de minha nora, perdeu muitas roupas – parece que ficaram apenas as mini-mini saias -, a cama e outros pequenos bens em um incêndio pela queda de uma vela que propagou o fogo. Eu tinha uma cama e colchão sem que tivesse uso, e fui procurado para ajudá-la doando os objetos.

Estava em plena época de campanha, e eu tinha o propósito de comprar votos. Então fui ao juiz eleitoral e dei-lhe conhecimento da minha intenção e a razão, ressaltando que não era troca de favores. O juiz mandou que então eu o fizesse, pois se houvesse alguma denúncia contar mim, já estava ciente do caso. Tanto que nem pedi ao pai da jovem, ou ela própria arrancar a propaganda de um candidato de outra coligação, colado na porta principal. Nem mesmo os dei meu santinho, se aquela família quisesse descobrir meu nome e me dar o voto, que o fizessem. Claro que eu agradeceria! E veio o dia eleição e a noite da apuração, e numa cidade onde são necessários pelo menos mil votos, eu obtive setenta e quatro deles apenas.

Não fui o menos votado, pois a minha esposa e outra companheira tiveram nem o voto delas; haviam saído candidatas “laranjas” por causa da reserva de cotas às mulheres, e nossa coligação só tinha uma verdadeira competidora. Bem pelo menos o prefeito que defendi foi eleito! Foi uma experiência boa e aprendi corretamente o que é um processo eleitoral, e ai foi que descobri a razão de Lula dar tanta bolsa. A maioria se contenta com o imediato, pensa que vai morrer amanhã. Veio à diplomação dos eleitos, e o salão do júri, no fórum estava repleto, eu jornalista estava lá. Ao final da entrega dos diplomas o juiz de lá da frente falou para mim, em alto e bom som: “Seu Pedro, entre os seus setenta e quatro votos, o meu está lá”, de imediato o promotor disse; “O meu também”. Foi gratificante a minha “diplomação”, assim prefiro continuar sentindo o sabor daquele momento, a me candidatar novamente!

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(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia eleitor com direito a voto e veto, que sabendo disto vetou sua candidatura nesta e futuras eleições.