A PORNOGRAFIA ELEITORAL

162 – ELEIÇÕES 2008 – (de Goiânia-GO) A política está em mim como a própria progênie; desde infante eu sempre fiz questão de me manter além das questões achacáveis da política partidária, mas a vida me apresentou passagens que me puseram nas mesmas trilhas de alguns ases da liderança brasileira de esquerda como Waldir Pires, Colbert Martins da Silva e Chico Pinto; nomes que sofreram os horrores da ditadura militar e outros, que jamais tiveram o dissabor da tortura, mas que também contribuíram para a valorização da democracia brasileira. Por ter participado do PCB, PMDB e PSDB, aprendi a conviver de perto com gente desta estirpe, alguns bons e outros nem tanto; mas foi isso que formou meu caráter político contemporâneo e, sobretudo, me fez crescer como ser humano e aprender que até hoje, não existe um político ideologicamente correto; ninguém que se diz politicamente correto, do ponto de vista dos cargos eletivos, consegue concluir um mandato sem um ou outro arranhão popular.

Ideologia é um termo usado no senso comum contendo o sentido de “conjunto de idéias, pensamentos, doutrinas e visões de mundo, de um indivíduo ou de um grupo, orientando para suas ações sociais, e principalmente, políticas.” Segundo Karl Marx, pode ser considerado um instrumento de denominação que age através do convencimento (E NÃO DA FORÇA), de forma prescritiva, alienando a consciência humana e mascarando a realidade.

O alemão Marx desenvolveu uma teoria a respeito da ideologia, na qual concebe a mesma como uma consciência falsa, proveniente da divisão do trabalho manual e intelectual. Nessa divisão, surgem os ideólogos ou intelectuais que passam através das idéias impostas a dominar a través das relações de produção e das classes que esses criam na sociedade. Contudo a ideologia (falsa consciência) gera inverte ou camufla a realidade, para os ideais ou vontades da classe dominante.

Ninguém que se diga inteligente pode gerir sozinho o conjunto de idéias e ainda afirmar que elas são benéficas à sua comunidade; as pessoas podem possuir o dom de enxergar os problemas e através desta visão, passar a compor uma série de medidas, que caso ele, esteja no poder, consiga quiçá, aplicá-las de forma veemente; ainda assim, haverá os que de forma estudada, dirão que elas são nulas ou utópicas, da mesma forma que haverá também os que a rotularão como: apoteóticas, admiráveis e magníficas.

Estamos vivendo a proximidade de mais um pleito que escolherá todos os prefeitos e vereadores, mandatários e seus fiscais legais, de todos os municípios brasileiros e é nesta hora, praticamente somente nesta hora, que temos a oportunidade de conhecer por meio de palavras quem vai comandar o destino de nossa comunidade.

Cada um dos inscritos nos respectivos partidos políticos, que os credencia a concorrer a um dos cargos eletivos, utilizam basicamente o meio do DISCURSO para atingir o público com suas propostas; alguns concorrem à reeleição, ou seja, já estão no poder a algum tempo e outros concorrem pela primeira vez; todos com plataformas similares que fazem implicação ao bem estar social.

Para estas eleições, os dois únicos Poderes capazes de escolher seus membros pelo voto direto, Executivo e Legislativo, terão suas bancadas de base renovadas; os do Poder Executivo Municipal, podem ser eleitos por no máximo duas vezes consecutivas, já os do Legislativo, podem ser eleitos repetidas vezes, o que faz destes cargos uma espécie de “emprego” perpétuo, com direito em muitos casos a aposentadoria “ad eterna”, para sempre.

Em se falando do DISCURSO político há uma dimensão ideológica que relaciona as marcas deixadas no texto com as suas condições de produção, e que se insere na formação ideológica; e essa dimensão ideológica do discurso pode tanto transformar quanto reproduzir as relações de dominação. Para Marx, essa dominação se dá pelas relações de produção que se estabelecem e as classes que estas criam numa sociedade. Por isso, a ideologia cria uma “falsa consciência” sobre a realidade que visa a reforçar e perpetuar essa dominação. Já para Gramsci, a ideologia não é enganosa ou negativa em si, constituindo qualquer ideário de um grupo de indivíduos. Mas, para Althusser, que recupera a ótica marxista, a ideologia é materializada nas práticas das instituições — e o discurso, como prática social, seria então “ideologia materializada”. Traduzindo, o discurso é falso, nulo e corruptivo; visa lesar de fato a consciência intrínseca de cada um.

Ainda é comum, nos dias de hoje, que indivíduos do meio político se vangloriem de serem asseclas de gente como Maquiavel; outros preferem a companhia de livros e ideais antigos como marcas profícuas da aplicação de suas plataformas políticas, o que gera uma gama de malfeitores e enganadores que terão plena oportunidade de executar ou fiscalizar os Poderes e daí se retira a seguinte pergunta: em quem confiar?

Basicamente, os problemas sociais estão prostrados sobre os pilares do desemprego, fome, saúde, educação e saneamento básico; qualquer cidade, seja grande ou pequena, rica ou pobre, possui problemas relacionados às questões citadas o que seus mandatários priorizam, geralmente, são as ações que demonstrem publicamente seus trabalhos; questões como a fome, o desemprego, saneamento básico e educação, em tese, historicamente jamais deu voto a quem as priorizou; o povo prefere uma bela praça ao invés de uma escola funcional; prefere uma boa rua asfaltada ao invés de uma rede de esgoto bem estruturada e desta forma, o povo ficará a mercê sempre de políticos que tentam se perpetuarem em seus cargos.

A cidade de El Paso, no Texas, pelo qual tive o prazer de ser hóspede por um período, foi projetada para ter 4 milhões de habitantes, mas, cerca de 600 mil estadunidenses vivem lá. Disseram-me alguns moradores mais velhos que no início de tudo, foi um problema estruturar algo tão grandioso numa região desértica, mas o resultado prático veio muito cedo; mais de 98% da população tem emprego, não há ruas sem estrutura sólida ou sem saneamento, as escolas e universidades são um “show” a parte e os hospitais são modelos e referências para todos dos Estados Unidos da América; o prefeito e seus auxiliares precisam apenas manter esta máquina funcionando de forma aceitável e o lucro maior é da população que se orgulha de viver naquele lugar.

Na contramão dos projetos modernos, no Brasil não há uma cidade sequer que tenha sido projetada para abrigar mais pessoas do que ela tem hoje; pelo contrario, os grandes centros, como Belo Horizonte, foi projetada para 500 mil e hoje tem 3 milhões de habitantes e o caos sobranceiro já é esperado para breve; a população sofre com os engarrafamentos, com as enchentes, com o calor, com as epidemias, com o desemprego, com o decrescente índice de aprendizado dos estudantes, com a escassez de moradia e com a falta de transporte.

O lema do político moderno é “ganhar mais” e eu não consigo entender como alguém vai aos veículos de comunicação afirmar ser trabalhoso comandar uma cidade, estado ou o país, se eles mesmos fazem a maior questão de permanecer o maior tempo possível no cargo; eu não consigo entender como alguém que ganhe tão pouco sendo prefeito ou vereador, faça tanta questão de vender casa, carro, às vezes vendem até os filhos, para poderem assumir uma vaga eletiva.

Eu não consigo compreender como alguém desempregada ou com subemprego se eleja Prefeito ou Vereador, para ganhar R$ 6 mil por mês e saia do poder com um patrimônio líquido de mais de R$ 6 milhões. Se alguém ganhar R$ 6 mil por mês e não gastar nada durante quatro anos conseguirá arrecadar uns R$ 350 mil ao final de seu mandato, com juros razoáveis de uma aplicação. Eu conheço casos que gente que gastou 2 milhões numa campanha política para almejar um cargo que ao final do mandato não lhe dará nem R$ 500 mil; tem algo de errado com certeza! Alguém tem uma fórmula matemática mais enigmática do que as fórmulas comuns que envolvam as quatro operações.

Ser Prefeito ou Vereador no Brasil, da mesma forma que os demais cargos eletivos, deve ser algo tão extasiante e lucrativo que deixam esquecidos os empregos mais desejados da atualidade, como o de Magistrado; sim, porque eu também já conheci pessoas que deixaram seus cargos de MAGISTRADO FEDERAL, ganhando algo em torno de R$ 20 mil por mês para assumirem uma vaga política com salário de R$ 11 mil/mês; não é estranho, do ponto de vista lógico?

Ideologia Política na tradução poética, quer dizer: gente de boas idéias que dão a vida por um ideal popular, mas é bom não confundir o político popular com o populista, pois são duas coisas completamente distintas; popular é aquela pessoa conhecida, pública e sabida, já o populista é aquele que coloca uma ação política, muitas vezes enganadora, mas bela do ponto de vista da aparência, para trazer para si a opinião pública e seus adversários; distribuir dinheiro em vésperas de eleições poderia ser considerado uma manobra de cunho populista.

Portanto, nestas eleições, saiba ao certo em quem você está votando; vote no candidato em que sua convicção política atende aos requisitos básicos do cargo almejado; nem sempre a honestidade faz do homem um grande político; nem sempre as boas intenções fazem dos homens os bons políticos; para ocupar uma vaga de Poder, o homem (ou mulher), necessita ter idéias próprias e um plano concreto que o conduza, pelo menos no início, dentro desta viagem que é comandar ou fiscalizar a coisa pública. Eu não voto em candidatos analfabetos (por mais gente boa que sejam), não voto em quem tem passado sujo, não voto em quem não consiga expressar a sua verdade, da mesma forma que não reelejo os que fizeram do poder um palco de apresentações pirotécnicas, aqueles que tapam buracos das ruas ao invés de construírem esgotos ou aqueles que dão cestas básicas ao pobre ao invés de proporcionarem condições para que eles trabalhem em prol de seus próprios sustentos.

Tem muitos prefeitos que se dizem amigos do povo e que preparam mais um bote contra os cofres públicos; tem muita gente que quer ser prefeito, do mesmo jeito que existem muitos asnos que, por não terem nada a fazer, apetecem ser vereador, por se tratar de um emprego razoável apenas, mas sequer sabem o que é legislar para o povo. Cuidado com o voto de protesto; votando no Bode Zé, branco ou nulo, com certeza você estará automaticamente contribuindo para a permanência de mais um escroque malfeitor no poder.

Lembre-se que no Brasil, costumam serem votados e eleitos os que estão no poder, por medo popular de perder a “mamata” dos aliados ou de medo popular de se manter o ruim ao invés de arriscar no razoável desconhecido; portanto, se a sua cidade estiver bem administrada, com um índice escolar bom, boa estrutura de saneamento, gestão de saúde irretorquível e a maioria do povo empregado, vote pela permanência do prefeito e manutenção da Câmara de Vereadores, mas se nada disso tem ocorrido, não hesite em mudar; vote no opositor do prefeito e TROQUE toda a Câmara de Vereadores; este sim será seu melhor protesto e sua maior lição de cidadania.

Para desmistificar os quase 150 e-mails e torpedos que recebi esta noite sobre a autoria de um texto que circula na internet que denigre a imagem de um candidato a Prefeito do Paraná, tenho a informar que me senti Arnaldo Jabor; até meus textos já estão sendo utilizados por outras pessoas e assinados como se fosse eu; informo também que, muito embora eu tenha minha opinião formada sobre todos os candidatos que conheço, jamais faria um texto ANÔNIMO, muito menos agressivo, pura e simplesmente; todos os meus textos estão publicados aqui ou no UOL.

Boa eleição a todos,

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

SITE DO AUTOR: www.irregular.com.br