Já não sei ortografia

Com tantas mudanças ortográficas a minha cabeça está em parafuso, ou seria para-fuso? Os hífens serão abolidos nas palavras em que a segunda é iniciada pelas letras “r” e “s”, assim não mais teremos para-raio, e as tempestades da nova maneira de escrever cairão sobre nós. Então comecem a me perdoar, pois mesmo sendo jornalista, lembro aos leitores que não me chamo Aurélio, e assim como a Folha de São Paulo, que mantém a “Erramos” uma sessão especial onde o leitor pode apontar eventuais erros, a exemplo os ortográficos, que meu computador ainda teima em acentuar, ou seria seção, ou cessão? Afinal o jornal cede ao leitor uma participação em sua redação. Mas onde errei? Despreparado, mas metido a ser escritor, eu “pimba”, lasquei em recente crônica a palavra concerto onde caberia conserto, pela atual maneira de se escrever. Foi bom, pois aferi se quem recebeu o e-mail estava lendo de fato as minhas divagações.

Os leitores mais condescendentes dizem que "errar é humano", os mais radicais dizem que “errar é burrice”, e os mais amigos e irmãos nos dão diplomaticamente um puxão de orelha, e devolvem o texto trocando a cor da palavra duvidosa. O documento que Lula assinou, válido a partir de janeiro de 1º do próximo ano, pelas previsões cairá no esquecimento como já esta caindo no esquecimento a Lei Seca, e o pessoal enchendo a bexiga de cerveja. E não precisa ser astróloga para fazer esta previsão, basta dar aulas, a exemplo de Cidinha Baracat, professora e membro da Academia Araçatubense de Letras, senhora que nem ainda a conheço, mas que na Internet dela extraí: “Não vejo utilidade alguma nessa reforma ortográfica. Aliás, nem acredito que ela entrará em vigor. Precisamos melhorar o nível de ensino de nossa língua, não reformá-la. As mudanças previstas em nada contribuirão para aumentar a capacidade de ler e entender textos, menos ainda de produzi-los com clareza e correção”.

Eu mesmo, e até parece que sou tão velho assim, continuo falando “um mil reis”, ao pedir, por exemplo, os caramelos que compro para as minhas amadas filhas. São coisas com a quais nascemos ouvindo, e está provado que o aprendizado cognitivo é o mais intimo conosco, que mesmo sendo ausente de uma freqüência escolar. Meu computador teve “aprendizado” cognitivo e continua escrevendo frequência com tremas no “ü”. Enquanto não vier uma nova geração de programas, gerando mais lucro para a Microsoft, ele não se adaptará nova ortografia, e eu fazendo o papel de analfabeto. Quem sabe só fazendo “xiszinhos” não se viverá melhor? Venho fazendo “x” aos montes na mega-sena, que em janeiro de 2009 será megasena.

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(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, em Guanambi – Bahia. Espera que os “xiszinhos” na loteria o propiciem u restante da vida fazendo “xixizinho” em uma praia poço habitada, e longe dos vendedores dos novos dicionários, que logo baterão a sua porta.