JANEIROFOBIA

Quando eu fiz dezoito anos,  escrevi uma crônica (nem sei se posso chamar aquilo de crônica), falando do medo que estava sentindo. Pois sabia que daquele dia em diante eu teria que ter responsabilidade, pra não pisar em falso. Se eu escorregasse, pode ser que meu pai não estivesse por perto pra segurar minha mão. Como minha mãe fez do dia que eu comecei a engatinhar, até o dia que sentiu firmeza nos meus passos. E agora, se eu caísse, será que iria conseguir me levantar? E, abandonado pelo estatuto do menor (que acho que nem existia, mas devia haver algum órgão de proteção à criança e a o adolescente), conseguiria ser digno, honesto, ter fibra, caráter,  igual o meu pai sempre teve? Ele me ensinou a ser assim, mas, será que eu...

Hoje, trinta e dois anos depois, com o corpo cansado, a vista alcançando cada vez menos, tenho outros medos: Será que fui pra meus filhos, o pai correto, o pai amigo... o pai, “PAI!”? Como meu pai foi pra mim? Um que não muda, nunca, é o medo da queda! Não aquela queda da adolescência. Meu medo é o de cair, cair de verdade. Cair na rua, cair no banheiro, cair da escada... medo de cair na mesmice da maioria dos cinqüentões e aí... O outro, é de morrer sem conhecer a minha mãe d Bernardina Maria Cordeiro.

S. Paulo, 07/10/2008
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