Hotel familiar e comida caseira

Comecei a observar, em minhas viagens, as placas de fachada de hotéis e restaurantes de classe média. Digo classe média porque pobre não fica em hotel e nem se alimenta em restaurante, além de que a média já anda de pires na mão. Nelas, nas placas, invariavelmente há um alerta com ar de discriminação: “Hotel Familiar” ou ainda “Comida Caseira”. Neste caso a discriminação parece direcionada aos hotéis de pobres, que limitados nos recuso não tem como pagar uma diária e ficam apenas duas horas. Também devem sentir discriminação os hotéis estrelados, uma vez que nenhum recepcionista fica perguntando o que farão ou em quais posições dormirão os hospedes. Entre quatro paredes e porta fechada, há casos que têm que fechar a janela, cada um satisfaz o seu desejo.

Os hotéis “familiares” não justificam tal título, uma vez que ao se viajar, seja a negócios, seja por turismo, seja por tratamento médico, o que chamo de turismo hospitalar, não levamos os familiares. Os féis aos seus princípios pensam na família distante para não sentirem a solidão entre quatro paredes. Em muitos casos os porteiros se tornam psicólogos ou assistentes sociais. É interessante perceber; hotel acima de duas estrelas tem recepcionistas e os “nublados” são porteiros que de vez em quando fazem papel de faxineiro, camareiro, segurança, e outros. São funcionários multifuncionais, e não acrescentam dez por cento na nota. Aliás nem nota dão, é toma a chave e dá o dinheiro.

As “comidas caseiras” também não se justificam assim ser anunciadas, até porque nunca se vê “comida rueira”, ou se perceba algum fogão aceso pelas ruas ou calçadas. Exceção se algum caminhoneiro tenha armado pendurada na carroceria a sua cozinha volante, e esteja preparando um arroz carreteiro ou outro saboroso e apetitoso prato, que não poucas vezes superam o sabor e a higiene de “restaurantes caseiros”, onde o freguês não enxerga a cozinha e nem sabe se as folhas usadas na salada foram bem lavadas. Eu particularmente já encontrei uma pequena lagarta em uma folha de alface, imaginem quantos já consumiram coliformes fecais sem sabê-lo!

Eu sou fã da comida de minha casa, as das ruas e esquinas eu dispenso, vou a um supermercado, compro pão, biscoitos e queijos, e no quarto do hotel me satisfaço com a refeição de minhas próprias mãos.

Sobre alimentos há sim algo “rueiro” que eu saboreava com todo prazer, os acarajés das tradicionais baianas, mas até acontecer o dia em que eu identifiquei diabetes, em mim. Nada contra o azeite de dendê, e nem contra os acarajés das baianas que laboriosas produzem tais iguarias. Não consumo os saborosos bolinhos de feijão fradinho, muito plantado na região em que moro, pois sabe-se o risco de morte que correria, também deixei de comer pequi, a “carne do sertanejo” nem mais preparei para os amigos o arroz com pequi a minha moda, com qual fui premiado no segundo lugar na “6ª Festa Nacional do Pequi”, no quinto concurso de cozinheiro deste fruto oleaginoso, em 1994, em Montes Claros, Minas Gerais. Comida é coisa importante, é a saúde em jogo. Por isto o consumidor deve saber o que está comendo em um restaurante comum ou em hotel popular, e até cinco estrelas. Prevenir é melhor do que tomar remédios para o estômago!

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(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, 61 anos, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi – Bahia, tem por hobby a cozinha, desde que haja algum voluntário para lavar as panelas, e terá no mês de dezembro a tarefa de preparar pizzas caseiras para um sobrinho vindo do São Paulo e passará as férias na Bahia.