Filhos adolescentes

Cá estou procurando o sono em algum canto desta casa, não sei onde ele se escondeu, hoje resolveu me abandonar. Ou será que eu é que o abandonei.

Existe um jargão, não lembro agora quem o idealizou, mas dizia mais ou menos assim: "onde foi que eu errei". Bem, o autor dizia isso por causa da situação do filho que não era condizente com seus princípios. Mas o que estou querendo dizer é que há alguns minutos, eu me vi pronunciando esse dito jargão. E o motivo? Minha filha de treze anos, Ellen, no auge da adolescência.

Hoje, justamente hoje, no meu primeiro e feliz dia de especialização ela resolveu me pregar uma peça, e bem planejada. Mas eu, que não nasci ontem, investiguei tudo sem arredar o pé deste quarto e consegui, a duras penas, obter todos os dados de que precisava para crer que ela, minha musa inspiradora, traiu minha confiança. Não quero mostrar exagero, mas uma lança trespassa agora o meu peito.

Gostaria de poder vê-la dormindo como faço todas as noites, mas pelo menos agora não consigo. Os filhos, nesta idade, são como areia bem fininha, sem que percebamos escapa das nossas mãos; são como pássaros que aprendem a voar e se perdem no horizonte

Entrar em detalhes não é minha idéia, mas gostaria, tendo em vista que os meus únicos ouvintes são vocês, alguns dos recantistas que também procuram o sono em algum canto de suas casas. Pôr para fora o que ora me remói é bom, me faz bem, parece que me alivia de alguma forma.

O caminho é muito diálogo, eu sei disso, mas há momentos que parecem não surtir efeitos. Orar por mim e por ela, isso eu faço diuturnamente, mostrar as armadilhas do mundo são meus incentivos diários, amor eu sei que não lhe falta, muito menos carinho, zelo e dedicação. Por isso, acho que não mereço infidelidade, palavra dura ao pronunciar e destruidora ao praticar.

Espero em Deus que este ressentimento passe, esta repulsa que estou em vê-la cesse e tudo volte ao normal. Pelo menos isso.