FETICHE: DESBRAVANDO A LIBIDO DO HOMEM

O povo latino é um dos mais fantasiosos quando a questão é o “sexo”, segundo a própria história; os latinos, reconhecidamente como “de sangue quente” só não se acostumaram aos modos poligâmicos adotados por alguns povos africanos e do oriente médio, mas em termos de liberalidade sexual, não há burgo mais criativo e simplista do que eles; do lado de cá do mundo se permite QUASE tudo e nesse conjunto de “quase”, vale inclusive, homem se vestir de mulher para fazer amor com a esposa ou ainda, ser torturado; isso se chama FETICHE.

O que chamamos em português de “fetiche”, descende do latim “facticius” ou simplesmente, fictício, artificial; lá no passado, era atribuído a objetos dos mágicos e bruxos; em Portugal, há cinco séculos, documentos atribuíam o verbete como sendo utilizados para os objetos da religiosidade africana; mas o sentido que conhecemos até hoje vem do francês “fétiche” e tornou-se conhecido através do erudito francês Charles Brosses.

A psicologia atribui o fetiche como sendo uma parafilia. O objeto de fetiche é a representação simbólica de penetração, tem conotação sexual, é um objeto parcial e não representa quem está por trás do objeto. Os fetiches mais comuns na sociedade ocidental são os pés (no Brasil, a adoração por pés recebe um nome especial: podolatria), os sapatos e a roupa íntima. Os objetos usados na prática do sadomasoquismo também são fetiches comuns.

Dependendo da conotação de aplicação da palavra, o fetiche está relacionado à coisa sexual incomum aos moldes antigos e modernos, mas para os praticantes de algumas modalidades, isso foi e é prosaico, não pertencendo a nenhuma classe considerada como uma anomalia.

Na atualidade a internet é a grande responsável pela difusão fetichista; o fetichismo sexual em sexologia e psiquiatria tem um sentido mais restrito, pois, segundo os sexólogos, seria a excitabilidade patológica em relação a partes do corpo ou a artefatos, bem como a tendência a torná-los os objetos principais de seu impulso sexual. Alguns sexólogos utilizam dois termos para designar as formas de fetichismo: PARCIALISMO (o objeto de interesse é alguma parte do corpo do parceiro) e FETICHISMO SEXUAL propriamente dito (o interesse é dirigido para substâncias, artefatos ou objetos naturais inanimados). Convém lembrar que esse é um comportamento exclusivamente masculino, porém podemos encontrá-lo em algumas mulheres.

Alguns sexólogos afirmam que existe um fetichismo a algumas características do objeto sexual; dessa forma, haveria fetichismo por amputação, deformação, mutilação e por pessoas portadoras de síndrome de Down. Não existem explicações para as causas do fetichismo, porém, alguns psicanalistas dizem que, na fase em que o homem é acometido por temores de castração (ao descobrir que existem seres humanos sem pênis, isto é, as meninas e mulheres em geral), passa a ver em certas peças de indumentárias femininas ou em outros objetos o pênis feminino perdido.

Mesmo depois que aprende a reconhecer a realidade genital das mulheres, inconscientemente o fetichista continua a identificar o fetiche com a sexualidade feminina e a dirigir a ele seu impulso sexual.

Uma segunda teoria diz que o fetichismo ocorre por termos de condicionamento, isto é, o indivíduo se torna um fetichista após a experiência sexual intensamente associada, mais de uma vez, a determinado objeto ou a partes do corpo. Ainda convém lembrar, que uma terceira teoria explica que o fetiche assume significado sexual por “imprinting”, processo pelo qual o objeto imediato de satisfação de um impulso em suas primeiras manifestações é gravado na memória como "objeto natural" desse impulso. Contudo, convém lembrar que como diversas áreas obscuras da sexualidade humana, também o fetichismo requer muito mais pesquisas para ser compreendido. Dessa forma, entendemos que nenhuma dessas teorias ainda é capaz de explicar a causa do fetichismo no sexo masculino, muito menos, no sexo feminino.

Nunca na história se viu tantas vitrines que explorem este tipo de “consumo”; os SEX SHOP já estão presentes em quase todas as cidades, independentemente de seu tamanho. Antes, este tipo de comércio era quase invisível, restrito apenas as páginas das revistas conhecidas como masculinas; uma ou outra cidade como São Paulo e Rio de Janeiro, se arriscava em expor o comércio de artigos sexuais, mas hoje, tudo é diferente; se vende algema neste tipo de loja, como se vende doces na esquina; os objetos fálicos de silicone são tão comuns na vida dos casais modernos do que os filmes e revistas que imperavam no passado; isso é fetiche!

Jamais se deve associar o fetichismo com as abstrações sexuais dos seres humanos; querer ter várias mulheres no mesmo quarto, ou vários homens; desejar conhecer o ato sexual com estranhos, no sentido da traição, ou ainda ter a naturalidade de querer escolher pessoas mais velhas ou mais novas, não pode ser considerado fetiche, segundo a psiquiatria moderna. Uma das situações mais comuns nos tempos modernos, dentre tantas, é do homem querer vestir-se como mulher, apenas para o ato sexual convencional, ou seja: ele é casado e só possui relação sexual com sua esposa, ainda assim, quando está com ela, enseja vestir meias de seda, calcinhas e cintas-liga; pretender ser amordaçado, espancado ou algemado, também é um fetiche e como citei antes, para alguns é muito comum e simples, da mesma forma que para muitos é considerada como uma situação monstruosa, indiscutível.

Há de se observar também que alguns casos específicos como o sexo forçado ou o desejo de fazer sexo com crianças, em hipótese alguma será considerado como um fetiche; tais situações são tidas como distúrbios mentais gravíssimos; e em todos os casos, primeiro se discute a tipificação penal, ou seja: é crime e deve ser duramente combatido e denunciado; é inaceitável, socialmente falando, na maioria das nações, que homens e mulheres procedam como pedófilos ou estupradores.

Inúmeras pessoas trocam de parceiros (se separam) somente porque ele (a) não aceita esta condição de vida. O parceiro que não aceita o fato do outro possuir desejos sexuais anormais, tratam os casos como sendo um problema de saúde mental (em primeiro grau) e a depender das conseqüências que esta relação continuada pode gerar, pode-se atribuir também a delinqüência.

Sendo uma parafilia para os psiquiatras, a libido traduzida em sexo normalmente sem cópula e sim com objetos, merece ainda muito mais estudo por parte da ciência e muito mais compreensão por parte da sociedade; embora muito raro mas alguns casos se tornam públicos; isso pode gerar grandes distúrbios sociais, afetando diretamente a convivência em grupo; os homens são considerados como pornográficos e dependendo do caso, até podem ser considerados como monstros e podem ficar marcados pelo resto de suas vidas.

Correto mesmo é que os verdadeiros fetichistas, os que a ciência pode presumir alguma explicação plausível, jamais se comportam como caçadores de seus desejos; eles costumam organizar suas vidas sexuais em silêncio e somente com seus parceiros; os que fogem a esta regra, podem sim ser considerados como doentes ou ainda, criminosos.

Tabu ou não o fetiche na vida moderna é comum e já ganhou adeptos de todas as classes sociais, idades, raças e credos, portanto, sendo ou não uma anomalia patológica, pode até ser benéfico na vida das pessoas, desde que não agrida a segunda pessoa.

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

Site do autor: www.irregular.com.br