Oba, oba, oba, Obama!

Oba, oba, oba, Obama!

Mudinho era de pouca conversa, na verdade nenhuma! Mas leitor de todas as revistas e jornais da banca de Seu Natalino, com tudo muito cuidadoso. Sempre devolvia ao monte a edição perfeita, sem amassados ou rasuras, onde ficaria até aparecer um leitor que pudesse pagar e levar em definitivo! Negro e sempre sorridente sabia conviver com as adversidades, e com o racismo também. Quando alguém o chamava de preto ele não respondia, até por que sendo surdo não aprendera falar. Era um sujeito feliz, podia viver em uma cidade grande sem ter estres com as buzinas e sons automotivos. Não fugia de tiroteios, porque nem sabia que estava na mira de uma bala perdida. Era um abençoado por Deus.

Lia como ninguém, diferente de todos entendia o que estava escrito vendo as fotos. E de tanto ver a foto de Barac Hussein Obama ao lado de uma bandeira com as cores da Bahia, mas toda em riscos e estreladas, desconfiou que fosse um candidato a alguma coisa. Depois de muitas revistas folheadas e fotos lidas descobriu que era a presidente e não a vereador como pensava até aquele momento. “Presidente dos Estados Unidos! Lá presidente não é como presidente do Brasil não, lá tem Casa Branca, sabe de tudo, o nariz é pequeno, o avião não faz pouso de emergência, e o Lula de Lá não fica vermelho como o daqui”. Dava asas à imaginação enquanto que, pela afinidade de raça, passou a torcer para que um negro fosse eleito o presidente americano.

Lembrando Juruna da época de parlamentar, que imaginava ser para lamentar, não abandonava um gravador, no qual paradoxalmente gravava conversas e bate-papos de terceiros, para que ao encontrar um tradutor, ou tradutora, de Linguagem de Libras pudesse então se meter na conversa alheia. Curiosidade não lhe faltava e vivia perguntado, por sinais, se Obama já havia sido eleito, sem entender que na América do Norte candidato á muitos discursos e poucas bolsas. Talvez nenhuma! Enfim Obama foi eleito, mas Mudinho não viu tantos coloridos fogos no céu como viu na eleição de Kassab em São Paulo, e assim só foi saber que seu candidato já fora eleito, dois dias já havia passados!

E qual não foi à surpresa de todos ao ouvirem uma voz, que vinha do gravador escondido por baixo da camisa Mudinho, e em alto de bom som repetia “Oba, oba, oba, Obama!”, enquanto o mesmo com sua mão esfregava a pele como se falasse “Também e negro”. E poucos o viram tão sorridente e “falador”, pois no intervalo da gravação era “Ohohohohoho”, barulho igual a todos que são privados da audição, e não falam por que não aprenderam a fazer. Mas não só nosso personagem, mas muitas vozes se juntaram ao gravador e uma multidão no mundo livre repetia “Oba, oba, oba, Obama!”

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Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal impresso Vanguarda, Guanambi – Bahia, de pela branca, mas feliz com a eleição do primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América, o que nos mostra que o Mundo é de todos, e todos tem igual oportunidade!