Tudo muito estranho...

TRRAK,TRRAK,TRRAK.

Ô barulhinho esquisito!...

Permaneço atrás da cortina, janela entre aberta, só para escutar o seu andar,o som que me intriga, é de um cano puxado pelo dono um catador de papéis.

O vulto passa no meio da rua, sem o asfalto, fazendo tilintar mais ainda o cano entre as pedras , as caixas recolhidas e amarradas nos ombros ,batiam dando forma aquela orquestra.

Vou para a cozinha, ponho um copo de leite no micro ondas, abro armário pego biscoitos ,ainda fechado o pacote.

Dou um suspiro, olho o relógio duas da madrugada, acerto o rádio-relógio para despertar, escolho a música que quero acordar.

Meu chinelo de borracha apega-se ao chão, a faxineira viera hoje dar conta da poeira que se acumula toda semana e deve ter se enganado no produto que aplicou no piso, eu andava o sonzinho de desentupidor de pia me acompanhava.

Sento na cama, o colchão desinfla e o barulhinho que é até engraçado de um apitinho orquestrado nos lados do colchão. , digamos , um coral de assovios.

Deitado, ameaço fechar os olhos, mas já são duas e quarenta e o vizinho do prédio em frente chegou, seu carro muito calmamente vai avançando com pequenas manobras para estacionar bem em frente a janela do seu quarto.

Nem o sono que me pesa os olhos deixa meus ouvidos menos crítico, alguns barulhos, deixam um lastro, pequeno, outros entram nos sonhos e na manhã seguinte seguem o dia todo como sombra sendo até reconhecidos.

Os tais sons,são gravados e levados para reconhecimento público, poucos são os que não reconhecem, eu de pronto não reconheci. Era meu primeiro mês morando sozinho.A mulher da minha vida, que filtrava todos os sons que eu ouvia já por 30 anos , partiu. Na viagem empreendida por ela não há permissão para acompanhantes,mesmo que fosse o filtro auditivo de alguém.

O país para onde se mudou,presumimos que as harpas e os clarins são os sons permitidos,mas sei que o que ela almejava mesmo , era fazer parte do Coral, que entoaria louvores eternos ao Senhor de sua vida.

O que nesse lapso não reconhecia de tanto buscar uma solução para o silêncio almejado, dou-me conta que esses sons, são o barulho da solidão.

Conseguimos ouvir o pingar do chuveiro do banheiro do vizinho, mas os aromas não são tão percebidos assim, mas os barulhinhos fazem a festa dos neurônios.

Sigo nesse reconhecimento, meio surdo porque a poluição sonora me atingiu.

E aí, qual o barulho da hora?

O meu é entender os barulhinhos...

Mas sem filtro ta difícil.