Animais e natureza humana nos albores de 2009

Fomos – a família – ao jóquei, onde temos uma égua para prática de hipismo. Miss Mirella está de férias, conversamos com o tratador, soltamos o animal da baia para tomar sol e escoicear o vento. O cavalo é o mais bonito dos animais, daí a inveja humana e a criação mitológica do centauro.

Dali saímos com um casal de amigos que a filha também pratica hipismo para ir comer uma moqueca de cação no restaurante Kafua do Lino, em Ponta da Fruta, Vila Velha – Espírito Santo. As meninas preferiram moqueca de camarão. Cação é mais leve, mas acabamos comendo camarão também.

Antes de sairmos seu Lino nos mostrou sua calopsita, o pássaro cantava sob regência do maestro as primeiras estrofes do hino nacional e num segundo momento do hino do Botafogo de Futebol e Regatas. Lembrei que meu time o Vasco está na segunda divisão, fiquei emocionado.

Desde novembro não parava de chover por aqui. Sempre é bem vindo um dia de sol depois do temporal. A bonança nos faz ficarmos bonachões, rirmos. Pássaros vinham comer frutas que seu Lino por hábito põe na amurada de madeira do segundo andar do seu comércio, os bem-te-vis comiam mamão e nós que os olhávamos.

Na volta para Vitória, depois de atravessarmos a terceira ponte, tem um sinal onde um menino fazia acrobacias com duas bolas. Abri a janela para dar R$2, 00, no exato momento em que o sinal abriu e o menino pegou a nota, o dono do carro que vinha atrás buzinou irritado; a rua estava vazia, deu ré e me ultrapassou com mau humor, estava sozinho no carro, devia estar tendo um infarto e com pressa para ir para o hospital.

Isso tudo ocorreu na sexta-feira, ponto facultativo na minha repartição.

No sábado fomos ao casamento da Carmina, ela é otorrinolaringologista. Tem 37 anos. Um bolo, canapés e champanhe. O casamento de Carmina foi só no civil. O pai não foi, pois tem 10 dobermanns em casa e precisava ficar em casa para cuidar dos cães. D. Áurea, a mãe compareceu; já não se ata mais às manias do marido. Seu Antônio tem em seu jardim um mausoléu para todos os cães já falecidos que viveram sob seus cuidados.

Antes de sair do salão de festas com os meus para voltar para casa, fui ao banheiro. Aos primeiros jatos de micção uma cigarra começou a debater-se contra o teto do toalete. Permaneci até que ela cansasse e pousasse sobre a lata de lixo, daquelas de plástico que têm a tampa em forma de telhado. Ela repousava sobre a beira, podia cair dentro da lata de lixo e aí não sei se conseguiria liberta-la. Mas, rápido, capturei-a pelas asas e levei-a ao ar livre onde debandou em vôo para efetuar seu canto sazonal.

Voltei ao banheiro, lavei as mãos purificadas pelo gesto. Apertei a mão sorridente do recém casado, abracei e beijei minha amiga e dileta colega de profissão.

Depois das chuvas, a cigarra. Nenhuma formigo no pedaço. Às vezes a realidade parece uma fábula.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 04/01/2009
Reeditado em 10/01/2010
Código do texto: T1367109
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