Sim foi ela, a fina flor mais luxuosa dentre todos os ramalhete cobiçados, a qual minha humilde fantasia, sequer havia lhe oferecido tempo e espaço entre os meus profanos devaneios. Chegou em silêncio, aflita pela desilusão, ora querendo abrigo, ora a impaciência do tempo perdido.

Levitando como brumas ao vento naquela praia deserta, ela rodopiou até onde pode e me avistou para seguir a sua tênue superstição, que um mero agricultor de relvas poderia alimentá-la de sonhos reencarnados...

Agindo como num mar revolto a espera de calmaria, paciência e doses de vinho como posologia, para esperar a cura que lhe chegou com a verborragia acertada de meus lábios acostados em sua nuca.

Quando do seu desequilíbrio consciente, parte da traje jazia-se fora do lânguido corpo, dando lugar aos dois acervos eriçados, que latejavam e alimentavam minhas papilas gustativas, naquele momento, tão acostumadas a acidez de seu suor, o amargo da sua destemperança, o salgado do seu rancor, mas que deu campo ao doce da sua intimidade...

Como se aquilo tudo fosse pouco, bastou o desabrochar daquelas pétalas, que perfumaram o meu olfato e enrijeceram o tronco da minha mais profunda libido, revelando-se na altura dos meus olhos, como vulcão expelido o depuro de sua magma.

Se algum dia eu sonhei com aquele tórrido andamento, declaro que olvidei, e também confesso que nessa minha época, posso não suportar tamanho afronta aos limites da minha continência pervertida, só podendo suporta-la se em doses homeopáticas...

E quando a nossa galé já mantinha-se em sensatez no horizonte dos impulsos, a fina flor roga por três talentos de ouro, que podem não custar nada para um cultivador sábio: acalanto, cautela e volúpia, o máximo de volúpia que uma flor pede para se manter aberta, formosa, aromática, charmosa...

E eu pude sentir quando todo o seu volume fragilizado entrou em hipnose, após o toque do meu paladar na base de seu íntimo, provando em mim a ineficácia momentânea do seu purgado veneno, o veneno mais doce e mais viciante que eu já pude provar em cada uma das suas bocas; me enganando por saber que eu tinha o antídoto, mas até hoje não encontrei a cura!

Um combate de um dia inteiro com três atos completos, mil imagens, cem mil ilusões e um milhão de pensamentos expedindo o empate de emoções que sagrou-nos vencedores de uma epopeia sigilosa, entre a fina flor desejada e o cultivador de relvas; e muito sigilosamente, ainda hoje quando a flor se revela ao sol, me faz ver brilhar uma estrela, após milhares de outras que surgiram diante de nossos olhos...!

As pétalas daquela fina flor levaram-me dois tipos de venenos, e ambos fazem bem, assim como, ambos poderiam me matar. Sobreviver não é uma questão de sorte, é uma questão de saber como cultivar...
 
CH@MP Brasil
01 de novembro de 2019, Las Vegas, Nevada
 
CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 17/01/2009
Reeditado em 01/11/2019
Código do texto: T1389634
Classificação de conteúdo: seguro