EU/NÓS/LIVROS

Com a proximidade dos meus dias de aposentadoria

"garrei" a levar meus livros para a Biblioteca da casa na praia, onde

pretendo também escrever por um bom tempo.

Estando ainda na faina do dia a dia, vou levando aos

poucos os meus amigos mais íntimos em caixas no carro. Da última

vez, na sexta-feira, volta do almoço, sol abrasivo, rumando ao

trabalho, deixei a "potranca" estacionada numa sombra costumeira,

evitando o calor do sol na Turma que iria comigo serra abaixo.

Desci, acionei o alarme e andei... Olho então para

trás e vejo como que uma fumacinha nos vidros do carro. Achei

estranho e voltei. Ouvi vozes baixinhas (quase um ciciar !). Mais

perto, no vidro ! Reconheci. Dois velhos amigos confabulando.

Érico e Quintana. Uma frase com a ironia do Mário. O pai do

Capitão Rodrigo responde no mesmo diapasão. A especialidade

deles...!

Meu peito batia mais forte. Entusiasmo ?

Alumbração ? Surpresa ? Fiquei ofegante... Tremi.

Das duas vozes passou a um vozerio.

Havia indagações e preocupações. Reclamos. Até

risadas. Dois minutos pareciam um século. E era realmente o que

havia ali dentro - um século de idéias incrustradas em palavras

nos livros.

Foi então que ouvi um pequeno diálogo:

- Estamos há tanto tempo metidos dentro destes

livros... onde vão nos levar ? - indaga Bandeira, o Manuel.

- Para o inferno, penso eu - diz Quintana.

- Conversa, vamos para o paraíso, intercepta o

escriba que cobriu o Incidente em Antares.

De fato, este último tinha razão. Ao final da tarde

nos bandeamos para o litoral (o paraíso... será ?), onde outras

estantes (novinhas !) aguardavam a Turma da Confraria dos

Iluminados que despejam luz em porciúnculas com seus

pensamentos, seus sentimentos, suas convicções, por séculos e

séculos afora.

Seguimos juntos, meus caros livros. Livres. Para

o gáudio e a emoção deste escriba das arábias.

23 NOV 2007