Entre Maysa
                   
e o Big Brother

       
Uma vez pedi a Santa Clara de Assis que desse um jeito na televisão do Brasil. Tinha acabado de assistir um daqueles programas que provoca náusea e urticária no acuado telespectador brasileiro.
        Mas não tive o que escolher, naquele quase fim de noite, e depois de um dia estafante.
        Sim, porque me envolvera numa pesquisa que, no primeiro momento, se afigurara inadiável, posto que imprescindível.
        E para realizá-la a contento, tive até que enfrentar, sem a proteção devida ou pelo menos aconselhável, a poeira que vazava dos livros consultados.
        Vários desses livros, meu dileto leitor, há mais de um anos não os via. Embora largando os pedaços, de tanto serem visitados, os adoro.
        Mas por que Santa Clara?
        Para os que ainda não sabem, desde 1958 a santa franciscana Clara de Assis é a padroeira da televisão. Ganhou esse título do Papa Pio XII.
        A propósito, tempos atrás, escrevi protestando contra um concurso nacional intitulado Troféu Santa Clara, através do qual a mídia especializada premiava os piores - os piores? - da televisão.
        Defendi, com letras fortes e inapagáveis, que a Palma devia ser entregue não aos piores, mas aos me-lho-res da TV. 
        Clamei no deserto. O concurso prosseguiu, e eu continuo a xingá-lo.

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        Mas me digam: por que o título Entre Maysa e o Big Brother? Súbito alguém vai querer saber o que a minissérie, que acabou, tem a ver com o BBB, que está começando.
        Vejam bem. Levando-se em consideração o "enredo" e o "conteúdo" dos dois programas, nada, absolutamente nada. É o "obvio ululante", diria o Nelson Rodrigues.
        Justifica esta crônica, exclusivamente, a vontade do cronista de escrever sobre os dois quadros.

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        Sobre o Big Brother. 
        Ouça-se a chamada classe "A", e a maioria dos seus integrantes não hesitará em baixar o porrete no BBBrasil.
        Contempla-o, impiedosamente, como um dos piores programas da televisão pátria, senão o pior.
        Estão eles falando a verdade? Mentindo? Blefando? Ou são  falsos moralista?
         Uma verdade rútila é a de que um razoável Ibope garante o BBB, desde o primeiro momento em que o programa entra no ar até o seu final. E quem constrói o Ibope é o telespectador.
        Ora, não sejamos hipócritas. Até o mais contrito dos congregados mariano dá uma espiadinha... e eu não  os condeno por essas espiadinhas. Eu, hein?
        De repente sou flagrado entre os milhares de brasileiros que preferem, eles, os varões,  ver as pernas e coxas torneadas e provocantes das brothers; e elas, as mancebas, o  físico avantajado da maioria dos brothers,  a suportar a cara cínica de políticos calhordas e adninistradores trapalhões.
        Acusar os brothers de intelectualmente fracos, de despreparados, até concordo. Absolvo-os, entretanto, quando me dou conta de que muitas de nossas maiores autoridades nem pelo falecido Mobral passaram.
        Devo encerrar estas consideraões, pois, logo um engraçadinho aparece e diz: " Este sujeito é um defensor intransigente do BBB". Quando, na realidade, o que pretendo dizer é que esse reality show não é, a rigor, "a pior coisas que a televisão oferece", como disse, alhures, um comentarista de rádio e TV.  Tem coisa muito pior.

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        Agora, que dizer de Maysa, a minissérie?
        Continuar aplaudindo uma mulher que foi ao mesmo tempo braba e terna. Por que ela era assim?
         Disse-o muito bem um de seus biógrafos: "A complexidade de sua personalidade intensa e autodestrutiva, os abismos existenciais de sua alma, tudo isso foi transfigurado em queixumes e rompantes de uma rebelde sem causa, traumatizada pela separação do marido."
         Maysa só amou, pra valer, o André Matarazzo.
        Os outros homens, inclusive o Ronaldo Bôscoli, foram meros figurantes  na vida da envolvente cantora de Meu mundo caiu e Ouça.
        Nenhum deles foi dono do seu coração. E acho que nem de sua cama, nos repetidos momentos de intenso sexo que ela, mais do que ninguém, parecia cultuar como uma deusa.
        Critiquem como quiserem a minissérie do Maneco e do Jayme Monjardim, mas dela uma coisa restou marcante: o retorno da música de fossa cantada, entre uma tragada e um uísque, por uma das melhores cantoras do Brasil, Maysa, a "cantora de olhos felinos e alma atormentada", como disse o jornalista Lira Neto.
        E foi assim que a vi num dos clubes de Salvador.
        A minissérie Maysa - Quando Fala o Coração - vou dizer, e me não contestem: trouxe de volta a saudade... 

         

       
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 18/01/2009
Reeditado em 24/08/2009
Código do texto: T1391773